Foto: crédito EBC

O Indicador da Inflação por Faixa de Renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatou que o aumento dos preços de alimentos fez com que a inflação fosse duas vezes mais alta para os mais pobres nos últimos 12 meses.

De acordo com o levantamento divulgado na segunda-feira (14), a inflação para as famílias que vivem com renda domiciliar menor que R$ 1.650 cresceu 3,2% nos últimos 12 meses. Para os que têm renda mensal mais alta, a alta dos preços foi de 1,5%.

No mês de agosto, mais especificamente, houve crescimento de 0,38% para a inflação dos mais pobres, enquanto para quem tem a faixa de renda mais alta, a variação foi negativa em -0,10%.

Para calcular as diferentes faixas de inflação, o Ipea se baseia em uma cesta de bens e serviços tipicamente consumida por famílias mais pobres e mais ricas. Em geral, as famílias mais pobres dedicam uma parcela maior do orçamento para o consumo de bens básicos, como alimentos.

Aqueles com renda mais alta comprometem uma parte maior da renda com serviços que, por conta da pandemia, tiveram redução de preços nos últimos meses.

“Em agosto, o subgrupo alimentos e bebidas contribuiu com 0,20 ponto percentual para a inflação da classe de renda mais baixa, respondendo por 53% da variação total da inflação deste segmento”, disse Maria Andreia Parente Lameiras, pesquisadora do Ipea.

As categorias foram responsáveis por 53% do resultado, puxados por valorização do feijão (35,9%), leite (23%), arroz (19,2%) e ovos (7,1%).

CULPA É DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

O preço do arroz, que virou manchete nos últimos dias, segue sem perspectiva de baixa ou qualquer política para tabelamento dos preços. Em São Paulo, um saco de 5 kg de arroz pode ser encontrado custando mais de R$ 40.

Sem qualquer política para proteger o mercado interno, ao contrário dos países mais atingidos pela crise sanitária que estocaram alimentos para garantir a segurança alimentar aos seus compatriotas, Bolsonaro apelou para o “patriotismo” dos fornecedores e comerciantes, mas declarou que não ia fazer nada para impedir a especulação com os preços dos alimentos.

Para o governo, a culpa é dos pobres que comeram mais durante a pandemia porque receberam o auxílio emergencial.

Além de não impedir a especulação com o preço do arroz, Bolsonaro facilitou a entrada do arroz norte-americano, o maior beneficiado com a isenção da tarifa, em prol da campanha à reeleição de Trump, zerando a tarifa de importação. Para entidades do setor, a importação não vai reduzir o preço do arroz e nem segurar a escalada de aumento. Segundo produtores, já estão previstos novos aumentos antes do preço se “estabilizar” e se “estabilizar” será com os preços nas alturas.

Soma-se à inflação a situação de crise que desempregou e paralisou a atividade dos trabalhadores informais. Diante da pandemia, o governo tentou sabotar o auxílio emergencial de R$ 600 – que segurou o consumo nos últimos meses – e reduziu o valor pela metade até o final do ano. Como não há perspectiva ou plano de recuperação econômica no horizonte, o aumento da inflação terá grande impacto sobre as condições de vida e renda dos brasileiros.

INFLAÇÃO

A inflação oficial do país é medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que considera famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos. O percentual de agosto (0,24%) foi o mais alto dos últimos quatro anos, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na semana passada. Em 12 meses, o índice subiu 2,44% – enquanto a inflação dos alimentos cresceu 8,83% no período.

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