Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tentou negar o óbvio e disse que “não houve nenhuma medida de desmonte ambiental, flexibilização” no atual governo.
Na tentativa de esconder a destruição do aparato de proteção ao meio ambiente, Salles acusou os governos anteriores, alegando que tinham uma “mentalidade sindicalista” que “arrebentou nosso país”.
Durante um almoço do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), o ministro afirmou que “tivemos governos anteriores que incharam a máquina pública, contrataram políticas públicas, uma serie de despesas, sem preocupação com meritocracia e metas”.
“Essa mentalidade sindicalista arrebentou nosso país”.
As declarações de Salles reincidiram em ataques aos órgãos ambientais, desrespeitando recomendações do Ministério Público Federal (MPF). Em documento de 4 de agosto, o MPF recomendou que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) se abstenha de declarações públicas que, “sem comprovação, causem deslegitimação do trabalho do corpo de servidores do Ibama e do ICMBio”. O documento pede ainda pelo fortalecimento dos quadros do Ibama e do ICMBio, pedindo a realização de concurso para o Ibama em 30 dias devido ao esvaziamento no quadro de servidores do órgão.
Para Salles, assim como para Bolsonaro, o Brasil não consegue preservar suas matas porque tem leis ambientais demais, impedindo com que algumas atividades, tal como a mineração, sejam praticadas em áreas como a Amazônia.
Desde que Ricardo Salles assumiu o ministério, uma crise ambiental se instalou no país. No começo de agosto, Salles e Bolsonaro decidiram exonerar o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, por ter divulgado dados que apontavam o aumento das queimadas na região amazônica.
Em agosto foram registrados 31 mil focos de incêndio na Amazônia, superando os números que vinham sendo registrados no mês desde 2010.
De janeiro a agosto, o número de focos de incêndio identificados em 2019 na Amazônia, 46.825, foi 111% superior ao mesmo período de 2018, com 22.165 focos, de acordo com os dados obtidos por satélites do Inpe.
Salles, porém, negou que a demissão de Galvão e a postura de Bolsonaro, que negou os números e acusou Ricardo Galvão de estar a serviço de ONGs internacionais, tenham interferido no aumento das queimadas.
“Não é verdade que [o governo] foi condescendente a atos criminosos na área ambiental”. “Não houve nenhuma medida de desmonte ambiental, flexibilização. O Brasil segue fazendo todas as medidas de cuidado de antes”.
Em sua avaliação, há uma “agenda contra a imagem do agronegócio brasileiro no exterior. É absolutamente irrealista. Os fatos não sustentam essas versões”.
Em vez de limitar e fiscalizar, Bolsonaro propõe que haja mineração livremente dentro de terras indígenas. Segundo ele, por isso, indicou seu filho Eduardo Bolsonaro para a embaixada nos Estados Unidos, onde deverá buscar recursos para a exploração.
“Terra riquíssima [reserva indígena Ianomâmi]. Se junta com a Raposa Serra do Sol, é um absurdo o que temos de minerais ali. Estou procurando o ‘primeiro mundo’ para explorar essas áreas em parceria e agregando valor. Por isso, a minha aproximação com os Estados Unidos. Por isso, eu quero uma pessoa de confiança minha na embaixada dos EUA”, afirmou.
ENTIDADES
Na semana passada, representantes de servidores ambientais federais entregaram uma carta ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mostrando o desmonte da política ambiental e com propostas para a solução da crise ambiental por qual passa o país.
“O aumento vertiginoso dos desmatamentos e das queimadas em 2019 é a face mais visível dessa crise que o país atravessa e que, no caso específico da Amazônia, é reflexo da escassez histórica de investimentos do Estado e de políticas de desenvolvimento efetivas e sustentáveis. Essa situação veio se deteriorando gradativamente nos últimos anos, mas infelizmente foi agravada em 2019 pelo discurso governamental hostil aos órgãos e políticas ambientais, culminando, com o cenário que vivenciamos hoje”, aponta a carta, assinada pela Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional).
“O que diferencia esta crise de outras anteriores é o desmonte, por ação ou omissão dos atuais gestores, da política ambiental, dirigentes que não têm, em geral, experiência e capacitação para ocuparem os cargos”, alertam.
“Não foram apresentadas, por parte deles, propostas para redirecionar ou aperfeiçoar a política socioambiental, apenas discursos para destruir e desfazer tudo que foi construído nas últimas quatro ou cinco décadas”, continuam na carta os técnicos ambientais.
Estão representados no documento, os servidores do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente e do Serviço Florestal Brasileiro.
A carta faz várias propostas para solucionar a crise ambiental do país, entre elas, pede a troca do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, “por um novo titular que compreenda a importância e a dimensão da pasta, defenda a política socioambiental e não tenha sido condenado por improbidade administrativa”.