Leonardo Giordano: Bolsonaro não é louco, é representante das elites
Mesmo com o confinamento, a COVID-19 é uma doença gravíssima que já vai matar muita gente; sem o confinamento então é uma tragédia sem precedentes na nossa geração. Para quem acha que a doença é só de idoso, nos Estados Unidos 38% das internações são de pessoas que estão abaixo dos 50 anos. Há ainda um percentual expressivo de pessoas entre 20 e 40 anos internadas e perdendo a vida. Para quem não está convencido, basta olhar os exemplos da Itália, onde a mortandade chega a 9%.
O que Bolsonaro está querendo dizer com o seu pronunciamento é o seguinte: ele topa que haja uma infecção mais rápida de toda a população, com número de mortes aumentado, desde que não paralise a economia. É o raciocínio da elite financeira. Como tem muita gente sensata que vai seguir as recomendações dos especialistas e da OMS contra as loucuras de Bolsonaro, ao mesmo tempo ele se vacina daquilo que obrigatoriamente vai vir depois: uma profunda recessão.
Os números de crescimento econômico do Brasil já eram medíocres antes do coronavirus, mas depois dele o cenário será devastador. Resumindo, Bolsonaro está passando a seguinte mensagem: eu aceito ser louco hoje para que amanhã eu tenha uma desculpa para apresentar ao povo, mandei a economia funcionar, foi esse pessoal aí que falou para paralisar tudo. Dessa maneira ele pretende livrar-se a si próprio, como é típico do bolsonarismo encontrar bode expiatório pra tudo, não assumir responsabilidade e agir como moleque. Afinal de contas, é culpa do Congresso, da Imprensa, dos comunistas, de todo mundo, menos de quem detém o poder para tomar as medidas, menos culpa dele. Quando derramaram óleo na costa brasileira, ele culpou a Venezuela. Quando tacaram fogo na Amazônia, ele culpou as ONGs. Agora é o chinês que está jogando o vírus de propósito no Brasil e quando chegar o problema da economia não vai ser responsabilidade dele também.
Foi uma declaração irresponsável e absurda, mas faz parte de um plano articulado e lógico dentro da psicopatia e da loucura do plano. Tem razão quem diz que foi uma fala de louco e é verdade. Mas há um plano de louco dentro da fala do louco que pretende ser visionário.
É muito importante combater o obscurantismo, as trevas, a escuridão e essa representação dos sistemas financeiros internacionais que aceitam a perda da vida das pessoas por essa defesa de valores. Temos que preservar em primeiro lugar as vidas e defender a ciência para enfrentar essa grave crise. Por fim, eu repudio a fala do presidente da República, defendo a união para que prevaleça a voz da razão sobre as medidas de isolamento que achatam a curva de contaminação e preservam vidas. E que a gente possa contar com a ajuda do governo para a recuperação da economia, como por exemplo, a destinação de uma renda mínima básica para todas as cidadãs e todos os cidadãos do Brasil. Não indo muito longe, os próprios Estados Unidos estão fazendo isso nesse exato momento.
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