General Leal Pujol disse que o Exército não é 'instituição do governo' | Reprodução Youtube

O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, deu uma declaração na quinta-feira (12) na qual buscou delimitar seu distanciamento da ala militar do governo Jair Bolsonaro.
“Não queremos fazer parte da política, muito menos deixar ela entrar nos quartéis”, afirmou durante uma live do IREE (Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa) Defesa e Segurança.

“Não somos instituição de governo, não temos partido. Nosso partido é o Brasil. Independente de mudanças ou permanências em determinado governo por um período longo, as Forças Armadas cuidam do país, da nação. Elas são instituições de Estado, permanentes. Não mudamos a cada quatro anos a nossa maneira de pensar e como cumprir nossas missões”, afirmou Pujol no seminário.

A declaração foi dada a um questionamento do ex-ministro da Defesa na gestão Michel Temer (MDB), Raul Jungmann, presidente-executivo do instituto, sobre o papel dos militares na política, tema que acompanha o governo Bolsonaro desde a campanha eleitoral. A conversa foi mediada também pelo general da reserva Sérgio Etchegoyen, presidente do conselho do instituto e ex-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) também no governo Temer.

A irritação se acentuou com a declaração dada durante um evento no Palácio do Planalto, em que o presidente se referiu a um “grande candidato a chefia de Estado” que disse que poderia “levantar barreiras comerciais contra o Brasil” por conta de incêndios na Amazônia. Bolsonaro, inconformado com a derrota de Donald Trump, fez ameaças a Joe Biden, candidato vitorioso nas eleições americanas.

“E como é que podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, não é, Ernesto [Araújo, ministro das Relações Exteriores]? Quando acaba a saliva, tem que ter pólvora, senão, não funciona. Não precisa nem usar pólvora, mas tem que saber que tem. Esse é o mundo. Ninguém tem o que nós temos”, declarou Bolsonaro no evento no Planalto.

A fala de Bolsonaro gerou uma enxurrada de críticas de todos os lados. Os generais resolveram também se pronunciar num momento em que Bolsonaro está estremecido, novamente, com seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, devido a divergências na política ambiental.

Na gestão do capitão reformado do Exército, 9 dos 23 ministros são de origem fardada. Pujol não criticou os colegas que estão no governo, mas ressaltou que “se for para chamar [um militar para o governo], é decisão do Executivo”. Ele citou o exemplo do Supremo Tribunal Federal que requisita desde 2018 um general para assessorar seu presidente.

Outros dois militares decidiram ir para o ataque em conjunto nas redes sociais contra o que chamam de “show” do presidente Jair Bolsonaro. Sem nominá-lo, os generais Santos Cruz e Paulo Chagas classificam Bolsonaro de “arrogante” e “fanfarrão”. “Cansado de Show”, diz o general Santos Cruz. Segundo ele, “o Brasil não é um país de maricas. É tolerante demais com a desigualdade social, a corrupção, os privilégios”. Para ele, a população “votou por equilíbrio e união”. Precisa, portanto, “de seriedade e não de show, espetáculo, embuste, fanfarronice e desrespeito”.

O general Paulo Chagas, por sua vez, afirmou em sua mensagem que há muito deixou “de dar atenção a pronunciamentos de fanfarrões, às suas ameaças absurdas e à exposição do seu despreparo e falta de maturidade”. No entender do general, “cabe-nos convidá-los a deixar a retórica dos discursos sem lógica e vir para o octógono da realidade provar o escopo da sua arrogância”.

As mensagens dos dois generais foram disparadas com diferença de pouco mais de meia hora cada uma. A ação veio depois de um acerto entre militares descontentes com o presidente, que ameaçou demitir o autor da proposta de expropriar propriedades rurais e urbanas daqueles que tenham cometido crimes ambientais.