A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, foi a convidada do programa Olhar 65 que, nesta quarta-feira (8), teve como tema “O golpismo bolsonarista versus o Brasil democrático”. Apresentado pelo secretário de Comunicação do partido, Adalberto Monteiro, e pelo jornalista Osvaldo Bertolino, o programa debateu também a frente ampla, a possibilidade de impeachment, a atual realidade brasileira e a luta pelas federações.

“Consideramos que é preciso constituir um movimento forte que desmascare, isole e derrote Bolsonaro. E para isso, precisamos de muitos atores da política, de muitas forças vivas, diferenciadas, que possam se comunicar com determinado pensamento num país tão plural e diverso, para que a gente vá isolando e garantindo uma resistência às tentativas autoritárias. É preciso ter uma reação de força”, defendeu Luciana.

Confira alguns dos principais trechos da conversa e assista a íntegra na sequência.

Os atos do 7 de setembro de Bolsonaro

“É um método. Bolsonaro aposta no caos como um comportamento para, inclusive, embaçar as grandes responsabilidades que ele tem com os rumos do Brasil. Então, ele busca resgatar um dos pilares do tempo de sua candidatura que é se colocar como anti-sistema. Para ele, é uma posição muito cara, embora ele nunca tenha sido anti-sistema. Foi parlamentar por 28 anos, pertenceu a vários partidos e todos os seus filhos são do mundo da política”.

“O que ele fez no dia 7 foi uma atitude de desespero porque ele vem acumulando um conjunto de fatos político que o tem levado ao isolamento. Ele buscou construir uma imagem pela qual tenta demonstrar ter uma maioria que estaria sendo inviabilizada por esse sistema e ele faz isso para turvar os problemas reais do Brasil. Se depender da vontade dele, ele dá um golpe, ele tenta, é uma convicção; não tem força suficiente para isso, mas procura construir um discurso de desmoralização do processo eleitoral, da falta de liberdade, dando legitimidade para uma ação que conteste o resultado das eleições caso ele venha a perder”.

Crime de responsabilidade

“Ele também é chegado às bravatas: uma coisa é o que ele diz, outra coisa é o que ele tem coragem ou não de fazer. Porque se ele não cumprir as decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF, ele incorre em crime de responsabilidade. E se isso ocorrer, além de aumentar a crise política, isso se transforma também numa crise institucional. Então, é uma luta de tensionamento, pela qual ele procura garantir essa base que é uma espécie de base social de fanáticos que o acompanham. Em qualquer pesquisa, embora esteja em queda na popularidade, não aparece com menos de 25%. (…) Toda vez que se vê acuado, ele dobra a aposta”.

Frente ampla

“Consideramos que é preciso constituir um movimento forte que desmascare, isole e derrote Bolsonaro. E para isso, precisamos de muitos atores da política, de muitas forças vivas, diferenciadas, que possam se comunicar com determinado pensamento num país tão plural e diverso, para que a gente vá isolando e garantindo uma resistência às tentativas autoritárias. É preciso ter uma reação de força. Há intensa movimentação e mudança qualitativa das posições desse movimento que se acelera e aumenta mais a temperatura. O 7 de setembro não termina nele mesmo e a crise tende a ser prolongada e deve perdurar até as eleições. Só não se sabe se o ambiente político vai aguentar esse aumento de tensão”.

Bolsonaro foge de suas responsabilidades

“São quase 600 mil vidas perdidas pela Covid-19 e ele sempre teve essa atitude de deboche, de provocação, menos de cuidar do país. O que vemos é inflação, desemprego, quase metade da população em insegurança alimentar…na prática, ele foge de suas responsabilidades. Como efeito e consequência prática, temos um atraso civilizacional gigante no nosso país e temos de ter capacidade de reagir para garantir que a luta política responda aos interesses do povo brasileiro”.

Possibilidade de impeachment

“A radicalização do 7 de setembro fez com que o pedido de impedimento voltasse à baila com força no debate político. (…) Contudo, as chaves para esse processo avançar depende muito do papel do PP porque o deputado Arthur Lira (PP-AL) é o presidente da Câmara e hoje este é um partido que comanda postos estratégicos e importantes no governo e ninguém sabe até que ponto haverá mudança de posição por parte de algumas legendas ou lideranças que lhe dão sustentação. Mas penso que ganha mais força, principalmente se a gente considerar que os movimentos de rua tendem a aumentar”.

“São cenários difíceis de ter uma resposta assertiva porque é a dinâmica do processo político que vai determinar. Mas, que há uma mudança importante de posição a partir da radicalização do próprio Bolsonaro, há uma reação das forças políticas a se somar  a essa luta pelo impeachment e, sem dúvida, elas vão se amplificar (…) Nosso campo, sozinho, não é capaz de garantir uma virada da conjuntura. Só é possível se contarmos com forças do centro democrático. E é por isso que a gente luta para que esses setores venham jogar do nosso lado”.

Adesão aos atos do dia 12

“Não é só o MBL que está puxando, há forças do centro democrático, de vários partidos que estão puxando. E se temos o objetivo de isolar Bolsonaro, é uma construção política que está dentro da nossa tática de frente ampla. Não podemos contar somente com as nossas próprias forças, temos que ampliar. Precisamos garantir que outros segmentos que não pensem igual a gente possam se somar”.

“Por que não fazer essa construção pela democracia, pela salvação nacional, num espectro amplo, em que possamos conviver com suas diferenças? Isso não significa que vamos abrir mão de nossas convicções, nem das diferenças que temos das bandeiras de saída para as múltiplas crises que o Brasil atravessa. Mas há uma coisa que nos unifica: o Fora Bolsonaro. Isso, por si só, não é qualquer possibilidade, mas a possibilidade de virarmos a conjuntura política muito necessária ao Brasil”.

“Achamos que é importante sim construir esse ato cívico pela democracia, pela salvação nacional e unificar. O projeto eleitoral de 2022 é outra coisa, outro processo. Mas, todo e qualquer movimento que signifique mudança de movimento de forças e lideranças políticas contra Bolsonaro, penso que é muito bem-vinda”.

Desmonte do Estado

“(A crise energética) É a demonstração cabal da falência, da incompetência do governo que não teve um mínimo de planejamento para questões que são estruturais da vida brasileira. E isso impacta na inflação. É a política de preços da Petrobras que mudou, é o problema do combustível e isso tudo impacta também no preço dos alimentos. Tivemos aumento de 61% do feijão, aumento do arroz, da charque, do gás…Há coisas que parecem óbvias e que no Brasil estavam avançadas como políticas de Estado e que estão retrocedendo. O desmonte das universidades é inaceitável. O desmonte na agricultura familiar é um crime que leva a dificuldades na produção de alimentos e seu encarecimento na medida que 70% do que consumimos vem da agricultura familiar. Há um subfinanciamento gigantesco em vários setores estratégicos e um desmonte geral. E quem paga o pato é o povo, os mais pobres, os produtores da riqueza”.

Derrubada do veto às federações

“Vivemos impasses no modelo que hoje impera no sistema eleitoral e político. Muito se fala que esse é um desafio próprio do PCdoB e não é. Vários partidos e lideranças importantes não têm chapas em seus estados. Isso fez com que até o retorno da coligação tivesse força. (…) Achamos que temos chance sim de derrubar o veto pela força e a necessidade de se ter um sistema eleitoral que seja compatível com a dinâmica da realidade brasileira”.

“É muito importante o papel dos nossos dirigentes estaduais na interlocução com senadores, deputados federais e mesmo estaduais porque todos estão formatando seus projetos eleitorais para 2022 com dificuldades. E esse exercício de debate e convencimento é muito importante para que a gente possa manter essa diversidade e não permita que haja reserva de mercado no sistema político e eleitoral brasileiro”.

Assista a íntegra do programa

 

Por Priscila Lobregatte