Mesmo com Lula, juventude deve continuar nas ruas, diz Tiago Morbach
Após quatro anos de implosão das políticas públicas para a juventude sob a gestão Jair Bolsonaro (PL), há muita expectativa dos jovens brasileiros com o terceiro governo Lula, que se inicia no próximo dia 1º de janeiro. “Esperamos que Lula compreenda nosso papel na reconstrução e no desenvolvimento do País”, diz o jornalista gaúcho Tiago Morbach, presidente nacional da UJS (União da Juventude Socialista) e membro do Comitê Central do PCdoB.
Na segunda-feira (14), Tiago foi um dos indicados pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para compor o Grupo de Trabalho (GT) Juventude no Gabinete de Transição. Nomes como o de Bruna Brelaz, da UNE, Sabrina Santos, da Unas (União dos Moradores de Heliópolis), e Marcus Barão, do Conjuve (Conselho Nacional da Juventude), também estarão no GT.
Na visão de Tiago, os governos progressistas de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) tinham “paramentos sólidos” do que são políticas públicas. “A Secretaria Nacional de Juventude era vinculada à Presidência da República e sua atuação era transversal, em sintonia com diversos ministérios. O Conselho e a Conferência Nacional de Juventude funcionavam ‘pra valer’, eram grandes espaços de participação”, lembra.
Com Bolsonaro, que assumiu o Planalto em 2019, a pasta foi sistematicamente rebaixada e se tornou parte do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. “Ou seja, ficamos subordinados à (ex-ministra) Damares Alves. Aquela transversalidade acabou aí”, diz Tiago.
De acordo com ele, “simplesmente, não houve diálogo” entre a gestão bolsonarista e as entidades juvenis e estudantis. “Não é à toa que os jovens se tornaram o principal setor de mobilização nestes anos”, afirma. Como exemplos de grandes protestos liderados pela juventude no período, Tiago cita o “Tsunami da Educação”, em 2019, e os atos pela democracia em 11 de agosto passado, Dia do Estudante.
Além disso, conforme o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o número de brasileiros de 16 e 17 anos aptos a votarem cresceu 51,13% em quatro anos e alcançou um recorde de 2.116.781 de eleitores em 2022. Desse total, nada menos que 2.042.817 tiraram o título de eleitor entre janeiro e abril, em meio às campanhas organizadas por entidades e pelo próprio TSE.
Para Tiago, é preciso que a juventude continue ativa, nas ruas, mesmo com a vitória de Lula nas eleições presidenciais: “Temos muito a batalhar após os retrocessos do governo Bolsonaro e a pandemia de Covid-19”. A seu ver, as áreas prioritárias são a Educação, o Trabalho e a Ciência&Tecnologia.
“Para restabelecer a democracia, o governo Lula tem de buscar o jovem que abandonou a escola na pandemia e trazê-lo de volta à sala de aula. E também tem de combater o subemprego, garantir trabalho digno e renda”, analisa o presidente da UJS, que critica a uberização do mercado de trabalho. “Hoje, os aplicativos (como Uber e iFood) só exploram a mão de obra barata da juventude. O emprego de qualidade é fundamental no combate à fome e à miséria.”
Tiago explica que, na transição, o GT Juventude, assim como os demais 30 GTs, terá um grupo consultivo. “A Jade Beatriz, presidenta da Ubes, por exemplo, estará nesse grupo.” É uma maneira de ampliar e diversificar as contribuições. Um dos primeiros compromissos de Tiago na nova tarefa foi participar, nesta quinta-feira (17), de reunião com Aloizio Mercadante, coordenador dos grupos temáticos da equipe de transição. “Ele nos explicou como será o funcionamento dos 31 GTs.”
Até o final de semana, cada grupo definirá um coordenador-executivo e um relator. É esperado que os GTs entreguem até 30 de novembro um diagnóstico inicial de suas respectivas áreas e um plano de trabalho. Já o relatório final do GT, com informações mais consolidadas para o governo Lula, deve ser apresentado até 11 de dezembro.
No caso da Juventude, algumas sugestões já são consensuais. Segundo Tiago, o GT deve propor que a Secretaria Nacional de Juventude integre novamente a estrutura administrativa da Presidência da República; que as Conferências de Juventude sejam retomadas; e que o Conjuve seja fortalecido. O dirigente da UJS defende, ainda, que o futuro governo “se aproprie das ferramentas digitais” e amplie o diálogo com a população. “O povo precisa ser ouvido.”
“O mundo mudou muito desde que, há 20 anos, Lula se elegeu presidente pela primeira vez. Veja como novos atores de peso, como Felipe Neto e Anitta, jogam papel hoje”, afirma Tiago. “É por isso que devemos ter jovens nomeados em outras pastas – em todas as pastas. Podemos ajudar o governo a ficar cada vez mais conectado com esta nova realidade.”
Base para mudanças existe. “Além dos compromissos já assumidos por Lula, existem frentes amplas que ajudaram a derrotar Bolsonaro e que, agora, precisam derrotar o bolsonarismo”, avalia Tiago. “Só o povo mobilizado, na rua, pressionando pelos rumos do governo, pode sustentar um projeto que transforme o Brasil.”
Veja quem vai compor o GT Juventude:
- Bruna Brelaz, da UNE (União Nacional dos Estudantes)
- Gabriel Medeiros Miranda, da Secretaria Estadual de Juventude do Rio Grande do Norte
- Jiberlandio Miranda, da Juventude Socialista do PSB
- Kelly dos Santos Araújo, da juventude do PT no Maranhão
- Marcus Barão, do Conjuve (Conselho Nacional da Juventude)
- Nádia Beatriz Martins Garcia Pereira, da Secretaria Nacional da Juventude do PT
- Nilson Florentino Júnior, da Secretaria Nacional da Juventude do PT
- Sabrina Santos, da Unas (União dos Moradores de Heliópolis)
- Tiago Morbach, da UJS (União da Juventude Socialista)