"Impeach Trump": processo de julgamento teve início no Senado dos EUA

Por 55-45 votos, o Senado dos EUA considerou constitucional levar adiante o julgamento do pedido de impeachment do ex-presidente Donald Trump por “incitação à insurreição” – a invasão do Congresso por uma turba após comício em que ele insuflou a ‘marcha ao Capitólio’, inclusive prometendo estar presente -, conforme aprovado pelos deputados e encaminhado na véspera à câmara alta do Congresso.

A manobra trumpista que fracassou foi encaminhada pelo senador republicano Rand Paul, que pretendia que o julgamento seria ‘inconstitucional’ por Trump já ter o mandato encerrado.

Antes, houve a cerimônia de instauração do julgamento do pedido de impeachment de Trump pelo Senado, com o juramento do senador Pat Leahy, de Vermont, presidente do Senado pro tempore, que presidirá o julgamento, e dos senadores. Depois, quatro senadores de cada vez assinaram um “livro de juramento” como jurados do impeachment.

5 senadores republicanos se uniram à bancada democrata para barrar a manobra trumpista: Mitt Romney (Utah), Ben Sasse (Nebraska), Susan Collins (Maine), Lisa Murkowski (Alasca) e Pat Toomey (Pensilvânia).

Apesar de ter, recentemente, dito que Trump era responsável pela invasão do Capitólio, o agora líder da minoria, Mitch McConnell, votou pela inconstitucionalidade. Citando precedentes de votação no Senado, o líder da maioria, o democrata Chuck Schumer, sustentou o prosseguimento do julgamento.

Para o senador republicano John Thune, essa votação não vinculará os legisladores depois que o julgamento entrar em pleno funcionamento. “Era uma questão sobre a constitucionalidade da mesma. Não creio que vincule ninguém uma vez iniciado o julgamento”, assinalou.

Como para aprovar o impeachment e, depois, a principal consequência, deixar Trump inelegível, são necessários os votos de 17 republicanos mais a bancada democrática (dois terços dos senadores), a votação serviu de uma espécie de teste sobre o poder de chantagem do bilionário sobre o Partido Republicano. Ele inclusive andou ameaçando criar um ‘Partido Patriota’.

O que indica que são necessárias provas robustas dos crimes cometidos por Trump e um trabalho competente de denúncia da ofensa cometida contra a democracia, para que os senadores republicanos que estão descontentes e preocupados com os rumos do partido sintam que podem ousar e ajudar a decretar a aposentadoria política compulsória do show-man do fascismo nos EUA.

Do que se viu no dia 6 – o Capitólio indefeso diante de uma turba, a demora do Pentágono em autorizar o socorro pedido quase em desespero, congressistas e até o vice-presidente a segundos de ficarem à mercê dos fanáticos -, até à campanha de Trump que desde o início buscou alegar que o único jeito de perder era se ‘houvesse fraude’, passando pelas descabidas ações rechaçadas nos tribunais e o indecoroso pedido de “me arrume 11.870 votos” na Geórgia, ou suas conclamações “rouba para mim, Mike”, o que não falta são digitais de Trump a serem mostradas.

No atual quadro, o senador Paul achou que tinha motivos para comemorar que “o impeachment está morto na chegada” – mas isso é a luta política e a exposição à luz do dia de tudo o que ocorreu nas semanas, dias e horas após a derrota acachapante de Trump nas urnas, que irão decidir.

Alguns senadores que votaram com Paul deixaram em aberto a idéia de que ainda poderiam votar de forma diferente no próximo mês. O julgamento começará no dia 8 de fevereiro, conforme acordo entre Schumer e McConnell.

O próprio presidente Biden, que vinha evitando falar sobre a questão, enfatizou na segunda-feira que o julgamento político de Trump “precisa acontecer”.

Ao intervir contra a manobra trumpista, o novo líder da maioria Schumer disse que senadores democratas e republicanos terão de responder “diante de Deus e de suas consciências” se o ex-presidente Trump “é culpado de incitar uma insurreição contra os Estados Unidos”.

Para o senador democrata Tim Kaine, essa linha de alegação da ‘inconstitucionalidade’ está servindo de folha de parreira para congressistas republicanos votarem contra condenar Trump sem terem que se torrarem endossando abertamente sua retórica fascista do dia 6 de janeiro.

Tipo “eu não gosto do comportamento [de Trump], mas não estou seguro de que se possa condená-lo”.

Restar ver se, assim como a indignação diante do linchamento do negro George Floyd e da incúria frente à Covid-19 implodiram os planos de reeleição “com toda a certeza” de Trump, efeito semelhante sobre os rumos e os votos nesse julgamento poderá ser trazido pela exposição à luz do dia dos crimes de Trump.