Incêndio nos depósitos de petróleo de Matanzas

Com ajuda do México e da Venezuela, bombeiros, especialistas e militares cubanos lutam desde a noite de sexta-feira (5) para debelar o incêndio no terminal de superpetroleiros de Matanzas, que irrompeu durante uma forte tempestade, em que um relâmpago atingiu a cúpula do primeiro tanque, com 25 mil litros, dando origem ao sinistro, que depois se estendeu aos três tanques vizinhos cheios, em meio a elevadas temperaturas, explosões e espessa fumaça negra. O incêndio forçou o desligamento da usina termelétrica Antonio Guiteras, de 220 MW, que fica próxima.

Trata-se da principal instalação de descarga e armazenamento de petróleo de Cuba, que está localizada no cinturão industrial da capital da província, uma cidade portuária de 140 mil habitantes, a 100 km de Havana. Do mundo inteiro, chegaram mensagens de solidariedade e oferta de ajuda, entre essas, Rússia, China, México, Venezuela, Argentina, Chile, papa Francisco e o secretário-geral da ONU, Guterres.

Como afirmou o jornal Granma, “não há precedentes” na história de Cuba para um incêndio dessa magnitude. O presidente cubano Miguel Díaz-Canel, que prontamente foi a Matanzas, agradeceu às manifestações de solidariedade ao povo cubano, reconheceu que estão sendo “dias tensos de trabalho” e assinalou que “a unidade nos distingue como sociedade”.

As mensagens de solidariedade continuam chegando diariamente, desde governos amigos, como Gana, Zimbábue, Turquia, Coreia Popular, Timor-Leste, Jamaica, República Dominicana e Barbados, até associações de amizade com Cuba que estão espalhadas pelo mundo inteiro, partidos – como o PCdoB (Brasil) –, e as entidades Code Pink e Pastores Pela Paz, dos EUA.

A mensagem chinesa foi assinada pelo presidente Xi Jinping.

17 voos com ajuda

Desde sábado, 17 voos trouxeram especialistas em incêndios de petróleo da Pemex e da PDVSA, bombeiros mexicanos e venezuelanos, equipamentos para controle de grandes incêndios, espuma e bombas de água de grande capacidade.

Um navio de guerra mexicano com helicóptero também se deslocou até o porto de Matanzas para ajudar. O combate ao incêndio vem sendo realizado com aviões e helicópteros, que estão despejando água do mar continuamente.

Segundo a Sputniknews, em consequência do incêndio uma pessoa morreu (um bombeiro de 60 anos) e 15 foram dadas como desaparecidas. Há 125 feridos, a maioria por queimaduras e inalação de fumaça, e 24 seguem hospitalizadas; cinco em estado grave. Quase 5 mil pessoas tiveram de ser evacuadas da zona, de acordo com o governador da província de Matanzas.

Operação complexa

“O terceiro tanque também desabou, depois que o segundo tanque derramou combustível e comprometeu ainda mais a situação ao amanhecer”, disse o governador de Matanzas, Mario Sabines à televisão estatal na terça-feira. O segundo tanque havia explodido no domingo e o primeiro, na noite de sexta-feira para sábado.

Como ele explicou, para extinguir um incêndio nesse tipo de reservatório é preciso primeiro resfriar a estrutura e só depois é que começa a aplicação da espuma no topo do tanque, para sufocar o fogo até que se extinga. “Se a temperatura não for reduzida, é muito difícil porque a substância é diluída, daí a importância de resfriar não só o tanque em chamas, mas também o adjacente.”

Sabines acrescentou que a área de incêndio é “bastante ampla” e o esforço de contenção é “muito complexo”. Ele explicou que os bombeiros “continuam abrindo caminho para as chamas para que as brigadas encarregadas de fornecer a espuma possam avançar no resfriamento do local”.

O governador acrescentou que a fumaça deixa muito pouca visibilidade na área e estão sendo usados drones para agir com maior precisão no combate ao fogo. O processo inclui, ainda, a implementação de barricadas de terra que funcionam como aceiros.

As autoridades de saúde cubanas recomendaram que a população vulnerável de Matanzas use máscara em áreas de concentração de fumaça e evite ficar exposta à chuva nesses locais.

Sanções imorais

Como a Associated Press registrou ao noticiar o enorme incêndio no terminal de armazenamento de petróleo de Matanzas, “o fogo em fúria consome combustível crítico numa ilha que se debate com uma crise energética crescente”.

O que ficou patente com a necessidade de desligar a termelétrica local, quando Cuba já vive sofrendo apagões diários, que estão ocorrendo em última instância por causa das sanções dos EUA contra a Ilha em vigor há décadas e, em particular, pelo fato do governo Biden ter mantido as ainda mais imorais 243 sanções adicionais impostas pelo antecessor Trump. E que, entre outros desmandos, dificultaram ao extremo a compra por Cuba do petróleo usado nas termelétricas.

Diante do impacto que esse incêndio no principal terminal de armazenamento de petróleo de Cuba terá sobre a vida de seu povo, grupos pela paz e entidades progressistas nos EUA estão exigindo do governo Biden que, no mínimo, revogue essas 243 sanções adicionais de Trump, e preste ajuda para a contenção do fogaréu em Matanzas.

“Quando a casa do seu vizinho está queimando, a reação humana normal é correr ao lado para ajudar”, escreveu o People’s Forum, com sede em Nova Iorque, no Twitter, na terça-feira. “Biden pode ajudar Cuba agora mesmo, levantando as sanções e enviando ajuda material”.

“Esta tragédia teve também repercussões imediatas para toda a população daquela província e de toda a ilha, uma vez que afeta o fornecimento de eletricidade e instalações sanitárias que já sofrem sob o peso do bloqueio dos EUA devido à falta de peças sobressalentes e à escassez de medicamentos”, escreveu a página “Deixe Cuba Viver”, que está organizando uma campanha, na sua página nas redes sociais, com links com a Code Pink, Pastores pela Paz, Parceiros Globais da Saúde, e Projeto Hatuey (um grupo de solidariedade cubana).

“Os Estados Unidos não perde nada por ser um bom vizinho e levantar as 243 sanções que impedem Cuba de se recuperar plenamente deste momento trágico. O governo Biden pode fazer mais do que apenas oferecer conselhos técnicos. Pode retirar imediatamente Cuba da Lista de Patrocinadores Estatais do Terrorismo com um golpe de caneta e enviar ajuda material para a ilha”, acrescentaram eles.

No ano passado, o Fórum do Povo patrocinou um anúncio de página inteira no New York Times com uma carta a Biden, assinada por mais de 400 destacados acadêmicos, políticos, clero e ex-chefes de Estado, exortando-o a revogar as 243 sanções impostas pelo seu antecessor, Trump.

No governo de que Biden foi vice, o de Obama, os EUA chegaram a tomar as maiores medidas para normalizar as relações com Cuba, inclusive a reabertura das embaixadas em Washington e Havana. O que foi revertido e piorado por Trump, sob o pretexto do apoio de Cuba à Venezuela, cujo governo Trump pretendia trocar por Juan Gaidó.

A campanha de pressão máxima contra Caracas teve como subproduto impedir que Cuba recebesse petróleo da Venezuela como contrapartida aos milhares de médicos cubanos que ali prestavam assistência médica.

A mais despudorada dessas sanções de Trump é a que acrescentou Cuba à lista de ‘patrocinadores estatais do terrorismo’ do Departamento de Estado norte-americano, usando como pretexto a presença em Cuba de delegação da ELN, que lá estava em busca de uma negociação de paz com Bogotá – que na essência repetia o processo anterior, intermediado por Havana, com as FARC.

Fiel ao seu papel de mediador e por razões de segurança, o governo de Cuba permitiu a continuação da presença dessa delegação, após o governo colombiano lançar um ataque de surpresa às bases do ELN em meio às conversações. Desde 1992, todos os anos as Nações Unidas votam esmagadoramente contra o bloqueio dos EUA a Cuba. Na votação do ano passado, 184 nações votaram contra o bloqueio, e só EUA e Israel votaram a favor.