Mulheres em prisão para imigrantes no Texas | Foto: AFP

Organizações de direitos humanos apresentaram denúncia, na segunda-feira (14), sobre o alto número de histerectomias (extirpação de útero) realizadas em um campos de concentração mantidos pelo Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas dos Estados Unidos (ICE, por suas siglas em inglês). Acusam os médicos de executarem esses procedimentos a mulheres presas, muitas vezes sem o seu conhecimento.

“Quando conheci todas aquelas mulheres que haviam se submetido a cirurgias, pensei que era como um experimento em um campo de concentração. Era como se estivessem testando nossos corpos”, disse uma presa entrevistada pela organização Project South, segundo denúncia feita inicialmente ao governo pela situação sanitária local em meio à pandemia de Covid-19.

A situação criminosa veio à tona depois que a enfermeira Dawn Wooten, ex-funcionária do Centro de Detenção do Condado de Irwin (ICDC), no Estado da Geórgia, vazou informações sobre as práticas sanitárias na prisão administrada pela iniciativa privada. Ela afirmou que o centro não só ignorava os protocolos contra o Covid-19, como realizava ativamente esses procedimentos cirúrgicos de uma maneira injustificada.

Segundo a denúncia do Institute for the Elimination of Poverty and Genocide (Instituto para a Eliminação da Pobreza e Genocídio), apresentada na sede da Inspetoria Geral do Departamento de Segurança Nacional, o centro realiza histerectomias em muitas mulheres sob os mais diversos pretextos, como naquelas que informam ter ciclos menstruais abundantes.

De acordo com Wooten, o ICDC recorria constantemente a um ginecologista que era de fora do estabelecimento e que quase sempre optava por extirpar todo ou parte do útero das pacientes detidas. “Todo mundo que a gente vê tem uma histerectomia, quase todo mundo. Inclusive chegou a lhe remover o ovário equivocado a uma jovem. Supunha-se que deviam lhe extirpar o ovário esquerdo porque tinha um cisto, mas ele tirou o direito. Teve que se submeter a outra operação que a deixou sem ovários e, portanto, estéril”, afirmou.

“Ela disse que não estava totalmente sob o efeito da anestesia quando o ouviu falar para a enfermeira que havia se enganado”, disse.

As denúncias ressaltam ainda uma “alarmante negligência médica” diante da pandemia de Covid-19, que deixou 42 casos confirmados nesse centro.

Nos Estados Unidos – país do mundo com mais casos do novo coronavírus, mais de 6,5 milhões computados na terça-feira, 15 – há 5.686 infectados em prisões de imigrantes que têm uma população de 20 mil detidos, segundo dados do Serviço de Imigração (ICE).

“Além disso, a denúncia lança um alerta sobre a taxa de remoções uterinas a que as mulheres migrantes estão sujeitas”, afirma o Project South.

O relatório também denuncia a falta de tratamento a detentos com câncer por semanas, banheiros imundos para mais de 50 pessoas e alimentos sem condições para consumo, muitas vezes contaminados por insetos.

“A serem confirmadas essas denúncias de esterilizações forçadas estaríamos diante de um fato muito grave que teria comparação com as práticas que ocorreram durante a Alemanha nazista, quando muitos cidadãos, integrantes de minorias étnicas, foram esterilizados”, disse Arturo Gallegos, professor de Direito da Universidade Friedrich Schiller de Jena, na Alemanha, à Agencia RT. Lembrou que os EUA não são alheios a esse tipo de práticas e deu como exemplo o caso de Porto Rico, que “durante a primeira metade do século XX foi o berço de experimentos de esterilização e de anticoncepção”, com os mal denominados cientistas estadunidenses “levaram a cabo uma política de controle demográfico”.

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