A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) das Fake News, que investiga a divulgação de notícias falsas nas redes sociais e assédio virtual, realiza oitiva decorrente do Requerimento nº 240/2019. rrMesa: rdepoente, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP); rpresidente da CPMI das Fake News, senador Angelo Coronel (PSD-BA); rrelatora da CPMI das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA).rrFoto: Geraldo Magela/Agência Senado

A ex-líder do governo e ex-aliada de Bolsonaro, deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), entregou a atuação de Carlos e Eduardo Bolsonaro na produção de notícias falsas.
Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News (CPMI da Fake News), na quarta-feira (4), a deputada declarou que “Carlos e Eduardo são os cabeças, os mentores” das fake news, comandando uma rede de assessores encarregada de promover ataques virtuais nas redes sociais contra desafetos da família e adversários do governo.
Ela deu detalhes da atuação do grupo que ficou conhecido como “gabinete do ódio”, uma referência aos assessores que ocupam uma sala no terceiro andar do palácio, próximo de onde despacha Jair Bolsonaro.
Ela afirmou que filhos do presidente têm rede de perfis que espalham fake news.
De acordo com ela, o grupo tem uma estratégia bem definida e organizada, que começaria com uma lista de personalidades consideradas “traidoras” e que seriam escolhidas como alvo dos ataques. “Qualquer pessoa que eventualmente discorde [da família Bolsonaro] entra como inimigo da milícia”, relatou.
“Escolhe-se um alvo. Combina-se um ataque e há inclusive um calendário de quem ataca e quando. E, quando esse alvo está escolhido, entram as pessoas e os robôs. Por isso que, em questão de minutos, a gente tem uma informação espalhada para o Brasil inteiro”, afirmou.
Joice relatou aos parlamentares da CPMI que a disseminação das fake news e memes com ofensas segue um calendário estabelecido pelo grupo e uma rede de parlamentares e assessores, além de robôs, é responsável por compartilhar as mensagens de forma articulada a fim de viralizá-las nas redes o mais rápido possível.
“Estou mostrando o modus operandi, estou mostrando pessoas ganhando dinheiro público para atacar pessoas”, disse, em referência aos assessores lotados no Planalto.
A deputada fez uma apresentação num painel para mostrar como funciona o esquema.
Ela relatou ter usado um software desenvolvido por uma universidade norte-americana para analisar os perfis no Twitter do presidente Jair Bolsonaro e do deputado Eduardo Bolsonaro. Joice revelou que quase 2 milhões de seguidores dos perfis deles são robôs.
E mostrou trechos de conversas no Whatsapp atribuídas ao “gabinete do ódio”, com orientações sobre os procedimentos a serem seguidos. Os diálogos teriam sido repassados por um integrante do grupo.
“Essas informações foram passadas a mim. Por óbvio, vou preservar a fonte. Eu não faço parte desse grupo, demorei para conseguir essas informações, porque é muito sigiloso, mas até algumas pessoas que fazem parte entendem que todos os limites foram estourados”, assinalou a deputada.
Joice declarou que os integrantes do “gabinete do ódio” utilizam dois programas para conversar. Um deles é o Instagram. O outro se chama Signal e, segundo ela, nesse aplicativo é possível definir em quanto tempo uma mensagem será apagada após o envio.
“Segundo o grupo integrante do gabinete do ódio, é mais seguro para se conversar”, disse Joice.
Após brigar com Bolsonaro e seus filhos, Joice disse que foi ameaçada. Ela falou para os parlamentares que fez denúncias por escrito na Polícia Legislativa da Câmara, na PF e na Polícia Civil.
“Uma das ameaças veio por WhatsApp – o negócio é tão maluco que a pessoa [que ameaça] nem tenta esconder”, declarou. O deputado Paulo Ramos (PDT-RJ) solicitou cópias dessas denúncias.
Questionado na quarta-feira sobre a investigação da CPMI, Bolsonaro afirmou que “inventaram um gabinete do ódio” e que “alguns idiotas acreditaram” na informação.