Irã: para salvar Acordo Nuclear, EUA devem retirar as sanções
O caminho para salvar o JCPOA (Plano de Ação Conjunto Global, designação do acordo nuclear) é claro”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Said Khatibzadeh, acrescentando que os Estados Unidos “devem levantar total e efetivamente as sanções opressivas” por meio de um “processo verificável”.
Ele advertiu ainda que os EUA “devem dar garantias de que nenhum governo norte-americano repetirá o comportamento” de Donald Trump, que rasgou unilateralmente em 2018 um acordo duramente negociado por seu antecessor, Barack Obama, assinado em 2015, e que vinha sendo escrupulosamente cumprido por Teerã, conforme atestou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Acordo que tinha como signatários, além dos EUA e do Irã, os demais membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Rússia, China, Grã Bretanha e França) e a Alemanha e União Europeia, e respaldado por uma resolução do CS.
Retomada das negociações
No próximo dia 29, vão ser reiniciadas em Viena as negociações buscando a retomada do JCPOA, depois de cinco meses de paralisação, em razão do pouco empenho do governo Biden em anular as violações cometidas por Trump e, depois, das eleições no Irã,
Pelo acordo JCPOA, o Irã, em troca de aceitar os controles mais rígidos já realizados pela Agência Internacional de Energia Atômica sobre o programa nuclear iraniano, obteria o fim das sanções e o restabelecimento das relações comerciais.
De forma resumida, o regime Trump, além de rasgar um acordo sob guarda do Conselho de Segurança da ONU, buscou através das mais drásticas sanções contra o Irã matar de fome seu povo, chegando a extremo de tentar impedir que o país exportasse seu principal produto, o petróleo.
A bem da verdade, Trump rasgou o JCPOA, assim como também rasgou o Tratado de Proibição de Armas Nucleares Intermediárias (INF) que evitou por décadas a guerra nuclear no teatro europeu assim como o Tratado dos Céus Abertos, e quase anulou o último tratado existente de prevenção da guerra nuclear, o Novo Start. E como tentou sepultar os acordos de Oslo e as resoluções da ONU sobre o estado palestino soberano, querendo um bantustão na margem do Jordão.
Como vice-presidente do governo que assinou o JCPOA, Biden não tinha porque enveredar pela senda de Trump, esticando por mais meses o bloqueio assassino contra o Irã, na pretensão de arrancar de Teerã a submissão na região, fosse na solidariedade ao Iêmen, ao Líbano ou à Síria, bem como o desarmamento iraniano enquanto entupiam os feudais sauditas com armas de última geração.
Ação ainda mais deletéria e criminosa já que a manutenção das sanções – por Biden – se deu sob a mais grave pandemia em um século, com o Irã sendo duramente afetado.
O Irã também sempre deixou claro que o uso da cláusula de proteção contra a má fé, do próprio acordo, que acionou para paulatinamente recuar das restrições extremas que aceitara, e que excedem em muito as cláusulas rotineiras da AIEA, seria prontamente desativado caso os EUA voltassem a cumprir o JCPOA.
Na próxima semana, o principal negociador nuclear iraniano, Ali Bagheri Kani, nomeado pelo recentemente eleito presidente Ebrahim Raisi, vai visitar vários países europeus, incluindo França, Alemanha, Reino Unido e “provavelmente” Espanha.