Luana Araujo, médica infectologista foi demitida 10 dias após assumir a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19

A infectologista Luana Araújo foi demitida do cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, do Ministério da Saúde, 10 dias depois de ter sido anunciada.

Antes de ser anunciada para o cargo, a infectologista fez várias manifestações contrárias ao uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina no tratamento contra a Covid-19, inclusive em pacientes com sintomas leves.

No Twitter, ela afirmou que o uso da cloroquina se tratava de “neocurandeirismo” e destacou o “Brasil na vanguarda da estupidez mundial” ao comentar uma postagem de apoio ao uso da hidroxicloroquina na rede social. Depois que suas declarações vieram a público, a médica apagou sua conta na rede social.

A postagem que originou os comentários de Luana Araújo foi uma nota da Associação Médica Brasileira, de julho do ano passado, defendendo a autonomia do médico em prescrever a hidroxicloroquina.

Em meio a mensagens de internautas parabenizando e criticando a entidade, a médica escreveu: “Neocurandeirismo. Iluminismo às avessas. Brasil na vanguarda da estupidez mundial”.

Nos comentários no Twitter, ao responder a um perfil que hoje aparece como suspenso na rede social, Luana destacou, usando a sigla HCQ para hidroxicloroquina: “Feliz por você, mas não há qualquer evidência a favor (e muita contrária) à eficiência da HCQ. Seus pacientes devem ter se recuperado em função da competência de suporte de vocês, aliada à história da doença. Nada de pseudoterapia”.

O motivo oficial da demissão de Luana não foi anunciado pelo Ministério, mas todos sabem que o charlatanismo de Bolsonaro pela cloroquina não perdoa. A inquisição bolsonarista pró-cloroquina está em ação.

A infectologista disse que permanece “à disposição do meu país para contribuir para a melhoria das condições de vida de todos os brasileiros”.

Ela tinha sido escolhida pelo ministro Marcelo Queiroga para organizar a Secretaria de Enfrentamento à Covid. Luana Araújo já se manifestou muitas

vezes contra o uso de cloroquina no tratamento contra Covid e a favor do isolamento social.

Em suas redes sociais, Araújo disse que sai “desta experiência como entrei: pela porta da frente, com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência”.

Luana afirmou sua “postura técnica, baseada em evidências, pautada pelo juramento médico que fiz e que norteia todas as minhas atitudes. Vejo a ciência como ferramenta de produção de conhecimento e de educação para a priorização da vida, sempre, como objetivo maior”.

“Neste curto período de atuação, ainda que sem nomeação oficial, pude desenvolver trabalhos em várias frentes, incluindo o plano de testagem agora apresentado pelo Ministro da Saúde”.

Em seu depoimento na CPI da Pandemia, Marcelo Queiroga disse que Jair Bolsonaro estava lhe dando total liberdade para trabalhar, ao contrário do que dissera os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Enquanto Mandetta tentava organizar medidas de isolamento social, Bolsonaro dava declarações públicas incentivando aglomerações.

Nelson Teich ficou sabendo pela imprensa que Jair Bolsonaro tinha incluído academias como atividades essenciais, contra o que o ministro defendia e orientava. Em seguida, Teich pediu demissão.

Leia a íntegra de Luana Araújo publicada em seu perfil no Instagram:

“Fui convidada pelo Ministro Marcelo Queiroga pela infectologista e epidemiologista que sou – por minha competência prática, conhecimento teórico e experiência no tema – para montar e chefiar a Secretaria de Enfrentamento à COVID-19. Aceitei o desafio, ainda que ciente da sua enorme complexidade, porque minha visão de mundo e de cidadania vislumbra sempre a possibilidade de ajudar. Neste caso, poder fazer pelo meu país o que vinha fazendo por outros ao redor do mundo: contribuir, neste momento tão difícil, tão sensível, para trilharmos um caminho menos traumático e mais rápido em busca de saúde e qualidade de vida para todos.

Em meu discurso de apresentação, fiz questão de evidenciar minha postura técnica, baseada em evidências, pautada pelo juramento médico que fiz e que norteia todas

as minhas atitudes. Vejo a ciência como ferramenta de produção de conhecimento e de educação para a priorização da vida, sempre, como objetivo maior.

Neste curto período de atuação, ainda que sem nomeação oficial, pude desenvolver trabalhos em várias frentes, incluindo o plano de testagem agora apresentado pelo Ministro da Saúde.

Saio desta experiência como entrei: pela porta da frente, com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência.

Agradeço ao ministro Marcelo Queiroga pela oportunidade, confiança e exemplarismo. Desejo, acima de tudo, como colega e como brasileira, toda sorte a ele e a sua equipe no prosseguimento no combate à pandemia.

Sou grata, também, pelas manifestações de apoio e encorajamento enviadas a mim por tantas pessoas durante todo este período – conhecidas ou não. Vocês mostram que compreenderam que a saúde pública não existe sem a participação de cada um de nós. Obrigada.

Permaneço onde sempre estive: à disposição do meu país para contribuir para a melhoria das condições de vida de todos os brasileiros. Protejam-se, vacinem-se e sigamos em frente”.