Unidade de hidrotratamento de diesel da Refinaria Landulpho Alves - RLAM

A Petrobrás registrou um lucro líquido de R$ 40,137 bilhões em 2019, um crescimento de 55,7% na comparação com 2018. Segundo divulgou a estatal na quarta-feira (19), foi o maior lucro nominal (descontada a inflação) da história da companhia.
A nota da atual direção da estatal destaca “o primeiro ano da implementação de uma nova estratégia”, uma estratégia aberta de vendas do patrimônio e privatização da maior estatal do país.
Escalado por Paulo Guedes para comandar esse processo, Roberto Castello Branco já declarou que seu “sonho é ver a estatal privatizada”.
O lucro recorde da Petrobrás no ano passado foi obtido pela venda de ativos. A principal delas foi a privatização da mais lucrativa entre suas subsidiárias, a “joia da coroa”, a BR Distribuidora.
Junto com ela, foi entregue a TAG (rede de gasodutos), outra das mais lucrativas subsidiárias, para grupos estrangeiros.
Ao todo, o governo Bolsonaro liquidou subsidiárias lucrativas e campos de petróleo por US$ 16,3 bilhões.
E prevê continuar esquartejando a companhia, transformando-a em mera exportadora de óleo cru e importadora de combustíveis a serviço do cartel petrolífero.
Como denunciou o ex-diretor de Gás e Energia da Petrobrás, o especialista Ildo Sauer, “a empresa-mãe pode acabar ficando apenas com o CNPJ e a sede”.
BR DISTRIBUIDORA
A BR Distribuidora, criada em 1971, era uma subsidiária 100% estatal e a maior empresa de distribuição e comércio de derivados de petróleo do Brasil.
A subsidiária mais rentável da Petrobrás garantia o fornecimento de derivados em todo o território nacional em mais de 8.000 postos de serviços, e atendia 14 mil clientes em indústrias, prefeituras e aeroportos, fornecendo gasolina, diesel, etanol, gás natural, querosene de aviação e GLP (gás de botijão, por meio da marca Liquigás-também privatizada).
No primeiro trimestre do ano 2019, a BR Distribuidora teve um crescimento no seu lucro líquido de 93,1%, foram R$ 477 milhões nos três primeiros meses de 2019. Mas foi privatizada, em julho do ano passado.
MALHA DE GASODUTOS TAG
Nordeste -estava entre as subsidiárias mais rentáveis da Petrobrás e foi entregue, no ano passado, ao consórcio formado pela franco belga Engie e pelo fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ).
Segundo o ex-engenheiro da Petrobrás, Paulo César Ribeiro Lima, a rentabilidade da TAG, uma rede de gasodutos de 4.500 quilômetros, ligando o Nordeste e Sudeste, até então operada pela Transpetro, vinha do fato de a Petrobrás não gastar dinheiro com o transporte de gás.
“No frigir dos ovos, o custo que a Petrobrás tem para transportar o gás é, na verdade, o custo da Transpetro. Ao vender a TAG, a Petrobrás será obrigada a pagar pelo serviço de transporte de gás. Eu calculei o valor presente líquido do pagamento que a Petrobrás teria que fazer à TAG depois da privatização da empresa. E cheguei ao valor de US$ 12,44 bilhões. Eu utilizei uma taxa de desconto de 8,83% ao ano, a mesma utilizada no contrato de cessão onerosa. É uma taxa de desconto alta. Então, se a TAG for vendida a uma taxa de US$ 8 bilhões, será um preço bem abaixo desses US$ 12,44 bilhões, que é o valor presente líquido que eu calculei. Em suma: será um prejuízo financeiro”, denunciou Lima, que também foi consultor na Câmara dos Deputados e no Senado.
O engenheiro calculou que a Petrobrás passaria a ter uma despesa anual de R$ 4,59 bilhões com a venda da malha de gasodutos.
Em 2016 e 2017, os lucros brutos da TAG foram de R$ 5,08 bilhões e R$ 3,66 bilhões, respectivamente. As receitas de serviços são muito maiores que os custos dos serviços prestados. Em 2016, a receita foi de R$ 6,28 bilhões e o custo de apenas R$ 1,2 bilhão.
“As receitas e os lucros garantidos da TAG passarão a ser da Engie, grupo que adquiriu 90% do controle acionário da subsidiária integral. A Petrobrás ficará com as despesas de transporte do gás natural e a dependência de uma terceira empresa para transportar sua produção oriunda das bacias do Urucu, das bacias do Nordeste e das bacias de Campos e Santos, onde está localizada a província do Pré-Sal”, alertou a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet)
Em abril do ano passado, Bolsonaro entregou 90% das ações da TAG ao consórcio estrangeiro por US$ 8,6 bilhões ou R$ 33 bilhões.
Após a privatização, o governo, através da Transpetro, subsidiária de logística da Petrobrás, firmou, em junho do ano passado, um contrato com a TAG/Engie no valor de R$ 5,46 bilhões para prestar serviço de apoio técnico ao transporte de gás.
Reprodução Petrobrás
Os lucros obtidos com a venda das subsidiárias não são recorrentes, logo, tendem a ser episódicos. Já os prejuízos causados com a entrega desse patrimônio, construído há décadas pelo povo brasileiro, são incalculáveis e desastrosos para a independência econômica e a soberania do país.