Com o governo de Duque contra o Acordo de Paz, morticínio de líderes sociais e sem-teto segue impune.

Homens armados assassinaram na última sexta-feira (14) três pessoas no departamento de Cauca, no sudoeste da Colômbia. Este é o sexto massacre ocorrido no país sul-americano em apenas duas semanas, informou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz). Ao longo de todo o ano passado foram 96 massacres, ressaltou.

Conforme a Organização não governamental (ONG), dois dos assassinatos aconteceram na sede municipal de Miranda. Uma das vítimas é um homem identificado como Neider Andrés Collazos Gutiérrez, de 21 anos, enquanto a outra é uma mulher que ainda não foi identificada, informou a ONG.

Outro homem foi executado na aldeia de Guatemala, entre o município de Miranda e Corinto. “As três pessoas mortas eram aparentemente sem-teto, no que seria um plano de ‘limpeza social’”, condenou o Indepaz.

A Ouvidoria alertou que, desde 2019, as mal denominadas “limpezas sociais” proliferaram no município de Miranda, e o risco para as comunidades rurais aumentou devido à presença de milicianos armados no território.

O Indepaz divulgou que no município de Buenos Aires, em Cauca, foi registrado o assassinato do primeiro líder social colombiano neste ano, Guilhermo Chicana, e o de número 1.287, desde a assinatura do Acordo de Paz, em setembro de 2016. Os milicianos invadiram a reserva indígena Las Delicias e agrediram o grupo de guardas nativos – do qual Chicana era integrante – enquanto realizava seu trabalho de controle territorial. Também feriram a Fabián Camayo, atual coordenador da reserva.

Pelo menos 78 defensores de direitos humanos foram assassinados na Colômbia em 2021, número que pode aumentar se outros 39 casos ainda sob investigação forem confirmados, apontou o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh).

A agência recebeu 202 denúncias de assassinatos de defensores de direitos humanos no país ao longo do ano passado, dos quais 85 foram inconclusivos.

A Colômbia vive um conflito armado de quase seis décadas que deixou cerca de 260 mil mortos e milhões de deslocados do qual participam gangues criminosas com forte presença de narcotraficantes, esquadrões paramilitares de direita e das forças armadas do Estado.

Para o presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) e líder do Comitê Nacional de Paralisação (CNP), Francisco Maltés, que liderou a revolta de 2019 e os protestos de 2021 contra o governo de Iván Duque, o clima de tensão deve se acirrar este ano com o medo dos grupos beneficiados com a política de terrorismo de Estado de serem afastados do poder.

Afinal, recordou Maltés, as eleições presidenciais ocorrerão em 29 de maio e há uma candidatura extremamente forte, que é a de Gustavo Petro, do Pacto Histórico. “Petro tem uma proposta enfática de combate ao paramilitarismo, que segue muito forte em nosso país. Já são mais de 300 signatários do Acordo de Paz de 2016 assassinados e se multiplicam os massacres e ameaças”.

De acordo com o dirigente popular, “o governo de Duque fez vários esforços para boicotar o Acordo, como negar recursos às instituições que nasceram dele, como a Jurisdição Especial para a Paz. E não faz nada sobre o assassinato de ex-combatentes”, acrescentou.