O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, registrou deflação de 0,04% em setembro, influenciado principalmente pela queda nos preços de alimentos, segundo divulgou na quarta-feira (9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o menor resultado para o mês desde 1998.
A queda nos preços é resultado da baixa demanda, afetada pela crise econômica que elevou o nível de desemprego e subemprego no país a 24,6% da população.
O IPCA acumula alta de 2,49% no ano – enquanto a meta do governo é de 4,25%.
O grupo que teve maior impacto sobre a deflação identificada pelo IPCA foi o de alimentos e bebidas, que caiu 0,43% e pelo segundo mês seguido.
Artigos para a residência, que inclui itens como eletrodomésticos e equipamentos, teve a maior deflação no mês, de 0,76%.
“No setor de serviços a gente nota que tem ficado em um patamar baixo, a gente passou de 0,07% em agosto para 0,04% em setembro. Porque ele responde a questões de demanda”, disse Pedro Kislanov da Costa, gerente do Sistema Nacional de Índices de Preço.
O pesquisador cita a redução recente da taxa de desemprego, baseada na transferência de trabalhadores, antes empregados com carteira assinada, para a informalidade – neste caso, sem salário fixo, estabilidade e direitos – o que freia o consumo.
Com o aumento da informalidade e da queda na renda dos brasileiros, desempregados ou vivendo de “bico”, o consumo desaba, assim como os preços dos produtos. Sem venda, não há produção.
A queda dos preços faz com que a população consuma mais, no entanto, o problema da deflação – especialmente em situações de crise econômica como a do Brasil – está justamente localizado na inexistência de uma demanda.
O problema poderia ser um desequilíbrio entre produção e consumo associado à especulação frenética, como a que esteve nas origens da crise de 1929 nos EUA, mas nem este é o caso do Brasil: aqui há a especulação, mas a indústria de transformação do país está alternando estagnação com quedas.
A indústria de caiu -0,4% de janeiro a agosto e em relação ao ano anterior, -2,3%. Isso inclui a indústria de bens não duráveis (onde se encontra parte da produção de alimentos e bebidas, que teve maior deflação no mês) e de bens de consumo duráveis (como artigos para residência).
A longo prazo, isso pode impactar no fechamento de fábricas e empresas pela incapacidade de vender seus produtos e, portanto, em mais desemprego.
“O Brasil está flertando perigosamente com a deflação”, afirmou o economista, professor da Universidade de Brasilia (FACE/UNB) José Luis Oreiro. Segundo ele, a insistência numa política econômica liquidacionista está empurrando o Brasil para uma espiral deflacionária cujo desfecho será uma crise econômica sem precedentes na história da República.