Luciano Siqueira: "Politicamente, Bolsonaro está seriamente infectado pelo coronavírus"

Algo semelhante a uma determinada situação na França que permitiu a Karl Marx, no “18 Brumário”, assinalar que há momentos em que a evolução do cenário político se dá, objetivamente, em grande parte à revelia da vontade subjetiva dos principais atores em presença.

Por Luciano Siqueira*

Vejamos.

O presidente Bolsonaro lida muito mal com a pandemia do coronavírus e, igualmente, com o desafio da tomada de decisões destinadas a reduzir os impactos sobre a economia e as condições de vida da população.

Mercê de sua incompetência e incapacidade de exercer plenamente o cargo, engendra, ele próprio, crise de governo que talvez venha a requerer solução institucional atípica.

Qual uma hidra de sete cabeças, o governo do ex-capitão se movimenta desordenadamente conforme seus múltiplos subcomandantes.

Ian Bremmer, titular da consultoria Eurasia, que analisa riscos políticos conjunturais para os grandes conglomerados financeiros e empresariais no mundo, em relatório noticiado pelo Valor Econômico semana passada, começou a cogitar a possibilidade do impeachment como desdobramento da crise de governo atual.

Pesquisas que detectam índices de aprovação e desaprovação do presidente, tanto na vida real, digamos assim, como no mundo digital, revelam seu isolamento crescente, perdendo força inclusive na franja social mais identificada com posições extremadas de direita.

Politicamente, Bolsonaro está seriamente infectado pelo coronavírus.

Concomitantemente – da articulação de governadores a cientistas, de centrais sindicais e entidades estudantis e culturais a associações municipalistas -, surgem sinais claros de que se gesta na sociedade uma ampla e plural emergência de vontades para o enfrentamento da pandemia e suas consequências.

(No meio desse caminho, e ainda carente de uma liga mais ampla, lideres nacionais e dirigentes do PSB, PT, PCdoB, PDT, PSOL e PCB lançaram manifesto pedindo a renúncia do presidente.)

Então, para além da vontade subjetiva e dos planos eleitorais de curto e médio prazos dos partidos, a bandeira da salvação nacional pode vir a congregar forças de amplitude pouco vista. Até parte da grande mídia presente.

Isto, a despeito deste ou daquele líder priorizar a defesa do seu próprio partido ou seguir guerreando com forças do campo democrático ou brandindo “princípios” a serem invocados para selecionar aliados…

A realidade concreta tende a fazer suas imposições.

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