Justiça seletiva: denunciam estudantes paraguaios

A Justiça do Paraguai decidiu manter sob prisão domiciliar três lideranças que têm se destacado nas massivas manifestações contra o governo de Mario Abdo Benítez, responsável pelo desvio de recursos das vacinas da Covid-19 para o sistema financeiro e de todo o tipo de corrupção.

O presidente Marito, como é conhecido, é figura de expressão da Aliança Nacional Republicana (ANR) – o Partido Colorado -, sucessor de Horacio Cartes (1913-1918), representante da ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).

Os dirigentes estudantis da Universidade Nacional de Assunção (UNA), Vivian Genes e Pedro Areco, e o promotor cultural Luis Trinidad estão sendo injustamente acusados pela queima de uma sede dos colorados na capital paraguaia, no dia 17 de março, diante da qual sequer se encontravam.

Submetida a todo tipo de ameaças pela Polícia Nacional, Vivian foi mantida atrás das grades até a última segunda-feira (12), quando seus advogados conseguiram que fosse transferida para casa.

Até então, com receio de que a jovem fosse deslocada para a Penitenciária de Encarnación – a 370 quilômetros de Assunção -, familiares e amigos precisaram organizar uma “barraca da resistência”, de onde se mantiveram vigilantes. Jazmín Rodríguez foi uma das que se manteve no local. Na sua avaliação, foi graças à pressão e ao apoio da Coordenadora de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy) e do Mecanismo Nacional de Prevenção da Tortura, que aconteceu o recuo parcial por parte da Justiça.

Filiada e militante colorada, a juíza Hilda Benítez Vallejos tem sido alvo de protesto dos estudantes em frente à sua residência e ao parlamento pela postura completamente parcial com que tem se comportando, afrontando as próprias determinações da Corte Suprema de Justiça.

Referência na luta pela Justiça no Paraguai e do movimento de solidariedade aos camponeses de Curuguaty, a ex-presa política de Stroessner, Guillermina Kanonnikoff se somou às organizações humanitárias em apoio à juventude.

“Na realidade, o governo segue com suas práticas strosneristas, que tem agora um dos seus últimos esperneios”, afirmou Guillermina, reiterando que se trata de uma perseguição claramente política. “Os dirigentes foram injusta e arbitrariamente presos sem que tivessem sido apresentadas quaisquer provas contra eles. Foram perseguidos e criminalizados por este governo de inúteis, incompetentes e corruptos que tem como marca o roubo aos cofres públicos e o fracasso diante da pandemia”, frisou.

Em relação à liderança de Vivian Genes, estudante do quarto ano de arquitetura, Guillermina enfatizou, “ela simboliza a liderança do movimento, particularmente numa sociedade machista como a paraguaia, porque é mulher, se atreve a ser feminista e não teme encabeçar o processo”.

Vale lembrar, recordou Guillermina, “que foi dado um cheque em branco aos governistas e em mais de um ano nada fizeram, colocando o nosso país numa situação caótica em que não há uma única cama de Unidade de Terapia Intensiva (UTIs), com o povo morrendo abandonado nos corredores dos hospitais e nas suas próprias casas”.