Em encontro sobre a participação das mulheres na política, realizado pela Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Ceará, nesta segunda-feira (29), a jornalista e ex-deputada do PCdoB, Manuela d’Ávila, falou sobre violência de gênero e a necessidade de enfrentar o problema para que o país possa ser refundado sobre bases igualitárias.

A mesa contou ainda com a mediação da deputada estadual Augusta Brito (PCdoB), procuradora Especial da Mulher da Assembleia, e com a deputada estadual de São Paulo, Isa Penna (PSol).

Ao falar sobre a máquina de ódio e fake news criada nas eleições de 2018 pelo bolsonarismo e sobre sua motivação para lançar o livro “Sempre Foi Sobre Nós”, Manuela destacou: “Não vou deixar que isso seja tratado como política porque isso não é política. Não preciso ser submetida a isso para defender a minha visão de mundo”.

Manuela explicou que os ataques às mulheres na política — que na maioria das vezes estão focados em questões pessoais — fazem parecer exclusivo algo que não é. “Eles atacam a cada uma de nós criando um sistema de generalização (…). Parece pessoal, mas regula o comportamento de todas nós. Parece ser sobre uma, mas é sobre todas nós porque é um mecanismo de inibição da nossa participação geral, de fazer com que nós não levantemos a voz contra um sistema e uma sociedade que excluem as mulheres”.

A jornalista colocou ainda que “quando nós estamos na política — ou pelo menos nós que nos preocupamos com a maior parte do povo — nós levantamos a voz contra um país que faz com que mais de 50% das mulheres mães de crianças de até três anos não trabalhem porque o Estado não assume a assistência dessas crianças”. E completou: “Então, percebam: isso é para nos afastar não por uma questão da participação da mulher em si, mas é porque isso pode mudar a política, não só a política institucional, mas porque mudando a política institucional pode-se mudar a política que chega no povo”.

Transformar a política para mudar o país

Manuela d’Ávila também salientou que os problemas do Brasil não serão resolvidos sem que a política seja mudada. “Não conseguiremos dar conta de enfrentar a desigualdade econômica desse país — que é estruturada a partir da questão racial e da questão de gênero, e as mulheres negras são as que mais sofrem essas desigualdades em nosso país — se não transformarmos a política. E enquanto eles afastarem os nossos corpos da política, enquanto nós, mulheres, formos afastadas do espaço público, nós não transformaremos a política”.

A comunista colocou ainda que “falar sobre violência política de gênero, para mim, é, em última instância, falar sobre como construir outra política que seja capaz de refundar esse país sobre novas bases. Não quero reconstruir o Brasil; eu quero refundar a partir da ideia de um país em que as mulheres e os homens vivam em condição de igualdade; em que as crianças possam ser tratadas como a minha filha, que teve acesso ao básico”.

Ao concluir sua participação, Manuela salientou: “não pensem que isso é algo periférico. Falar de violência política de gênero é falar sobre a construção de um poder político que possa enfrentar as grandes mazelas, que possa construir um projeto de desenvolvimento para o nosso país real porque não existirá desenvolvimento nesse país sem que sejam enfrentadas as desigualdades de gênero e de raça”.

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Por Priscila Lobregatte