Equipes de vacinação enfrentaram a chuva para vacinar idosos em casa

Semana passada o ainda ministro da saúde, Eduardo Pazuello, anunciou com pompas que dia 22 de fevereiro começaria a vacinação para a população de Manaus acima de 50 anos. A euforia da população se converteu rapidamente em frustração quando a Prefeitura informou que não tinha doses e começou a cadastrar a população acima de 60 anos para quando a vacina aparecer. Mais uma mentira do governo, lamentavelmente.

Por Eron Bezerra*

E chegou mesmo a insinuar que a meta era iniciar, imediatamente, a vacinação para toda população acima de 18 anos. Brinca acintosamente com a tragédia alheia.

Mas a meta anunciada pelo governo Bolsonaro poderia ser executada?

Sim, um governo com algum compromisso com a saúde da população e minimamente capaz poderia garantir essas metas. Manaus é a 7ª cidade do país, com 2.219.580 habitantes (IBGE, 2020), mas a sua população acima de 50 e 60 anos é de apenas 292.105 (13%) ou 133.126 habitantes (6%), respectivamente. Não é nada extraordinário.

Ademais, a vacinação massiva de Manaus, ou pelo menos da população acima de 50 anos, se justifica plenamente do ponto de vista sanitário para tentar evitar a propagação da variante P1, aqui identificada, e cuja transmissibilidade é reconhecidamente mais alta, embora nada indique, ainda, que seja mais letal que as demais variedades.

Assim, assegurar algo como 300 ou 134 mil doses para vacinar os maiores de 50 ou 60 anos não é nada extraordinário, desde que haja um mínimo de compromisso e capacidade gerencial. Estender a cobertura vacinal para a população maior de 18 anos também não é uma espetacular, embora diante da crise geral de doses – por absoluta responsabilidade do governo – talvez já não fosse tão simples mobilizar um volume de 1.380.000 ou 2.760.000 doses, apenas para Manaus, num momento em que o Brasil inteiro não tem estoque suficiente para atender nem mesmo a sua população de idosos e os grupos prioritários, sem mencionar os criminosos “fura-filas”.

Por que o governo, então, não cumpriu o que prometeu?

Já tratei desse assunto em artigos anteriores, mas nunca é demais relembrar o essencial: o governo Bolsonaro não tem respeito pela saúde da população (não apenas a de Manaus); continua sabotando como pode a vacinação, embora publicamente tenha flexibilizado seu negacionismo; e é profundamente incompetente, o que nesse caso se agrava pela brutal incompetência no plano regional. E aí a tragédia está consumada.

E assim a população de Manaus, cuja tragédia é de alcance internacional, mais uma vez, é enganada pelo governo e continua resistindo graças à solidariedade de muitos, que embora não tenham responsabilidades legais se sentem no dever moral de ajudar.
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Eron Bezerra* é professor da UFAM, Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Coordenador Nacional da Questão Amazônica e Indígena do Comitê Central do PCdoB.

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