O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF)

O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) confirmou à Polícia Federal que entregou para Jair Bolsonaro a invoice enviada pela Precisa Medicamentos, atravessadora na compra de 20 milhões de doses da Covaxin, que exigia o pagamento adiantado para uma empresa sediada em um paraíso fiscal.

Ele reforçou o depoimento que tinha dado à CPI da Pandemia.

Mesmo com as evidências de que havia um esquema de corrupção na compra da vacina, Jair Bolsonaro não encaminhou o caso para a PF e nem exigiu nenhuma investigação, o que configura, no mínimo, crime de prevaricação.

No depoimento para a PF, Luis Miranda foi perguntado se a invoice foi apresentada por ele e seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde, Luis Ricardo Miranda, para Jair Bolsonaro.

“Esse aqui é o kit de documentos que meu irmão levou para o presidente. Isso aqui foi apresentado para o presidente. Esses três papéis”, confirmou.

“Isso foi apresentado ao presidente?”, perguntou o policial federal se referindo à invoice.

“Foi apresentado ao presidente”, confirmou Luis Miranda.

“A invoice?”, questionou o delegado.

“Isso aqui foi apresentado ao presidente”, respondeu o deputado, mostrando a “invoice” para o delegado e para a câmera que filmava o depoimento.

Os três papéis eram: a Ação Civil Pública contra a Global Saúde por conta do golpe que deu no Ministério da Saúde em compra de R$ 20 milhões; o contrato de aquisição de 20 milhões de doses da Covaxin; e a invoice enviada pela Precisa Medicamentos com irregularidades que apontam para um esquema de corrupção.

Luis Ricardo Miranda também levou uma cópia de uma reportagem sobre o golpe de R$ 20 milhões da Global Saúde que liga o esquema ao então ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), atual líder do governo Bolsonaro na Câmara. A Precisa Medicamentos e a Global Saúde são empresas irmãs, tendo o mesmo dono.

Segundo Luis Miranda, seu irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda “entrega essa documentação toda. O presidente na hora olha toda a documentação e se atenta para a reportagem”.

No depoimento à CPI da Pandemia, Luis Miranda relatou que Jair Bolsonaro disse que isso era “coisa do Ricardo Barros”, mas o trecho vazado do depoimento à PF se encerra antes que isso pudesse ser dito.

“Meu irmão pega esses documentos – que eu pedi para ele imprimir de novo para mim”.

“É um documento que ele mostra a ação civil pública do ato de improbidade administrativa da Global [Saúde], que ele levou para o presidente para demonstrar que a empresa era investigada criminalmente por conta do caso dos medicamentos que não foram entregues”.

“Ele leva o contrato da aquisição das vacinas, e ele explica como é que funcionaria, que seriam as 20 milhões de doses. E aí o presidente entende, ‘ah entendi, essa aqui é a da vacina indiana que a gente tá comprando’”.

“‘Mas o problema é que a gente não comprou da indústria’ – aí meu irmão começa a explicar para ele – ‘a gente comprou de uma intermediária e ela que é o problema’”, continuou Luis Miranda no depoimento à PF.

Para tentar proteger Jair Bolsonaro, o governo federal criou a versão de que a invoice com as “irregularidades” só chegou ao Ministério da Saúde no dia 22 de março, que é depois da reunião com os irmão Miranda.

Outro servidor do Ministério, William Santana, corrobora com o depoimento de Luis Ricardo Miranda de que a invoice foi enviada no dia 18 de março. Junto com a invoice, outros documentos foram entregues ao MS.

A própria diretora da Precisa Medicamentos, Emanuela Medrades, diz em um vídeo que a invoice foi enviada no dia 18 de março, apesar de ter mudado sua versão na CPI da Pandemia.

“Na quinta-feira passada”, que era exatamente o dia 18 de março, “nós fizemos o pedido, encaminhamos as invoices e alguns documentos”.

O ex-secretário-executivo do Ministério, Élcio Franco, durante uma coletiva de imprensa, também disse que o documento foi recebido no dia 18, apesar de falar que não havia irregularidades.