Manuela D’Ávila em debate na UFMG: “Posso ser a voz de milhões”
Com uma homenagem à vereadora Marielle Santos (Psol), assassinada na semana passada no Centro do Rio de Janeiro, e alertando para o desafio de conduzir um evento no momento em que a sociedade não está acreditando na política partidária e nem em políticos, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) conduziu nesta segunda-feira (19) o debate ‘Emancipação das mulheres, desenvolvimento econômico e os rumos do País’, que teve como convidada a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Ávila.
No debate, que lotou o auditório do Centro de Atividades Didáticas 2 da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Manuela alertou que o Brasil só conseguirá se democratizar como um Estado garantidor de políticas públicas sociais emancipacionistas, com participação e olhar femininos. “É preciso compreender que sem a participação das mulheres não há projeto de desenvolvimento, de nação soberana. Desenvolver o Brasil passa por superar a desigualdade de gênero”.
Ela denunciou o golpe que destituiu a presidente Dilma Rousseff como antidemocrático, antinacional e misógino. “Foi dado por homens brancos, machistas, estruturado a partir da entrega das riquezas nacionais, sem compromisso com o desenvolvimento, a soberania, que congela por 20 anos os investimentos e com um Estado minúsculo para as mulheres, que são 52% da população”. Neste sentido, ela se apresentou como opção para a mudança: “Eu posso ser a voz de milhões de mulheres, por isto estou na política”.
Manuela alertou para as muitas violências que são praticadas contra as mulheres no Brasil, em todas as esferas e até mesmo o uso simbólico da maternidade, com estereótipos entre outras formas de estigmatizar e excluir politicamente as mulheres. “Coisas que a gente deixa passar, não se revolta e nem responde à altura. E isto vai se avolumando, além de ser algo violento. Faz com que as mulheres não tenham protagonismo, pareçam meros fantoches, herdeiras ou ligadas à figura central, ao homem. Esta também é uma prática que sustenta a ameaça de demonização da mulher na política: a louca, a histérica, a descontrolada”.
Manuela contou que em entrevista é sempre questionada sobre a filhinha, de dois anos, que na maioria das vezes a acompanha em viagens e agendas em diferentes locais do País. “Se não a levo comigo também perguntam com quem a deixei, quem está cuidando dela. “Nunca ouvi ninguém perguntar isto a um candidato homem: Quem está cuidando de seus filhos? Com quem os deixou? É uma forma de machismo bem arraigada”, avaliou.
Outro aspecto apontado pela pré-candidata à Presidência da República diz respeito ao aumento em até 50% do ingresso de meninos no crime a partir da evasão escolar na quinta série. “É exatamente o período em que a mãe deixa o filho sozinho para ir trabalhar e ele é cooptado”. Para Manuela, os desafios a serem enfrentados são o de resistir, debater e encontrar saídas para o Brasil crescer e se desenvolver. E isto implica a participação efetiva das mulheres na política, mudanças reais, efetivas e eficientes das políticas sociais, econômicas.
Os debates foram precedidos de uma apresentação da professora Marlise Matos, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher, que mostrou a queda do Brasil no ranking de participação feminina nas esferas de poder, especialmente o da representação política.