Marchas solidárias ao povo da Caxemira aconteceram em Nova Delhi e outras cidades indianas - Altaf Qadri - AP

Forças militares reprimiram uma manifestação de protesto contra decisão do governo de Modi de retirar autonomia da região da Caxemira garantida pela Constituição da Índia desde sua fundação em 1947O protesto aconteceu na capital, Srinagar, no dia 9.

No dia 5 de agosto foi anunciado o fim da autonomia da Caxemira, com a supressão do artigo 370 da Constituição da Índia, assim como do parágrafo 35A, que normatizava essa autonomia, criando o governo local e seu parlamento.

Segundo o governo da Índia, a mudança se deveria a tensões exacerbadas com um atentado realizado no dia 14 de fevereiro quando morreram 44 militares indianos que se dirigiam em comboio para a capital da Caxemira, Srinagar. A ação foi reivindicada por um grupo separatista denominado Jaish-e-Mohammad.

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Já lideranças caxemires repudiaram a medida. A dirigente do Partido Democrático do Povo e ex-dirigente da região, Mehbooba Mufti , classificou a medida de “ilegal e unilateral” e o dia 5 de agosto como “o dia mais escuro para a democracia da Índia”.

O presidente Narendra Modi, esperou pelo resultado das eleições que ao final de maio lhe deram a vitória, além de uma bancada com 56% de integrantes de seu partido no parlamento de seu país, para tomar a medida que classifica de “necessária para combater o terrorismo e o separatismo”.

Desde o dia da decretação do fim da autonomia, mais de 500 lideranças locais já foram presas e foi determinado toque de recolher assim como as conexões via telecomunicação foram interrompidas.

Houve manifestações de protesto na capital, Nova Delhi, e em outras cidades indianas em solidariedade ao povo da Caxemira, de maioria muçulmana, e em protesto à medida do governo. A manifestação na capital da Índia foi convocada pela central sindical Conselho Central dos Sindicatos de Toda a Índia (AICCTU).

O Partido do Congresso, que já governou a Índia e é a segunda força política no país, assim como outros partidos, entre eles o Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista) condenaram a medida como manifestação de uma política discriminatória contra as etnias que compõem a nacionalidade indiana em favor da maioria hindu. Para a oposição, a medida equivale a uma ocupação da Caxemira e faz parte de uma política de ganhar apoio entre os integrantes da maioria hindu, fomentando o preconceito e a discriminação contra as demais etnias.

O governo do vizinho Paquistão suspendeu as viagens por trem vindas da Índia assim como o comércio entre os dois países. No Paquistão está localizada a Caxemira paquistanesa, onde também houve manifestações solidariedade aos caxemires indianos, além de atos de protesto nas cidades paquistanesas de Lahore e Islamabad.

O governo paquistanês assume que a medida indiana elevou as tensões entre os dois países, mas destaca que procurará responder, ao que chama de agressão, pelas vias diplomáticas e sanções comerciais, além de levar a questão ao Conselho de Segurança da ONU, enfatizando que não vai recorrer a ações militares na fronteira.

Na sexta-feira, o ministro do Exterior do Paquistão, Shah Mehmood Qureshi, esteve na capital chinesa, Beijing, para uma reunião de emergência com seu colega, Wang Yi.

Ao final da reunião, o Ministério do Exterior da China expediu um comunicado declarando que a China “está seriamente preocupada com a turbulência e escalada de tensões na Caxemira”.

E prosseguiu afirmando que “a China vai continuar a apoiar firmemente o Paquistão em seus direitos legítimos” e acrescentou que “a questão caxemire deve ser resolvida nas Nações Unidas”.

“Tanto o Paquistão como a Índia são vizinhos amigos da China”, acrescenta a nota, “conclamamos os dois lados a focarem no desenvolvimento nacional e na paz ao sul da Ásia”.

Qureishi, ministro paquistanês, declarou ao final da reunião que está “muito satisfeito porque a China provou hoje, mais uma vez, que é amiga confiável do Paquistão”.

O ministro do Exterior da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, deve chegar a Beijing no domingo, dia 11.