Na primeira reunião do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) de 2022, iniciada nesta sexta-feira (11), Luciana Santos, presidenta da legenda, disse, em seu informe de abertura, que este ano vai se caracterizando por uma acirrada e intensa luta de classes no Brasil. E destacou que a federação partidária é uma decisiva conquista democrática.

Conformar uma nova maioria política capaz de derrotar o projeto da extrema direita e abrir passos para um processo de reconstrução nacional que aponte a retomada de um projeto nacional de desenvolvimento será o grande desafio deste ano. Com essa premissa, Luciana Santos comentou o papel do PCdoB na formação da frente ampla e da federação de partidos. Segundo ela, são caminhos que buscam saídas políticas para a superação da profunda crise do país.

A aprovação da federação partidária – a Lei Haroldo Lima, como passou a ser chamada – e o reconhecimento de sua constitucionalidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) consolidam um novo patamar da democracia brasileira. “O julgamento no STF dá uma grande contribuição à democracia e ao sistema político brasileiro ao proporcionar instrumentos que o torne mais programático e ao contribuir com a unidade do campo popular”, afirmou Luciana Santos.

Para ela, a federação foi uma vitória contra uma maré que buscava acabar com os partidos e a política. “Creio que ainda não temos clareza total da conquista que obtivemos. O PCdoB travou a batalha na Câmara dos Deputados e ganhou; travou a batalha no Senado e ganhou; travou a disputa na imprensa e ganhou; travou a disputa no judiciário e ganhou.”

O cenário Brasil afora e em todos os partidos, disse ela, é de grandes dificuldades para montagem de chapa (mesmo entre os partidos grandes). “O que temos visto é uma busca em todos os espectros políticos por formação de federações ampliadas, com lastro político e eleitoral.”  E enfatizou que o desafio da ordem do dia é a convergência do campo popular numa federação. “Uma federação que se assemelhe à experiência da Frente Ampla do Uruguai, com lastro, que contribua para a disputa de rumos do país e que nos permita melhores condições para atingirmos os objetivos do nosso projeto eleitoral.”

A consolidação de uma frente ampla, de arregimentação do maior número de forças em torno da candidatura para enfrentar Bolsonaro, se complementa com a busca de um núcleo de forças populares e de esquerda, sintetizou. Segundo Luciana Santos, a conformação de uma ampla frente política e eleitoral é o passo inicial para um novo bloco histórico e, dentro dele, o desafio de formar “uma federação de partidos do campo popular e democrático, que seja a espinha dorsal, o núcleo coesionador de convicções em torno de um projeto para o país, que tenha como foco o desenvolvimento de sólidas bases materiais para a superação das desigualdades sociais”.

Luciana Santos destacou que, com a decisão do STF, ganhou-se um tempo valioso para o avanço das conformações políticas. “Acredito que, no bojo das negociações, o que prevalecerá será o bom senso e o sentido de grandeza para enfrentarmos os desafios que temos pela frente. Contudo, mesmo com a extensão do prazo, teremos de realizar sinalizações públicas de consolidação da federação”, destacou.

A presidenta do PCdoB enfatizou que Bolsonaro é a expressão de uma fração reacionária e autoritária das classes dominantes, produto de uma época, da fragmentação e polarização da sociedade. “Não é um sujeito puramente transloucado. É uma expressão de poder, cada vez mais distante dos reais anseios do nosso povo. Ele precisa ser derrotado para que o Brasil retome o seu caminho”, observou.

Tabuleiro da geopolítica

Luciana Santos comentou também o cenário nacional e internacional, marcado simultaneamente por instabilidades e oportunidades. Segundo ela, o tabuleiro da geopolítica tem se movido de forma intensa nas últimas semanas. O conflito envolvendo Ucrânia, decorrente da política de expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) nas fronteiras da Rússia, faz parte da política que os Estados Unidos promovem de desestabilização do governo russo e de sua guerra neocolonial, que busca a contenção da China, analisou.

Entre os fatores que estão em jogo, disse a presidenta do PCdoB, está o interesse em cortar acesso a suprimentos de cadeias produtivas de alta tecnologia à China e seu plano estratégico da nova Rota da Seda. Luciana Santos enfatizou que, nesse contexto de tensões, a visita de Putin a Pequim para participar da cerimônia de abertura Olimpíada dos Jogos de Inverno teve grande relevância. Ele e Xi Jinping, o presidente chinês, divulgaram uma declaração conjunta destacando que as novas relações entre os dois países não “terá limites”, não haverá áreas proibidas de cooperação.

Os seus desdobramentos ainda serão vistos, observou a presidenta do PCdoB, mas, desde já, trata-se de um fato político de grande magnitude, que pode representar uma mudança qualitativa na tendência à multipolaridade e no enfrentamento às atitudes do imperialismo estadunidense.

Brasil à deriva

Neste mundo complexo e repleto de contradições, observou a presidenta do PCdoB, o Brasil se encontra à deriva, sem um projeto que deixe claro seus objetivos e interesses. “É preciso, a partir da reorientação dos rumos do país, aproveitar as oportunidades fornecidas pelo contexto internacional de crescente multipolarização para alavancar seu projeto nacional”, destacou.

Em meio a esse cenário externo turbulento, agravado pela pandemia da Covid-19, comentou Luciana Santos, a irresponsabilidade do desgoverno Bolsonaro agravou a situação do Brasil. Lembrou que, além da questão de saúde, o impacto na economia e na configuração do tabuleiro da geopolítica é gigantesco. São quase cinco milhões de vidas perdidas no mundo e mais de seiscentas mil no Brasil.

Segundo Luciana Santos, o ano e 2022 vai se caracterizando por uma acirrada e intensa luta de classes no Brasil. “A situação do país é grave após um ciclo de grande instabilidade iniciado com o impeachment da presidenta Dilma e que tem sua fase mais aguda com a ascensão da extrema direita ao governo central”, diagnosticou. Para ela, os campos políticos que vão se formando devem ser analisados com bastante atenção, por serem definidores de prognósticos para a sucessão presidencial. O centro da tática política, enfatizou, deve ser o caminho para derrotar Bolsonaro.

 

A reunião do Comitê Central, que acontece de forma virtual, terá continuidade com os debates neste sábado (12).