Escalada retórica só prejudica as negociações pela paz, declarou Macron

Demonstrando considerar a atitude do presidente norte-americano leviana, Macron insistiu que, no lugar de Biden, “tomaria cuidado com esses termos” e alertou que a “escalada de retórica” não ajuda em nada nas negociações de paz.

Para o presidente francês, “as palavras têm um significado e devemos ter muito cuidado”. “A palavra ‘genocídio’ deve ser qualificada por juristas, não por políticos”, continuou.

Seu comentário foi feito depois de ser pressionado para aderir à posição de Joe Biden, que afirmou que Vladimir Putin é “um ditador [que] declara guerra e comete genocídio a meio mundo de distância”.

Em entrevista, Biden insistiu na classificação: “Sim, eu chamei isso, de genocídio, porque ficou cada vez mais claro que Putin está apenas tentando acabar com a ideia de ser ucraniano”.

A candidata que está disputando o segundo turno das eleições na França contra Emmanuel Macron, Marine Le Pen, também se distanciou de classificar Putin como “genocida”. O genocídio “legalmente corresponde a uma definição extremamente precisa que não pode ser dada nesta fase do conflito”, pontuou Le Pen.

Secretário-Geral da ONU se nega a seguir Biden

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que “o genocídio é estritamente definido no direito internacional. E para a ONU, contamos com a determinação legal final dos órgãos judiciais competentes”.

“Deixamos a definição se existe ou não uma situação de genocídio para os órgãos judiciais que são relevantes nesse sentido”.

A fala de Joe Biden, que está perdendo apoio entre os norte-americanos, teve que ser balizada pelo embaixador dos EUA na Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), Michael Carpenter.

Carpenter disse que Biden fez uma “determinação moral clara” e que o julgamento para decidir se há genocício ou não “vai levar algum tempo para ser concluído”.

Presidente alemão

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky recusou publicamente a visita do presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, por ele apoiar as conversas e negociações de paz com a Rússia.

O governo ucraniano disse que Steinmeier “não era desejado” no país.

O primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz, saiu em defesa do presidente de seu país e afirmou que a recusa e a fala feitas pela Ucrânia foram “um pouco irritantes, para ser educado”.

Volodymyr Zelensky maltratou as lideranças alemãs porque não adotaram, como ele gostaria, a linha dada pelos Estados Unidos, que prega a expulsão total da Rússia da comunidade internacional, sem que ela possa conversar e negociar nada, assim como a reaplicação do macarthismo no terreno cultural.

A própria Ucrânia paralisou as negociações com a Rússia, o que estenderá ainda mais a guerra, enquanto Zelensky pede armas para todos os países aliados.

Embaixador ucraniano

O embaixador ucraniano na Alemanha, Andrei Melnik, se recusou a participar de um concerto com a participação de músicos russos e execução de obras de um compositor ucraniano, promovido pelo governo alemão como gesto de pacificação.

Melnik disse que “não é nossa preocupação agora diferenciar entre russos maus e russos bons”, que “agora são todos inimigos”.

Andrei Melnik criticou o governo alemão porque “encenou deliberadamente isso como um ‘sinal de paz’”.

O embaixador da Ucrânia, cujo país foi usado como marionete pelos Estados Unidos e empurrado para a guerra, acredita que os russos “querem destruir a Ucrânia. E então está claro para mim que, provavelmente, mesmo depois da guerra, a Rússia continuará sendo um Estado inimigo”.

Como se pode ver o cordão sanitário em torno de Putin que Washington tenta erigir apresenta, a cada dia, mais furos. Exemplo disso é o do governo francês, um dos mais importantes da Europa, o qual, ainda que Macron tenha tentado ficar a meio caminho e vacilando em romper em definitivo com a submissão aos EUA, como quando nega a qualificação de ‘genocida’ com referência a Putin, mas enxerga “crimes de guerra da Rússia na Ucrânia” que precisariam ser investigados, não deixa de ser uma mostra de distanciamento para apontar que a posição anti-Russa comandada pela Casa Branca – que já causou grandes prejuízos aos seus cidadãos através, por exemplo, do problema com o fornecimento de gás após as sanções à Rússia -, começa a fazer água.