Jorge Furtado e Guel Arraes. Fotos: EBC e reprodução/TV Cultura

“O jornalismo brasileiro cometeu muitos erros sérios recentes e foi em grande parte responsável pela ascensão da extrema direita no Brasil, por ter comprado a Lava Jato fácil demais, por não ter investigado a fundo os interesses de todos”. A análise foi feita pelo diretor e roteirista gaúcho Jorge Furtado, em entrevista concedida por ele e seu colega de profissão Guel Arraes à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

O bate-papo foi publicado na edição deste domingo (21), por ocasião do lançamento nos cinemas, na próxima quinta-feira (25), de “O Debate”. O filme nasceu de uma peça escrita pelos dois no ano passado; conta com a direção de Caio Blat e com os atores Débora Bloch e Paulo Betti aos personagens principais. Eles dão vida a um casal de jornalistas separados após anos de casamento, mas que mantêm uma boa relação e trabalham juntos na televisão. A história gira em torno de um dilema que surge durante a cobertura do último debate eleitoral, cujos candidatos são identificados como “presidente” e “ex-presidente”. 

Segundo Guel Arraes, “esse filme é muito diferente de tudo o que eu já fiz. Tem uma motivação diferente, uma ambição mesmo, de causar uma mínima interferência na realidade. Até formalmente ele é diferente de tudo o que eu e o Jorge já fizemos, porque ele é muito falado, tem diálogo o tempo todo. Como se a gente estivesse mesmo desabafando”. 

O pernambucano conta que a ideia de escrever a peça serviria “nem que fosse só para dizer para os nossos netos que a gente fez alguma coisa no período em que dois raios caíram simultaneamente no Brasil, a pandemia e o Bolsonaro. E o que dava para fazer naquele momento era um texto de teatro”. 

“A gente só sabia das coisas pelos jornais, o governo não falava nada. O jornalismo foi uma ilha de salvação nesses dois anos. Mas não foi sempre assim”, disse Furtado, arrematando com a análise feita sobre a postura diante da Lava Jato que abre este texto. 

Para o diretor gaúcho, “aquilo desde o início não era uma questão de justiça, era uma atividade política. E o jornalismo brasileiro mergulhou na história de cabeça, comprou o discurso da direita de que a corrupção era responsável pela pobreza”. 

(PL)