A mídia empresarial tem registrado com grande destaque as movimentações da direita e setores do chamado centro em busca da construção de uma candidatura viável que possam chamar de sua com o rótulo de “centrista”.

Por José Reinaldo Carvalho*

Essas demarches se intensificam com a emissão de claros sinais de fracasso das pretensões do tucano Geraldo Alckmin e da crescente rejeição a todas as pré-candidaturas lançadas como balões de ensaio do campo direitista: Rodrigo Maia e Henrique Meirelles, para falar apenas daquelas que ocupam posição de destaque no regime do golpe.

No cenário pré-eleitoral, que continua totalmente aberto, a semana passada registrou novos movimentos, a partir da realização na terça-feira (19), de um ágape em Brasília, que reuniu o pré-candidato Ciro Gomes, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, o presidente do DEM, ACM Neto, e outros convidados. O álacre e amistoso ambiente, madrugada adentro, registrado por alguns jornalões, é revelador da disposição de alguns atores políticos de atrair o pedetista para um condomínio político que, mantendo aparência de coalizão de centro-esquerda, democrática e desenvolvimentista, possa ser útil a uma manobra de última hora que garanta o controle das classes dominantes sobre o futuro governo, caso uma candidatura dos grandes partidos da direita (PMDB, DEM, PSDB) não vingue. Seria também a maneira de assestar um golpe de misericórdia nos planos de Lula e do PT e assim garantir o definitivo isolamento do líder da corrida eleitoral segundo todas as sondagens de opinião pública.

Curiosamente, nenhum destaque foi dado, a não ser pelo Brasil247 e o Diário do Centro do Mundo, a uma entrevista concedida pelo pedetista a um veículo estadunidense, Americas Quarterly, em que o ex-governador cearense faz rasgados elogios à Operação Lava Jato, reitera críticas ácidas a Lula e lança uma frase antológica: “O Brasil não precisa e não pode sustentar um governo de esquerda”.

A expectativa das forças democráticas e progressistas é de que os partidos de esquerda e centro-esquerda consigam unir-se em torno de um programa e uma candidatura com densidade política e eleitoral, autoridade moral, trajetória coerente, capacidade de liderança, lucidez política, carisma e dom para mobilizar as energias do povo brasileiro, a fim de derrotar o regime do golpe e abrir caminho à construção de um governo democrático, progressista, patriótico, antineoliberal, vocacionado para realizar reformas estruturais democráticas e sociais.

Esperam, igualmente, que tal conquista seja fruto de eleições limpas, democráticas, a salvo de amarras, restrições e constrangimentos, como a prisão de Lula, para que não se afigurem como uma farsa e não resultem na defraudação da vontade popular.

O Brasil necessita de um governo de frente ampla, sob liderança progressista, com forte núcleo de esquerda, identificado com as mais profundas aspirações do povo brasileiro. Não poderá ser um governo exclusivista nem sob hegemonia decretada de uma só força política. Mas para desempenhar um papel progressivo e transformador, há de ter nitidez política e social. Frente ou coalizão ampla não é a mistura de forças políticas antípodas. Para algo há de servir a experiência histórica.

Sem dúvida, não é um exercício fácil prefigurar como se constituiria tal coalizão ou quais seriam o perfil e os contornos exatos de um eventual governo das forças progressistas.

Certeza mesmo só uma: o Brasil não precisa de um, mais um, governo direitista.

A experiência com governos direitistas é fartamente conhecida e acarretou irreparáveis perdas ao desenvolvimento nacional e às condições de vida do povo brasileiro.

O atual regime golpista, cujos fiadores principais foram alguns dos comensais do ágape da terça-feira passada, é emblemático do que pode representar um governo direitista no comando do país.

O DEM e seus partidos satélites, suas lideranças, como Rodrigo Maia e ACM Neto, são parte indissociável da cúpula das forças políticas reacionárias do Brasil do golpe. Maia, golpista de primeira hora, é o mais afanoso político do país imerso na tarefa de construir uma frente “ampla” da direita, para assegurar a formação de um governo antidemorático, antinacional e antipopular.

A esquerda não pode cair nesta cilada.

*Jornalista, secretário nacional de Relações Internacionais do PCdoB.