Manuela: “Porto Alegre precisa retomar a gestão pública do transporte”
A candidata a prefeita de Porto Alegre Manuela D’Ávila (PCdoB) concedeu entrevista ao jornal SBT Rio Grande, na tarde desta segunda-feira (5), onde apresentou suas propostas para a capital do Rio Grande do Sul e defendeu a retomada da gestão pública do transporte coletivo na cidade.
Segundo Manuela, o município vivencia a piora da qualidade do transporte público após a gestão ter sido colocada nas mãos dos empresários. Ela defendeu ainda uma revisão das tarifas da cidade e condenou a ameaça de demissão dos cobradores de ônibus.
“Temos alguns objetos no programa, gostaria de elencá-los: O primeiro deles é a retomada da gestão pública sobre o transporte público, isso porque, hoje, a Câmara de Compensação Tarifária ocupa um espaço importante na gestão do preço da tarifa, na composição da tarifa, ela não está na mão da Prefeitura, mesmo que a lei diga que ela deve estar. A Câmara de Compensação Tarifária está na mão dos empresários. Eu vou retomar o comando da Câmara para a Prefeitura, com isso a gente pode fazer a abertura da planilha de custos e buscar a redução da tarifa”, disse Manuela durante a entrevista.
A candidata do PCdoB afirmou que a busca pela redução da tarifa também contará com outras fontes. “Uma parte da fonte são recursos do IPVA, outra é o montante de recursos que vem das multas e estacionamento da EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação de Porto Alegre) e a terceira delas é parte dos recursos de um aplicativo próprio que nós queremos criar para taxar menos os trabalhadores e conseguir mais recursos para a Prefeitura”, explicou.
“A Prefeitura celebrou, agora recentemente, um acordo com as empresas, que não leva em conta a maior reclamação da população. A Prefeitura vai repassar R$ 39 milhões aos empresários, colocando os empregos dos cobradores em risco”, denunciou a candidata. “Nós sabemos o papel dos motoristas e cobradores nos nossos ônibus, então a Prefeitura celebra um acordo que pode demitir esses trabalhadores e mais, que não coloca no centro a recuperação de linhas em nossas comunidades mais distantes”.
“Nós precisamos de uma ‘Carris’ mais forte para dar conta dessas regiões desassistidas da cidade. Precisamos que ela seja a balizadora do transporte público, como ela foi no período em que nós tínhamos o melhor transporte coletivo do país”, defendeu Manuela D’Ávila.
A Companhia Carris Porto-Alegrense é uma empresa estatal operadora do transporte público da capital gaúcha. Sua frota é composta por 347 ônibus e atende grande parte da cidade, com cerca de 30 linhas.
“Porto Alegre já teve o melhor, hoje nós temos o mais caro. Por isso é preciso ter em mente: Gerir, trazer a gestão e enfrentar o problema das tarifas”, disse Manuela.
EDUCAÇÃO
Questionada sobre a disparidade entre a escola particular e a escola pública em Porto Alegre e o que faria para tentar equiparar as modalidades de ensino na cidade, Manuela defendeu o uso dos recursos do FUNDEB para investir no ensino integral nas escolas municipais.
“Eu acho deplorável que nós tenhamos perdido o projeto da escola pública ser a melhor escola da cidade. Eu quero ser a Prefeita que vai lutar para que a escola municipal seja a escola de referência da cidade. Não só no índice do IDEB, mas também com práticas, com a biblioteca aberta para a comunidade, com uso de novas tecnologias, do ponto de vista de energia, como pode ser o painel solar, na alimentação que essas crianças podem receber com a compra pública, garantindo alimentos dos nossos agricultores, fomentando a economia, mas tendo comida digna na mesa pras crianças”.
“Mas além disso, existem alguns elementos da gestão educacional da cidade, então em primeiríssimo lugar: Nós acreditamos que o recurso do FUNDEB deve ser utilizado para ampliar o número de horas que a criança passa na escola aprendendo, que é o que nós convencionamos chamar de escola integral”, explicou Manuela..
“Devemos garantir aquilo que diz a lei: “100% das crianças incluídas na educação infantil, aquelas de 4 e 5 anos”. E o que isso tem a ver com qualidade? Isso tem relação com a ideia de que a criança chega mais preparada” disse Manuela, que explicou: “Eu tenho uma filha de cinco anos e eu cumpro a lei com a minha filha. Eu quero a lei pros filhos de todas as mulheres da cidade”.
“Por que a minha filha de cinco anos conhece as letras? Porque ela está na escola. Por que minha filha de cinco anos, completos agora em agosto conhece parte básica das aplicações matemática? Porque ela está na escola. A educação infantil tem vínculo direto em como a criança chega na escola para o ensino fundamental”.
“Além disso, nós trabalhamos com a ideia da gestão democrática, da capacitação permanente das professoras e professores, foco na aprendizagem e essa aprendizagem ser transmitida de escola a escola, sempre sabendo que esse plano pedagógico e essa busca pela melhoria da qualidade deve reconhecer que as escolas da rede municipal estão inseridas nos lugares de maior vulnerabilidade”.
Sobre as dificuldades das escolas periféricas, Manuela ressaltou que “é interessante observar a escola pública de melhor resultado no Ideb é a escola que fica dentro do parque Moinhos de Vento. Veja como a vulnerabilidade tem impacto nessa questão da qualidade”.
“Entre essas propostas relacionadas à escola e a escola infantil, eu tenho compromisso com a criação da Renda Básica para Primeira Infância. Porque nós vamos ter que disputar fortemente com a evasão escolar. Porto Alegre precisa saber que suas crianças mais pobres, mais desfavorecidas voltaram para a sinaleira (semáforo). Não podemos fechar os olhos, temos que disputá-las”, frisou.
VIOLÊNCIA
Questionada sobre o que fazer para diminuir a violência urbana, Manuela D’Ávila resgatou a importância da iluminação pública e apontou: “O uso adequado dos espaços públicos, parques e praças, sem grama alta, com esporte, cultura, tem relação direta com isso. A reintegração, porque hoje Porto Alegre foi cercada virtualmente, mas as câmeras precisam estar ligadas para que a gente tenha o bloqueio virtual da cidade”.
“Eu tenho o compromisso, além do tema geral da violência, do seu enfrentamento, da construção de uma cultura de paz na rede escolar. Nós precisamos formar nossas crianças e jovens com outros valores, em que a violência não seja um padrão do comportamento social. E além disso, eu quero reduzir o número de feminicídio. Porto Alegre teve uma redução dos casos de homicídios, mas não teve redução nas mortes de mulheres. Por isso quero construir de forma descentralizada equipamentos de apoio às mulheres”.