Semana passada ruim para o presidente. Após a vitória de seus candidatos a presidentes no Congresso, seguido do desarranjo produzido no DEM e PSDB, ele teve algo a comemorar. Mas o desfecho da prisão do deputado Daniel Silveira, aceita também pela Câmara dos Deputados, mais a repercussão da crise criada pelo general Villas Boas, puseram-no em silêncio forçado.

Por Walter Sorrentino*


A irritação popular é crescente, partindo das condições do repique da pandemia, do claudicante programa de imunização e, principalmente, da falta do auxílio emergência para as imensas parcelas carentes da sociedade, desempregados e outros 10 milhões que deixaram de procurar emprego. Estruturalmente, assim, é difícil a recuperação do governo e de Bolsonaro.
O problema maior da hora é o auxílio-emergência, pois a pobreza aumenta assustadoramente e a economia derrapará, segundo previsões, mais um ou dois trimestres. As polêmicas sobre a forma de retornar ao pagamento do auxílio são uma amostra da completa falta de sensibilidade dos pregoeiros da política fiscalista senil, que vocalizam os interesses da banca e seu descompromisso com os brasileiros.

Fala-se de destinar um montante de R$ 30 bi, para menos gente e menos tempo, quando o anterior em 2020 envolveu R$ 293 bi e segurou a economia; pretende-se que seja às custas do congelamento do salário-mínimo e da celebremente trágica fórmula DDD (desvincular, desindexar e desobrigar). PECs e MPs ou PLs se multiplicam para isso, nos caldeirões dos feiticeiros do governo e do “mercado”, sempre limitando conquistas e direitos.

Apesar da falta de alinhamento completo entre as agendas de Bolsonaro, da Faria Lima e do Congresso, o fato é que Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, pretende pagar a dívida de sua eleição com a desvinculação dos gastos de Saúde e Educação, sempre uma barbaridade, ainda mais durante a pandemia e a crise econômica. Tudo é politizado: ele pretende se entronizar como o homem das garantias ao “mercado”, enquanto Paulo Guedes se torna um espectro, para alcançar o sonho de ouro: um orçamento governado pelo Congresso.
A intervenção de Bolsonaro na Petrobras vem na esteira desses fatos. Devolve-lhe protagonismo, com uma bandeira de grande alcance para a economia popular: reduzir o preço de combustíveis, em especial do diesel e do gás. Pode vir por aí também o preço da energia elétrica, “mexendo” na Eletrobras.

O fato a não perder de vista é a possível nova modalidade de atuação presidencial, que tem apelo justiceiro. Seguirá uma vez mais, a ferro e fogo, a estratégia de reeleição, por cima de tudo e de todos, se puder. Caneta não lhe falta. Lira no Congresso, com habilidade, dá base forte de apoio com o Centrão, que não se limita a um papel coadjuvante.

Mas o outro fato é a instabilidade inerente da conjuntura, com altos e baixos que demonstram o essencial: trafegamos em ambiente de crise política, até com componentes institucionais, numa geometria irregular de fatos que tornam fluidas todas as tendências, embora num plano inclinado para o presidente em termos do humor popular.

 

*Walter Sorrentino é  Vice-Presidente Nacional e Secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB)

 

(PL)