A socióloga Maryclen Stelling, coordenadora do Observatório Global dos Meios de Comunicação, Sessão Venezuela e o ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pedro Nikken, apresentaram a Declaração Pública - Apossera

Personalidades de amplos setores acadêmicos, políticos e sociais da Venezuela, preocupados pela grave situação nacional e o acirramento da crise institucional exacerbada no país pela polarização extrema, promoveram em Caracas um evento denominado “Iniciativa de Diálogo Plural por Venezuela”, com o objetivo de avançar na construção de espaços de encontro e diálogo para uma saída pacífica, constitucional, eleitoral e democrática que permita reinstitucionalização e a recuperação da governabilidade democrática do país.

Na Sala “Monsenhor Romero” da Paróquia Universitária, realizou-se, no dia 23, uma coletiva de imprensa cujos porta-vozes foram a socióloga, coordenadora do Observatório Global dos Meios de Comunicação, Sessão Venezuela, Maryclen Stelling, e o ex-presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Pedro Nikken, na qual deram a conhecer a iniciativa e sua Declaração Pública.

“A missão é promover o diálogo entre os venezuelanos como a via para dirimir nossas diferenças e estabelecer acordos que vitalizem e fortaleçam o tecido social e institucional”, assinalaram. Nesse mesmo sentido, declaram “rechaçar qualquer forma de violência, ingerência ou imposição estrangeira” e chamam as partes para que dialoguem com o firme compromisso de alcançar acordos focados em garantir a governabilidade e a soberania. De igual forma respaldam o processo de diálogo iniciado com a ajuda do governo da Noruega, o qual esperam que possa ser culminado exitosamente apesar dos contratempos que possam surgir no caminho.

No encontro com a imprensa, respaldando esta iniciativa estiveram personalidades de diferentes âmbitos políticos e de importante representatividade institucional: Inés Quintero, Presidente da Academia Nacional de História; Edgardo Lander, professor da Universidade Central da Venezuela, UCV; Ignacio Ávalos, do Observatório Eleitoral Venezuelano; Ricardo Sucre, politólogo; Carlos Azpúrua, cineasta, deputado da Assembleia Nacional Constituinte, ANC; Francisco José Virtuoso, Reitor da Universidade Católica Andrés Bello, UCAB;  Mireya Lozada, psicóloga da UCV, especialista em resolução de conflitos; Vladimir Villegas, jornalista, ex-vice-chanceler e ex-embaixador da Venezuela no Brasil durante o governo de Hugo Chávez; Andrés Antillano, professor da UCV, ativista dos Comitês de Terra Urbanos; Gustavo Márquez Marín, da Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição: Oscar Schemel, deputado da ANC e comunicador social; Santiago Arconada da Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição; Víctor Rago, professor da UCV; Verónica Zubillaga, professora da Universidade Simón Bolívar, USB; Mariela Ramírez, do coletivo Dale Letra; Héctor Navarro, professor da UCV, e da Plataforma Cidadã em Defesa da Constituição; entre outros participantes no evento.

A Declaração Pública que entregaram à imprensa, é a que segue:

DECLARAÇÃO:

É urgente um acordo político institucional para tirar a Venezuela de sua atual situação. Uma crise multidimensional abrange cada uma das principais áreas da sociedade e se expressa na deterioração das condições de vida da população do país.

No transcurso dos últimos anos tem se acirrado progressivamente uma crise política que, entre outros efeitos, priva o país das condições de governabilidade indispensáveis para fazer frente à situação que atravessa a Venezuela. A luta política exacerbada tem se prolongado indefinidamente, numa espiral de tentativas dos contendores por encurralar-se e destruir-se reciprocamente, sem outro resultado que debilitarem-se eles mesmos e ao país, aprofundando a animosidade que os separa. Este é o cenário em que se agravam as privações do povo, cuja devida atenção é vulnerada pelo confronto político.

Tal situação requer atenção imediata. Urge resolvê-la, sem perder-se em uma interminável discussão sobre atribuição de responsabilidades. Uma discussão pendente que não ajuda a abordar a presente problemática, ainda quando também não é desculpa para não fazê-lo. O dever daqueles que lideram o país desde os distintos setores políticos e sociais é levá-lo adiante e pôr fim quanto antes ao sofrimento do povo, ao risco de uma confrontação armada e até de uma inaceitável intervenção militar estrangeira. Não pode postergar-se a estabilização política e institucional, indispensáveis para a recuperação da economia, tratar a grave crise social e a problemática humanitária que oprimem a Venezuela.

Os que aqui declaramos somos originários de setores diversos e muito heterogêneos em sua maneira de ver o país desde o ponto de vista político e ideológico. Mantemos diferenças que têm nos separado por anos e ainda nos separam, mas nos congrega a aspiração de debater livremente, dentro dos marcos da Constituição e os valores da democracia. Em dias recentes, mantivemos várias reuniões com o intuito de nos reconhecermos e  compartilharmos nossa preocupação pela Venezuela, que está muito acima de nossas diferenças. Por isso decidimos dialogar, pronunciar-nos e atuar conjuntamente.

Concordamos, sem a menor dúvida, em que o caminho para enfrentar este momento é o do reconhecimento e o entendimento entre os atores e partidos políticos, através de mecanismos em que generosamente se aproximem as diferenças que nos separam para chegar a acordos pela Venezuela. Acordos que teriam evitado males maiores e sofrimentos desnecessários. A experiência de outros países indica que ao final sempre se acaba negociando, ainda quando com maiores custos e mais obstáculos.

Queremos dar nosso respaldo àqueles que atualmente estão se esforçando à procura desse entendimento, particularmente no processo iniciado com a ajuda do governo da Noruega, que esperamos possa ser culminado exitosamente apesar dos contratempos e provocações que possam surgir no caminho.

Expressamos igualmente nosso categórico rechaço a qualquer forma de violência, ingerência ou imposição estrangeiras. Fazemos um chamado às partes para que dialoguem com o firme compromisso de alcançar acordos que assegurem pela via pacífica, constitucional, eleitoral e democrática, as transformações necessárias para garantir a governabilidade.

A solução não virá de outros. Está ao nosso alcance, se verdadeiramente a queremos, se atuamos com humildade republicana e se temos por norte o supremo interesse do país e não a prevalência de outros interesses.

A solução é entender-nos.

Caracas 23 de agosto de 2019