PCdoB 96 anos, como me tornei comunista, por Jandira Feghali
Abrindo a série de publicações “Como me tornei comunista…filiado (a)!“ em homenagem aos 96 anos do Partido Comunista do Brasil celebrado no próximo domingo (25), publicamos um artigo de uma das principais lideranças política do Brasil, que tão bem representa o PCdoB, a deputada federal pelo Rio de Janeiro, Jandira Feghali. Filiada há 37 anos no PCdoB, ela é uma personagem que faz parte da história do Partido.
Jandira nasceu também em março, no dia 17 de 1957 na cidade de Curitiba, no Paraná. Mas, construiu sua carreira política pelo Estado do Rio de Janeiro. Ela é irmã do pianista e tecladista Ricardo Feghali e mãe de dois filhos.
Entrou no Parlamento em 1987, como deputada estadual pelo Rio de Janeiro. Em 1991, elegeu-se deputada federal, sendo reeleita três vezes consecutivas. Posteriormente, foi secretária do Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia da prefeitura de Niterói-RJ.
Em 2008, concorreu à prefeitura do Rio, ficou na quarta colocação. Em seguida, foi secretária de Cultura da prefeitura do Rio. Em 2011, foi eleita novamente como deputada federal e permanece até hoje no mandato.
Aos 61 anos, completados recentemente, Jandira continua lutando bravamente pelos direitos do povo. Ela foi autora da lei que obriga os planos de saúde a oferecerem cirurgia reparadora de mama em casos de mutilações causadas por tratamento de câncer, foi relatora da Lei Maria da Penha e atualmente luta pela situação caótica do Estado do Rio de Janeiro.
Segue abaixo o seu artigo em homenagem ao aniversário de 96 anos do PCdoB:
“Juntos, nas lutas”, por Jandira Feghali
O caminho que me levou à filiação ao Partido Comunista do Brasil tem tudo a ver com a minha luta na saúde pública. Eu, estudante de medicina, já via na década de 70 que ações individuais não bastavam para resolver os problemas do coletivo. Fundamental foi minha vivência no projeto Rondon, onde cuidávamos de crianças com verminose que, logo em seguida, eram obrigadas a beber a água do rio para matar a sede. Via pessoas com dor de cabeça ou fome, que não tinham como comer fora de nossos ambulatórios. Ou então pacientes que se internavam regularmente porque não tinham como comprar remédios ao voltar pra casa. Era como “enxugar gelo”, uma angústia sem fim. E esse foi o estopim.
Dentro da luta dos profissionais de saúde, participei da primeira greve dos médicos residentes em 1978, logo em seguida à grande greve do ABC conduzida por Lula. Foi aí que passei a me embrenhar mais na luta do partido dentro da saúde, do movimento de mulheres, contra a Ditadura e pela anistia. A legenda era clandestina há mais de 40 anos e sem perspectiva nenhuma de conseguir voltar a concorrer em eleições livres no Brasil. Com essa aproximação, conheci suas teses e me identifiquei, vendo que era um discurso coerente com a prática.
Minha filiação ocorreu em 1981 num momento em que o movimento pela liberdade crescia no país. Depois de anos de luta pelo fim da clandestinidade do PCdoB, conseguimos ter a garantia para apresentar nossas candidaturas. As dificuldades eram muitas. Perdemos vários quadros políticos de nosso partido durante a Ditadura e precisávamos reconstruir o caminho para disputar oficialmente um espaço para nossas ideias de uma sociedade menos desigual, um Brasil forte e soberano.
Neste contexto, fui convidada a ser candidata a deputada estadual nas eleições de 1986 no Rio de Janeiro. Confesso que demorei a decidir, mas a vontade de fazer da política um instrumento de profunda transformação social me motivaram. Era a possibilidade de pararmos de “enxugar gelo”. Tive 100 mil votos naquela eleição, sendo a mulher mais votada do Estado do Rio, o que permitiu dar protagonismo ao partido em seus primeiros passos na redemocratização”.