A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, participou nesta quinta-feira (9) de uma entrevista ao vivo, na internet, pelas redes do Portal Vermelho. Na conversa com o editor Inácio Carvalho, Luciana tratou dos efeitos de curto e longo prazo da pandemia do novo coronavírus no país.

Ela defendeu a união de frentes amplas, como é o exemplo da articulação dos governadores e o Pacto Pela Vida lançado por organizações da sociedade civil. A ideia é que pela articulação de amplos setores se possa, primeiro, barrar os desmandos de Bolsonaro diante da calamidade sanitária. E, depois, influenciar a “luta de ideias” e ampliar a atuação do Estado para resgatar a economia do país e repensar o Brasil pós-pandemia.

Soberania nacional

Ao tratar das dificuldades que o Brasil enfrenta hoje para cuidar de seus cidadãos, Luciana Santos destacou a incapacidade do país de produzir seus próprios equipamentos médicos e medicamentos. Esta dificuldade se estende para as diversas nações do mundo, que vivem hoje uma verdadeira guerra para garantir a compra de insumos básicos. Ela ressaltou que o problema diz respeito à soberania nacional e que saídas fazem parte do programa do PCdoB.

“É uma questão a nossa dependência como país. Nós do PCdoB tratamos disso no nosso programa para o Brasil. Sempre dissemos que devemos ser um país soberano, que abastece sua população nos diversos níveis das necessidades. A gente tem dependência de fármacos, como também de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) e respiradores. Estes itens poderiam ser produzidos aqui”, comentou.

A situação, como elaborou Luciana Santos, diz respeito ao cenário mundial e mostra como as cadeiras produtivas não funciona como no desenho de uma globalização perfeita, sem desigualdades.

E os problemas desta questão global têm impactos locais, com severidade que acompanha as peculiaridades de cada país.

“Veja que hoje o Brasil tem 80% da população vivendo em cidades marcadas por nossas disparidades sociais. Temos ausência de saneamento, dificuldade de acesso à saúde, transportes lotados e mesmo a agua, né? Aqui em Pernambuco por exemplo a questão da água é muito grave, exige grande investimentos”, enumerou, apontando que todas essas questões históricas ampliam os desafios no combate à pandemia.

“O vírus evidenciou que as políticas neoliberais são uma falácia. O que assistimos no primeiro ano do governo Bolsonaro, a insistência de que a reforma da Previdência e depois a Trabalhista, salvariam a economia. Os cortes no Bolsa Família. Menos 14 mil apenas aqui em Pernambuco. A afirmação constante de que a Constituição de 1988 não cabe no orçamento e a série de cortes na Saúde, o Mais Médicos, e o SUS. O desinvestimento nas diversas cadeias dinâmicas de produção. Hoje vemos os efeitos claramente no Sistema Único de Saúde que era considerado por eles como se fosse inimigo da população”, pontuou.

“Atitude Criminosa”

Luciana Santos falou também da atuação do presidente Jair Bolsonaro neste momento de crise. Na opinião dela, atitudes do presidente, com ao desmobilização das quarentenas, são “criminosas.

“Não é possível diante de uma realidade que grita, o coronavírus pegou o Brasil com crescimento pífio de 1,1% do PIB, com todas as medidas que eles chamam de austeridade – que na verdade servem pra drenar dinheiro do povo e mandar pro sistema financeiro -,que o presidente apresente esta atitude. Se o que ele fala não tivesse impacto sobre a população, você sobrevive. Mas a negação do óbvio, a negação de que o tal isolamento vertical não é factível, como bem disse o governador Flávio Dino… para mim é uma atitude criminosa”, sentenciou, denunciando  o risco a que o presidente coloca a população.

Dinheiro precisa chegar

“Sou testemunha do esforço da nossa bancada do PCdoB, da nossa líder Perpétua Almeida (PCdoB-AC), pra fazer estados e municípios receberem algum recurso federal. Até semana passada, R$ 19 milhões chegaram a Pernambuco e nós já gastamos R$ 190 milhões! A doença não espera, ela é veloz”, afirmou Luciana, que exige medidas do Executivo Federal.

“Vocês viram a luta da Oposição pra garantir os R$ 600 da Renda Básica Universal. A Oposição propôs R$ 1200, mas fez acordo porque precisava da liberação com agilidade. Precisamos fazer campanha nas redes pro Bolsonaro pagar logo. E agora estamos pedindo que estados e municípios recebam”, insistiu, destacando que em seu estado, por exemplo, 83% dos leitos de UTI já estão ocupados, dado que revela a urgência da ação.

Crise Institucional

Como vice-governadora de Pernambuco, Luciana tem também acompanhado de perto as ações dos chefes dos Executivos estaduais. Ela ponderou que Bolsonaro conseguiu uma unanimidade ao ter contra si governadores tão conservadores como Witzel do Rio de Janeiro, Caiado de Goiás e Dória, de São Paulo.

“Antes dizia que o problema era do Nordeste, porque aqui ele não teve muitos votos. Mas hoje está claro que não é verdade. Ele conseguiu uma unanimidade contra si. Bolsonaro diz publicamente que se bica com Mandetta (Ministro da Saúde). Mandetta é um liberal, é do DEM. Mas ao menos usa a racionalidade neste momento. Bolsonaro conseguiu ser outsider do próprio governo”, disparou.

Tudo isso, na avaliação da presidenta do PCdoB, se de um lado isola o presidente e lhe retira apoio na macropolítica, e até se desgasta lentamente com seus eleitores, mesmo demonstrando grande “resiliência”, por outro não deixa de ser parte de sua estratégia ser uma espécie de “agente do caos”, com um discurso que lhe permite colocar culpas indevidas no colo dos governadores. Luciana denunciou a perversidade do discurso de Bolsonaro:

“Ele pega algo que é real. A população vive o dilema (entre trabalhar e ficar em casa). Ele (Bolsonaro) diz: ‘deixa trabalhar!’ Ou seja, ele reforça o dilema ao invés de fazer como outros líderes no mundo, crédito, investimentos, salário na veia, pras pessoas não terem que viver este dilema”, analisou.

Salvação Nacional  

Perguntada sobre o chamado por uma frente de salvação nacional feito pelo Comitê Político Nacional do PCdoB, Luciana destacou que muitas frentes estão se formando espontaneamente diante da urgência sanitária, econômica e social.

“A primeira frente, e mais evidente, é a dos governadores. Hoje 24 de 27 governadores são oposição  a Bolsonaro pelo menos no que diz respeito a medidas sanitárias”, pontuou.

“Nosso desafio da esquerda é a frente ampla inclusive porque, pór-pandemia, vamos precisar de mais Estado. Vamos ter que disputar ideias. Não vão caber mais chicago boys anunciando que têm fórmula pra recuperar economia arrasada”, afirmou.

“Os comunistas estão convocados à solidariedade, a lutar a ferro e fogo para impedir que a população padeça, seja de situação sanitária ou econômica. Precisamos discutir as alternativas. Em vários momentos de inflexão da história o Brasil passou por frentes amplas, para pensar nação em primeiro lugar. Ações como o Pacto pela Vida das entidades, essa é a frente de salvação nacional! Os governadores, os prefeitos, os partidos políticos. Inclusive os partidos que não são os do nosso campo, os historicamente comprometidos”, defendeu.

Para acompanhar todos os detalhes da entrevista, assista a íntegra: