Jovem é levado pela Polícia Militar durante protesto na Ditadura Militar

Toda sociedade em crise é compelida a revisitar sua própria história na expectativa de recolher lições que clareiem a luta no tempo presente

por Luciano Siqueira*

Em uma das inúmeras conversas com o ex-governador Miguel Arraes, então recém-chegado do exílio, o ex-prefeito e ex-deputado Arthur Lima Cavalcanti e eu tentávamos convencê-lo a encarar as eleições para governador de Pernambuco já em 1982.

Parecia evidente que Arraes admitia a hipótese, porém precisava ganhar tempo:

— Vocês insistem nessa coisa, mal retorno a Pernambuco, como se eu não tivesse o direito de envelhecer!

Ao que respondi:

— Doutor Arraes, são duas décadas de interrupção da prática democrática, não tem sido fácil a formação de novos líderes.

Sim, um período de 21 anos em que predominou a absoluta supressão dos direitos democráticos e brutal perseguição aos opositores do regime.

Fato histórico inequívoco, porém canhestramente negado na nota que o ministro da Defesa, general Braga Neto, divulga agora e que deverá ser lida na ordem do dia dos quartéis em todo país.

Nela, há referências a uma realidade histórica mentirosa, sobretudo quando enaltece um tal “aperfeiçoamento” da vida política do país a partir do golpe militar de 1964.

Coicindentemente, participo hoje de audiência pública promovida pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) — que marca seu mandato por competente e aguerrida abordagem dos problemas da cidade articulados com as grandes questões nacionais — exatamente sobre um Plano para o Direito à Memória e à Verdade no âmbito Câmara Municipal do Recife.

Muito oportuna, pois toda sociedade em crise é compelida a revisitar sua própria história na expectativa de recolher lições que clareiem a luta no tempo presente.

O Brasil vive um momento exatamente assim.

Com um agravante quase surreal: a vigência da chamada “guerra cultural”, que inspira a “realidade paralela” alimentada pelo bolsonarismo governante, precisamente para obstruir a consciência de milhões e seguir no poder.

Negar fatos ou interpretá-los de modo distorcido e disseminar inverdades por sofisticados meios digitais é ação prioritária de governo.

E é essencial na estratégia da campanha eleitoral do presidente fascistoide, na tentativa de reeleição.

Uma trincheira de luta que devemos enfrentar — como bem fariam os companheiros e amigos Artur Lima e Miguel Arraes, sempre atentos e ativos no debate de ideias.

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*Médico, membro do Comitê Central do PCdoB, foi deputado estadual em Pernambuco e vice-prefeito do Recife.

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