Com panelaço em Bogotá colombianos celebram prisão de Uribe

A Corte Suprema de Justiça da Colômbia ordenou na terça-feira, 4, que o senador e ex-presidente por dois mandatos entre 2002 e 2010, Álvaro Uribe, seja mantido em prisão preventiva domiciliar. Ele é acusado de fraude processual e suborno de testemunhas em um caso que o vincula à criação de bandos paramilitares.

O caso contra Uribe foi iniciado em 2012, com a acusação de ter manipulado testemunhas em um processo contra o senador Iván Cepeda, do partido de oposição Polo Democrático Alternativo (PDA).

Em 2014, Cepeda denunciou Uribe por conexões com paramilitares e narcotraficantes usando como evidência as testemunhas de vários ex-integrantes das Autodefesas Unidas de Colômbia. Uribe, em resposta, acusou o senador de manter contato com paramilitares presos para que, sem base na realidade, envolvessem seu nome em atividades criminosas de grupos ultradireitistas que atacavam os setores de esquerda no país.

Essas testemunhas, que estavam presas e não tinham mais vínculos com Uribe, declararam que o ex-presidente e seu irmão Santiago criaram o Bloco Metro, um setor do movimento paramilitar que atacou o movimento armado de resistência de maneira feroz, deixando dezenas de milhares de vítimas, a maioria da população civil.

Santiago Uribe permanece preso desde 2016 e é acusado de ter criado outro grupo paramilitar, os Doce Apóstoles (Doze Apóstolos).

Porém, o caso teve uma reviravolta quando um dos juízes da Corte Suprema não só arquivou o processo contra Cepeda, como também abriu um inquérito sobre o ex-presidente por manipulação de testemunhas. Com a decisão dos juízes na última terça-feira, Uribe se tornou o primeiro ex-presidente colombiano a receber uma ordem de prisão.

Desde esse momento, Uribe é acusado por tentativa de manipulação do réu Juan Guillermo Monsalve, o ex-paramilitar que o vinculou com a criação do bloco Metro das Autodefesas, que operou no departamento de Antioquia, do qual Uribe foi governador entre 1995 e 1997.

Apesar da relação entre Uribe e os grupos paramilitares ter sido amplamente denunciada ao longo dos últimos anos, o atual presidente colombiano, Iván Duque, o defendeu em diálogo com a Rádio Caracol, após a divulgação da notícia.

Os problemas de Uribe com a Justiça colombiana não se resumem ao vínculo com os grupos paramilitares. O ex-vice-ministro colombiano de Transporte, Gabriel García Morales, que serviu durante seu governo – e homem de sua confiança – foi condenado no final de 2017 a 5 anos e 2 meses de prisão por ter recebido 6,5 milhões de dólares de propina da construtora Odebrecht para que intercedesse a seu favor na licitação para a construção da estrada Rota do Sol II, avaliada em mais de 1 bilhão de dólares.

Os subornos pagos pela Odebrecht na Colômbia garantiram que ela fosse a única empreiteira habilitada para a licitação de um trecho da estrada. O valor das propinas chega a 84 bilhões de pesos (118 milhões de reais). O escândalo, que estourou no início de 2017, mexeu na Administração de Álvaro Uribe.

Desde que notícia da decisão da Corte Suprema foi anunciada, na terça-feira, 4, muitos cidadãos de Bogotá fizeram um sonoro panelaço a favor da prisão preventiva de Uribe:

E apesar das restrições impostas às aglomerações em espaços públicos durante a quarentena, milhares se manifestaram no centro de Bogotá, para apoiar a medida.