Na mais recente campanha caça-voto de xenófobos e racistas, o governo Trump anunciou que irá enviar sua Gestapo da Fronteira às cidades-santuário – como são chamadas as que protegem os imigrantes – para intensificar a perseguição aos sem-documentos, demagogicamente transformados em bodes expiatórios da precarização do trabalho em curso nos EUA.
Como revelou o New York Times, unidades de elite da Guarda da Fronteira – chamadas de Borac – fortemente armadas serão enviadas a cidades como Nova Iorque e Chicago para reforçar a atuação dos agentes de imigração que já estão ali. Tropas de choque anti-imigrantes também devem ser enviados para Los Angeles, Houston, São Francisco, Boston, Nova Orleans, Detroit e Newark.
A estimativa é que essas SS de Trump estejam posicionadas nas cidades santuário até maio, para dar tempo de repercutir nas bases extremistas do presidente, aquelas que em seus comícios gritam a plenos pulmões, incentivadas pelo bilionário: “construam o muro!”
A missão principal dessas unidades – anunciam – será “quebrar a resistência” nas cidades que se recusam a aderir à política de Trump de tolerância zero contra os imigrantes. Em comunicado, o diretor interino da ICE, Matthew T. Albence, acusou as cidades-santuário de “libertarem esses criminosos de volta às ruas”.
O ministro da Justiça do governo Trump, William Barr, cuja renúncia vem sendo exigida no país inteiro por proteger cúmplices dos malfeitos do presidente, saudou a escalada nas ações contra as cidades-santuário.
Na semana passada, o Departamento de Justiça anunciou que está processando o estado de Nova Jersey e King County, Washington – onde fica a cidade de Seattle – por dificultarem a caça a imigrantes.
A principal entidade dos EUA de defesa das liberdades democráticas, a ACLU, repudiou a medida, afirmando que estados e cidades “se recusaram a agir como capangas da ICE (imigração e alfândega). A declaração foi feita por Omar Jadwat, diretor do Projeto de Direitos dos Imigrantes da ACLU.
“Este é apenas o capítulo mais recente de uma longa história de falhas do Departamento de Justiça. O Departamento de Justiça já perdeu repetidamente seus esforços para punir estados e cidades por exercerem escolhas que a Constituição lhes garante”, acrescentou.
São centenas as jurisdições nos níveis estadual, municipal e da cidade que promulgaram leis e regulamentos que oferecem algumas proteções a migrantes sem documentos ou limitam a cooperação entre autoridades federais locais, o deixa Trump furioso.
“A premissa básica do governo Trump é sua opinião xenófoba sobre imigrantes, estrangeiros e seus esforços para argumentar que quaisquer problemas que a sociedade está enfrentando foram trazidos de fora, em vez de abordar que existem causas realmente complexas que precisam ser abordadas de uma maneira significativa “, disse a pesquisadora sênior em imigração da Human Rights Watch, Grace Meng.
Para ela, a medida “só exacerbará a atmosfera de medo já existente entre as comunidades imigrantes, atiçada pela retórica do presidente e pelas políticas anteriores”.
À Al Jazeera, Meng disse que a premissa das cidades-santuário é a ideia de que “não podemos separar imigrantes na comunidade” e que a lógica de que migrantes indocumentados estão ameaçando a segurança pública é “completamente falsa”.
“Isso vem do reconhecimento de que a comunidade não pode estar segura, a menos que os imigrantes, documentados e não documentados, sintam-se à vontade para ir à polícia quando testemunham um crime ou são vítimas de um crime”, acrescentou Meng.
Outras investidas do regime Trump contra os imigrantes acabaram sendo barradas nos tribunais, ou atenuadas. Nova Iorque processou o governo Trump nesta semana por uma regra que impede centenas de milhares de residentes de se inscreverem em programas federais que ajudam a reduzir o tempo de espera na segurança do aeroporto, sob a alegação de que a chamada lei “luz verde” do estado permite que os sem documentos solicitem carteira de motorista.
O estado classificou a proibição como “medida punitiva destinada a coagir Nova Iorque a mudar suas políticas”.
Repúdio igualmente no estado de Nova Jersey, após o anúncio de Barr na segunda-feira. “Mais uma vez, o governo Trump está sacrificando a segurança pública por conveniência política”, disse o procurador-geral de Nova Jersey, Gurbir Grewal, em comunicado. “Felizmente, nada no processo de hoje muda nosso trabalho no terreno”, acrescentou. “Enquanto o presidente está na arquibancada, estamos focados em proteger os nove milhões de habitantes de Nova Jersey”.