Se optar por ficar sem o gás da Rússia, Europa pode ter indústria paralisada

A Rússia não vai tolerar os hábitos de roubo dos países ocidentais e não permitirá o roubo de seu dinheiro ganho com a exportação de petróleo e gás, disse o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, em entrevista à empresa de televisão italiana Mediaset.

“Se eles queriam ‘punir’ a Rússia, eles a roubaram… Por alguma razão, ninguém fala sobre isso. Onde está o jornalismo honesto? Agora propomos que os suprimentos sejam considerados pagos não quando euros ou dólares chegam ao Gazprombank, mas quando eles são convertidos em rublos que não podem mais ser roubados. Essa é toda a história. Nossos parceiros estão bem cientes disso”, enfatizou Lavrov. Ele observou que tal roubo se tornou possível devido ao fato de que a Gazprom foi forçada a manter dinheiro em suas contas em bancos ocidentais, de acordo com as regras adotadas no Ocidente.

Para sanar o roubo, o presidente russo, Vladimir Putin, assinou um decreto que determina o fornecimento de gás apenas por rublos a ‘estados hostis’ (incluindo todos os países da UE) – ou seja, os que decretaram sanções contra a Rússia.

Polônia e Bulgária foram os primeiros a terem o fornecimento cortado pela recusa russa de praticar a filantropia em prol do bloco europeu. Nos próximos dias e semanas, outros países europeus terão de decidir se irão insistir no roubo e fraude, ou se vão manter a energia ligada para fazer sua indústria funcionar e para aquecer suas casas no inverno. A decisão é deles.

Como assinalou o sociólogo Jorge Vilches, a União Europeia só quer pagar as importações russas com o que chamou de “euros Schrödinger”, como ironiza os euros ‘pagos’ à Gazprom em território europeu e imediatamente confiscados pelas sanções, e que assim jamais chegam aos cofres da gigante russa do gás.

Os gritos de “rublos, nem pensar”, não passam disso: um assalto para obter gás de graça.

No célebre experimento imaginário, o cientista austríaco, um dos pais da mecânica quântica, enunciou uma caixa em que estava um gato, na qual havia um mecanismo que aleatoriamente quebrava uma ampola com gás mortal. Enquanto não se abrisse a caixa, o gato estaria ‘morto’ e ‘vivo’ simultaneamente.

Como os euros com que europeus querem pagar o gás russo. Existem na hora de imprimir o recibo de depósito para a Gazprom mas inexistem na hora de ingressar efetivamente nas contas da gigante russa do gás e terem serventia.

Vilches explica que, no passado, as importações russas eram pagas por meio de transferências bancárias comuns feitas para contas de exportadores russos em bancos da UE. Agora, a liderança da UE ordenou que essas transferências sejam congeladas instantaneamente assim que recebidas, para que a Rússia – ou qualquer outra pessoa – não possa usar esses euros.

Assim, o Banco Central Europeu agora “imprime” euros em um teclado e depois transfere esses euros para as contas bancárias dos exportadores russos na UE, embora agora com o status “congelado”. Assim, a Rússia nunca consegue usar esses euros – que, na verdade, nunca vêem a luz do dia.

Inacreditavelmente, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que encabeça o assalto, acusa a Rússia de “chantagem” e faz conclamações retumbantes a que os europeus se mantenham “unidos e solidários” no furto.

“O sexto pacote de sanções” vem aí, alardeia madame von der Leyen – assim como o próximo inverno e a alta da inflação.

Enquanto isso, de volta ao planeta Terra, registra Vilches, quatro compradores da UE fizeram pagamentos de gás em rublos e pelo menos 10 países abriram contas bancárias russas em rublos.

É ele quem conclui: “Os euros Schrödinger são uma piada, e uma piada ruim. Como diria John Connally: ‘São as commodities da Rússia, mas o problema é seu’”.