“Esperamos que a Europa desempenhe um papel mais ativo nos assuntos internacionais, exortou Xi

Em cúpula virtual na segunda-feira (5), o presidente da China Xi Jinping, o presidente francês Emmanuel Macron e a primeira-ministra alemã Angela Merkel reiteraram seu empenho em reforçar a parceria Europa-China e debateram os desafios globais em tempos de pandemia.

Conforme a agência de notícias Xinhua, Macron expressou seu apoio “à conclusão do acordo de investimentos China-UE” enquanto Merkel mostrou esperança de que “seja aprovado o mais brevemente possível”. O acordo, fechado em dezembro do ano passado, ainda está pendente de aprovação nos parlamentos dos países signatários – A China e os 27 da União Europeia.

Observando a situação persistente e severa da Covid-19 globalmente e as perspectivas incertas de recuperação econômica, o presidente Xi disse que o mundo precisa “mais do que nunca de respeito mútuo e estreita colaboração”, não de suspeita, antagonismo ou um jogo de soma zero.

“Devemos manter esse espírito, ver corretamente as respectivas diferenças, lidar com as divergências de forma racional e garantir que os laços bilaterais avancem”, acrescentou Xi.

“Esperamos que a Europa desempenhe um papel mais ativo nos assuntos internacionais, refletindo verdadeiramente a sua autonomia estratégica”, exortou Xi. Ele chamou a buscar um “terreno comum”, a apreender na medida correta as diferenças mútuas e a lidar racionalmente com as divergências, “perseverando no desenvolvimento das relações”.

Ele destacou, ainda, que o Partido Comunista da China – que completou um século de existência – liderou o povo chinês na abertura de um caminho de desenvolvimento adequado às realidades nacionais da China, conquistando o apoio universal do povo chinês. A China – sublinhou – está comprometida com o valores comuns da humanidade, incluindo paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade.

Xi instou as duas partes – China e Europa – a ampliarem “o consenso e a cooperação”, para possibilitar o enfrentamento dos prementes desafios globais. Ele também convocou os dois lados a apreenderem na medida correta as diferenças mútuas e a lidarem racionalmente com as divergências, perseverando no desenvolvimento das relações.

Possivelmente em relação ao 5G da Huawei, que Washington tenta vetar, Xi pediu que os países europeus “proporcionem um ambiente de negócios transparente e não discriminatório para as empresas chinesas”.

Contratempos

A cúpula a três é importante, também, porque Merkel está com visita oficial marcada aos Estados Unidos (15 de julho) e, como se sabe, foi dela que partiu o empenho principal para garantir a aprovação preliminar do Acordo Amplo de Investimento Europa-China, fazendo questão de não esperar pelo resultado da eleição nos EUA que acabou vencida por Biden.

Acordo que deriva da crucial importância que a China passou a ter para a economia europeia, não só como fábrica do mundo e maior parceiro comercial de quase todos, mas também pelo monumental mercado interno chinês.

Desde a posse de Biden, a cruzada anti-China desde Washington não amainou, com os EUA tentando enquadrar o G7 em seu discurso contra Pequim, e com a Otan, pela primeira vez, colocando a China na mira oficialmente.

As relações Europa-China sofreram percalços, na medida em que o Parlamento Europeu, sob inspiração de Washington, barrou a votação do Acordo Amplo de Investimento (CAI), sob alegação da ‘repressão a Hong Kong’ e da ‘perseguição aos muçulmanos de Xinjiang’, e diante da resposta chinesa, espelhada, às sanções de Bruxelas contra a China sob esse pretexto, as primeiras desde 1989.

A UE sancionou em 22 de março – após decisão semelhante dos EUA – quatro funcionários e uma entidade chinesa pela situação em Xinjiang. Pequim respondeu, por sua vez, sancionando dez europeus, metade deles eurodeputados, e quatro entidades, ao mesmo tempo em que convocou o embaixador da UE na China, Nicolas Chapuis, para apresentar uma queixa formal a Bruxelas.

Esse ‘congelamento’ do Acordo Amplo de Investimento, ao frear sua ratificação, em última instância é um tiro no pé. Esperava-se que o CAI desempenhasse um papel muito positivo na recuperação econômica do bloco europeu pós-Covid.

O presidente Xi também pediu a salvaguarda do multilateralismo real. O sistema internacional com a Organização das Nações Unidas (ONU) em seu núcleo e as normas básicas que regem as relações internacionais baseadas na Carta da ONU devem ser defendidos, e os problemas globais devem ser tratados por meio de consultas a todas as partes, disse ele.

Xi apelou à construção de uma relação entre os principais países que seja geralmente estável e equilibrada. “O que a China mais deseja é desenvolver, não substituir outros”, disse Xi, observando que a Iniciativa Cinturão e Estrada da China busca criar mais oportunidades para o desenvolvimento comum.

Recentemente, os EUA, tentando arrastar outros parceiros para o seu Titanic, passaram a contrapor uma ‘ordem mundial das regras’ – regras do Pentágono, Big Oil e Wall Street – ao sistema multilateral com a Carta da ONU e o direito internacional no centro.

Xi disse que a China está disposta a convocar em breve a 23ª reunião de líderes China-UE com o lado europeu, para se engajar em diálogos de alto nível nos setores estratégico, comercial, cultural, digital e climático, e para pressionar pelo reconhecimento e proteção dos produtos incluídos no acordo China-UE sobre indicações geográficas, a fim de gerar benefícios mais tangíveis para as pessoas.

Ele também pediu aos dois lados que conduzam conjuntamente a reforma da Organização Mundial do Comércio na direção certa e ofereçam apoio mútuo para garantir a conclusão bem-sucedida dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim e dos Jogos Olímpicos de Paris.

Macron, que saudou as grandes conquistas do desenvolvimento da China nas últimas décadas, expressou a expectativa europeia de avançar com o lado chinês na reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), bem como em mudanças climáticas e preservação da biodiversidade. Ele asseverou que a França está empenhada em promover a cooperação com Pequim e dá as boas-vindas às empresas chinesas para que invistam na França.

Macron também se referiu ao papel da China no acesso equitativo às vacinas para os países em desenvolvimento e aos esforços de Pequim para implementar a Iniciativa de Suspensão do Serviço da dívida, do G20.

Merkel por sua vez enfatizou que há muitas áreas em que a China e a UE podem trabalhar juntas, e as duas partes deveriam intensificar o diálogo a fim de reduzir as divergências. Ela declarou ainda que Berlim está pronta para fortalecer a coordenação e cooperação com a China na promoção da produção e distribuição justa de vacinas.

Mãe África

Os líderes dos três países também trocaram opiniões sobre as questões africanas. Como salientou o presidente Xi, a África é a região com maior concentração de países em desenvolvimento e que enfrenta as tarefas mais difíceis no combate à pandemia COVID-19 e na recuperação econômica, além de ser o continente com maior potencial para desenvolvimento.

Xi expressou esperança de que a Europa possa aumentar seu apoio e ajuda para a África, fornecer mais vacinas para países africanos com necessidades urgentes e ajudar a África a lidar com a pressão da dívida e alcançar uma recuperação econômica e um desenvolvimento verde em breve e com baixo teor de carbono.

A China dá as boas-vindas à adesão da França e da Alemanha à Iniciativa de Parceria para o Desenvolvimento da África, lançada em conjunto pela China e países africanos, e à implementação de cooperação trilateral, quadripartite ou multipartidária, acrescentou o presidente Xi.