Incêndios em florestas tropicais úmidas podem reduzir significativamente a biomassa florestal por décadas | Foto: Rodrigo Baleia/Greenpeace

O ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, afirmou que o governo Bolsonaro quer fechar o Instituto para que ele pare de produzir dados sobre a destruição da Amazônia e do Pantanal e o desastre não seja noticiado.

“Acho que o objetivo do governo é criar condições para fechar o Inpe, no sentido de que o instituto deixe de produzir dados, tirar essa função dele. O desespero está muito grande. Nós iremos viver momentos difíceis”, disse em entrevista à Deutsche Welle (DW) Brasil.

De acordo com os dados do Inpe, 2020 já é o ano em que mais teve focos de queimada no pantanal, mesmo estando no meio de setembro. Até agora, foram identificados 15.835, sendo que o recorde anterior era de 12.536, no ano de 2005 completo.

O vice-presidente Hamilton Mourão atribuiu a “alguém lá de dentro [do Inpe] que faz oposição ao governo” a divulgação dos dados de desmatamento.

“Eu estou deixando muito claro isso aqui. Aí, quando o dado é negativo, o cara vai lá e divulga. Quando é positivo, não divulga”, completou. Os dados obtidos pelos satélites do Inpe são públicos.

Gilberto Câmara enfatizou que “o Inpe está reproduzindo uma realidade, o Inpe não está fazendo política. E o Inpe mostrou que as queimadas aumentaram muito na Amazônia, apesar da promessa de que o governo agiria. Mas o governo não está agindo, de jeito nenhum. Está acontecendo uma situação em que o governo, na falta de qualquer alternativa, vai atrás de inimigos”.

“A lógica é: se você não está fazendo nada, tem que arrumar alguma coisa para fazer para justificar a sua falta de ação. Foi exatamente o que aconteceu no ano passado, a repetição dessa ideia de que tem um monte de inimigos no Inpe e que estão trabalhando contra o governo e que, portanto, os dados são ruins porque é o Inpe que produz. Eles não aceitam a realidade de que tudo esteja queimando”.

A acusação feita por Mourão “é uma mentira total e deslavada. É uma tentativa meio desesperada, uma tentativa de desviar o foco sobre a própria incompetência do governo de agir. De certa forma é simples de entender, embora seja duro de aguentar”.

“Se você admite que o Inpe é uma instituição científica séria, você não pode questionar os dados. O desespero é tal que seria preciso fechar o Inpe, fechar os dados, censurá-los, parar de produzi-los para que não tivéssemos mais os dados da Amazônia. Assim, eles [o governo Bolsonaro] poderiam produzir os próprios dados dizendo mentiras”, continuou.

O ex-diretor do Inpe acredita que o descaso do governo Bolsonaro para as questões ambientais “não vai facilitar em nada qualquer acordo comercial”.

“Vários setores exportadores da economia dependem do fato de o governo conseguir baixar o desmatamento. Ações no sentido de prejudicar o Inpe atingem, de fato, muito o instituto, mas prejudicam muito mais o Brasil. Só que esse governo está achando que consegue que a sociedade engula isso. Então haverá muita briga na sociedade”.

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