Entidades denunciam tratar-se de um plano feito para “pôr em prática atos de perseguição, criminalização, encarceramento e até assassinato" de ativistas

O movimento sindical e popular da Guatemala divulgou esta semana um manifesto à opinião pública em que condena as medidas impostas recentemente pelo presidente Jimmy Moraes por meio do Estado de Sítio contra seis departamentos e 22 municípios.

Conforme as entidades, “para proteger e beneficiar as cúpulas econômicas, militares, políticas e potências estrangeiras, Jimmy Morales tem executado políticas para tornar mais ricos os mais ricos e mais pobres os mais pobres, além de ser protetor servil dos que sustentam e fortalecem o sistema de corrupção, impunidade, criminalidade, remilitarização, pobreza, desnutrição crônica, saque e roubo de nossas riquezas, condições precárias de trabalho e um salário mínimo totalmente incoerente com o custo real da cesta básica de alimentos”.

Entre outros flagrantes atropelos, o movimento denuncia que o salário mínimo está congelado neste ano e que, “atendendo ao setor empresarial, foi aprovado o regulamento para o trabalho por tempo parcial e não há liberdade para organização sindical, obrigando a população a migar para outros países”. “Pela falta de oportunidades, com isso, Jimmy Morales demonstrou seu total menosprezo e desvalorização pelas grandes maiorias, fundamentalmente aos povos originários”, frisou.

A decisão do governo de recorrer a um Estado de Sítio a partir dos acontecimentos de 3 de setembro, no qual perderam suas vidas três soldados em circunstâncias não esclarecidas, é completamente descabida, alertam as entidades. Ainda mais “quando a onda de violência é irrefreável e segundo o Instituto Nacional de Ciências Forenses (Inacif) foram registrados 2.330 homicídios e 243 feminicídios, apenas no primeiro semestre do ano, o que faz da Guatemala um dos países mais violentos da América Latina”.

SELEÇÃO DE MENTIRAS

Na avaliação dos movimentos, as “informações” divulgadas pelo governo guatemalteco não têm qualquer crédito, o que aumenta o questionamento sobre as ordens dadas para o ingresso de uma patrulha militar na região das mortes. “Acaso esta não seria uma estratégia do governo, de grupos empresariais e outras máfias que operam em conluio nessa zona e outras do país, que pretendem justificar o Estado de Sítio, a fim de calar a voz da comunidade e dos povos, que rechaçam os projetos exploradores da força de trabalho? Querem reprimir os povos indígenas, assediar e estuprar mulheres de todas as idades, como fizeram em passado recente. Seria mais uma forma de aterrorizar com armas de grosso calibre, com a prepotência e abuso de poder dos militares, além de lhes permitir que sigam saqueando e roubando os bens e riqueza da Guatemala”, destacam.

Como apontam as entidades, há inumeráveis razões para não acreditar em Jimmy Morales, uma vez que “todas as versões sobre determinados fatos estão acompanhadas de duplos discursos, porque sempre os Estados de Sítio são impostos onde as empresas nacionais ou transnacionais vêm gerar conflitos sociais”.

Outro assunto preocupante, alertam, é “por que nos discursos e manifestações governamentais não se menciona os moradores feridos gravemente por armas de fogo, qual a razão de não terem sido esgotadas as instâncias e processos prévios de diálogo e por que, de imediato, foi decretado um Estado de Sítio, imposto por 30 dias, e quem garante que não seja ampliado?”.

Não resta nenhuma dúvida, sublinham, “é que esse plano macabro foi desenhado premeditadamente por grupos poderosos com fins de violentar os direitos humanos e beneficiar os que realizam atividades do modelo neoliberal e extrativista no governo, justificando ações sem fazer as licitações respectivas e alcançar mais benefícios através da corrupção e saque das instituições governamentais”. “E o mais perigoso ainda” – advertem as entidades – um plano feito para “pôr em prática atos de perseguição, criminalização, encarceramento e até assassinato de dirigentes, defensores e defensoras da água, do território e da vida”.