Castillo:“Rejeitamos tudo o que vai contra a democracia e não permitiremos que roubem os peruanos"

O professor rural e dirigente sindical Pedro Castillo já é oficialmente presidente eleito do Peru. O Juri Nacional Eleitoral o proclamou como vencedor do segundo turno na segunda-feira (19), em cerimônia por videoconferência seis semanas após o término da votação oficial.

De acordo com os resultados oficiais das eleições realizadas em 6 de junho, o candidato do partido Perú Libre obteve 50,12% dos votos, ante 49,87% de Keiko Fujimori, o que representa uma diferença de pouco mais de 44.000 votos.

“Muito obrigado companheiros e irmãos, muito obrigado a todos os peruanos”, foram suas primeiras palavras desde a sacada da sede do Partido, no centro de Lima. “Convoco a mais ampla unidade para abrir as portas do próximo bicentenário de nossa Independência. Trago o coração aberto a todos, aqui neste peito não há rancor. Companheiros e irmãos, o Peru vem em primeiro lugar”, disse Castillo durante seu breve discurso de vitória. “Convido os contendores políticos a se aproximar. Invoco a dirigente da Fuerza Popular, senhora Fujimori, para que não coloquemos mais barreiras nesta caminhada, não coloquemos mais obstáculos para fazer este país avançar”, assinalou.

Horas antes da proclamação de Castillo, Fujimori teve que declarar que reconhecia os resultados “porque é o que a lei e a Constituição determinam”. Ela, que agora deve ir a julgamento por lavagem de dinheiro no Caso Odebrecht, apresentou inúmeras contestações de votos e recursos para adiar a proclamação do resultado, enquanto seus apoiadores exigiam nas ruas a anulação do voto e a convocação de novas eleições.

Mas, os peruanos que votaram no professor, mesmo tendo que tomar os cuidados que impõe a pandemia, não ficaram quietos. Desde o dia 7 de junho, dezenas de milhares de peruanos de jurisdições rurais e comunidades indígenas chegaram à capital, Lima, para acompanhar a contagem dos votos e realizaram dezenas de marchas pelo centro da capital, enquanto os advogados de Fujimori tentavam emplacar que tinha havido fraude nas localidades onde o candidato camponês ganhou em massa. Na terça-feira (13), o plenário do Júri Nacional Eleitoral (JNE) encerrou a resolução dos pedidos de apelação de Fujimori e negou todos, pois não encontraram indícios de falsificação de identidade ou falsificação de assinaturas de membros das assembleias de voto, como alegado pela candidata.

Castillo assinalou que foi “uma luta de muitos anos” para alcançar a vitória popular celebrada nesta segunda-feira. Ele afirmou que será “um governo de todos os sangues, sem qualquer discriminação, onde ninguém seja deixado para trás”. É também o triunfo da mudança, de uma proposta que ganhou pedindo o apoio da população para mudar o modelo econômico neoliberal que prevalece no país há mais de três décadas. Pronunciou palavras de apoio e reconhecimento às populações indígenas, “aos homens e mulheres do Peru profundo”, aos quais assegurou que governaria para defender seus direitos.

“Rejeitamos tudo o que vai contra a democracia. Não vamos permitir que um centavo seja roubado do povo peruano. Ratificamos o nosso compromisso de lutar contra a corrupção e os grandes males do país”, foram as palavras com que encerrou o seu discurso de vitória perante uma multidão entusiasmada que, finalmente, pôde festejar.

Castillo tomará posse em 28 de julho, dia em que expira o mandato do presidente interino Francisco Sagasti e no qual o Peru comemora o bicentenário de sua independência. É a primeira vez que a proclamação ocorre poucos dias antes da mudança de comando. Normalmente, o nome do novo presidente seria anunciado pelo JNE cerca de quatro semanas antes.