Foto Reprodução

O terceiro dia de manifestações nacionais contra os cortes do governo Bolsonaro na Educação contou com mais de 1,5 milhão de pessoas em 205 cidades de todos os estados brasileiros. Os atos foram convocados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), além de entidades estaduais e municipais de estudantes, sindicatos dos trabalhadores da educação e movimentos sociais.
“Quanto mais Bolsonaro corta da educação, mais o povo fica indignado e disposto a resistir”, afirmou o presidente da UNE Iago Montalvão, que foi eleito há menos de um mês.
Por todo o país, os protestos foram tomados pelo sentimento de defesa da Educação Pública. Na capital paulista, os estudantes estamparam as cores verde e amarelo em seus rostos e bandeiras e mostraram que o verdadeiro patriotismo está do lado dos que defendem o nosso povo.
Segundo o levantamento da UNE e da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) foram registradas manifestações em 205 cidades de todos os estados e o Distrito Federal.
No final de abril, o governo Bolsonaro iniciou o seu ataque à Educação Pública. A equipe econômica de Paulo Guedes anunciou um arrocho de R$ 6,1 bilhões no orçamento do Ministério da Educação. A medida foi aplaudida pelo ministro, Abraham Weintraub, que orientou que o corte seria realizado na verba de custeio das instituições federais de ensino, que, segundo o ministro, “promoviam balburdia” dentro dos campi.
A medida gerou revolta em toda a comunidade acadêmica que iniciou uma série de protestos em repúdio ao ataque à Educação. Nos dias 15 e 30 de maio, milhões de pessoas participaram dos protestos convocados pelos estudantes.
Em julho, o ministro da Educação Abraham Weintraub anunciou o programa “Future-se”, que prevê a maior participação de capital privado e de Organizações Sociais (OSs) nas universidades federais. Há uma semana, o governo anunciou o bloqueio de R$ 348 milhões destinados a distribuição de livros didáticos na educação básica.
“Enquanto eles atacarem e cortarem da educação, nós vamos continuar resistindo e colocando gente na rua. Muitas pessoas duvidaram, mas a disposição dos estudantes de se mobilizar é muito grande”, disse Iago Montalvão.
“A pauta da educação agrega bastante a população, e é nisso que a gente deve investir para ganhar mais setores da sociedade na luta pela garantia de nosso futuro. Futuro dos estudantes e futuro do país”, continuou.
Quanto ao “Future-se”, Iago afirmou que “a reação geral nas universidades tem sido no sentido de rejeitar a participação no projeto”. “Quem escreveu o projeto mostrou um desconhecimento total quanto às universidades brasileiras. Muito do que está sendo proposto lá já existe, então não é nenhuma receita milagrosa”.
“Mas o que eles propõem de novo é muito prejudicial para a universidade, como as Organizações Sociais para gerir as atividades fim da universidade, que seriam o ensino, pesquisa e extensão”.
Presidente da UNE, Iago Montalvão, durante protesto em São Paulo
Para ele, não é à toa que o governo apresentou o “Future-se” depois de realizar os cortes. “No momento em que as universidades passaram a receber menos verba do Estado ele quer que aumente o investimento privado. A possibilidade de perder a base do financiamento privado, deixando o ensino superior na mão do capital privado, é real”.
O presidente da UBES Pedro Gorki acredita que “os estudantes estão dando uma resposta à altura dos ataques que o governo tem feito. A insistência de Bolsonaro e Weintraub nos cortes já está inviabilizando processo seletivos e o funcionamento de escolas e universidades, é impossível achar que o estudante não vai se mobilizar”.
“Os atos de hoje, assim como foram os de maio, é a síntese da indignação que se vê dentro de sala de aula contra esse governo”.
Para o presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES) Lucas Chen “Bolsonaro provou que é mentiroso. Disse que não ia cortar da educação básica, mas o último corte foi justamente contra ela. Mais de R$ 300 milhões que seriam para a distribuição de livros. As escolas já estão com estruturas precárias, muitas vezes temos que dividir nossos livros com colegas”.
“Ao invés de ouvir o que os estudantes pediam e pensar no que o Brasil precisa, Bolsonaro foi insistente e aprofundou os cortes na educação. A gente não pode deixar de nos manifestar contra isso”, concluiu.
O diretor de universidades públicas da UNE Guilherme Bianco acredita que os ataques consecutivos do governo contra a educação “têm feito a indignação da população aumentar”
“Ele ataca a educação quando corta da distribuição de livros didáticos, ataca a memória dos presos, torturados e mortos pela ditadura quando faz comentários cínicos acerca do desaparecimento de Fernando Santa Cruz, ataca o meio ambiente, ri da cara do Senado ao insistir em colocar seu filho como embaixador do Brasil nos EUA”.
“A reação dos estudantes é no sentido de barrar esses ataques. Esse ato dá o pontapé inicial no segundo semestre de resistência e de defesa da democracia”, concluiu.
O estudante Anderson Bueno, presidente o grêmio do Instituto Federal de São Miguel e participou do ato na Avenida Paulista, em São Paulo, acha “importante que os estudantes participem dos atos convocados pela UNE porque mostra a nossa força. O governo corta da educação e diz que não quer nos ouvir, mas o hoje o estudante se levanta como se levantou durante a ditadura, durante o governo Collor e em todos os momentos em que a educação e a democracia foram atacados”.