Haroldo Lima: uma vida de luta pelo progresso social, por José C. Ruy
Por José Carlos Ruy*
Haroldo Lima, dirigente do PCdoB, chega aos 80 anos de idade com a mesma vivacidade, singeleza e ardor que marcam sua atuação desde a mais tenra juventude. Atuação que, nestas décadas, tem servido – sem exagero – de exemplo e inspiração para gerações de lutadores.Este baiano de Caetité, onde nasceu em 7 de outubro de 1939, mal tinha saído da adolescência quando, em 1958 – estudante de Engenharia Elétrica na Universidade Federal da Bahia – integrou o movimento estudantil, participando da Juventude Universitária Católica, da União dos Estudantes da Bahia e da UNE. No início dos anos 1960 participou, com Herbert José de Souza (o Betinho), Aldo Arantes e outros, da fundação da Ação Popular (AP), movimento socialista revolucionário que, a partir de 1964, se embrenhou profundamente na luta e resistência contra a ditadura militar instalada em naquele ano.
Haroldo, aí pelo final da década de 1960, foi designado para o trabalho no campo e atuou como diarista entre os cacaueiros na Bahia, com o objetivo de organizá-los para a resistência contra a ditadura.
Pouco depois, já em São Paulo, participa da transformação da AP em APML (Ação Popular Marxista Leninista), aprofundando e dando mais clareza revolucionária e socialista à organização. Pouco depois, em 1971/72, fez parte do núcleo de dirigentes da APML (com Aldo Arantes, Renato Rabelo, Péricles de Souza e tantos outros) que, por proposta de Duarte Pereira (que acabou não seguindo seus companheiros de APML) decidiu-se pela incorporação ao Partido Comunista do Brasil, em 1972.
Uma decisão corajosa, disse na ocasião o dirigente comunista João Amazonas, tomada por eles no momento em que a ditadura estava empenhada em assassinar revolucionários.
NO PCdoB, as qualidades de Haroldo, como o empenho na luta e o destemor marcaram seu papel como dirigente.
O episódio que talvez tenha sido o mais difícil foi a chacina da Lapa, em dezembro de 1976, quando a repressão da ditadura – tendo à frente o famigerado torturador Sérgio Fleury, sob comando do general Dilermando Monteiro (comandante do então II Exército) atacou a casa onde se realizava uma reunião do Comitê Central do PCdoB e assassinou os dirigentes Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drummond, e prendeu Haroldo Lima, Aldo Arantes, Elza Monnerat, Joaquim Celso de Lima e Maria Trindade, que foram barbaramente torturados.
Submetido àquele episódio cruel, Haroldo Lima teve comportamento firme e sereno. Suportou as sevícias e de sua boca não saiu palavra que comprometesse o partido ou seus camaradas e amigos.
Anos depois, o depoimento que deu a Verônica Bercht (para elaboração da biografia de Elza Monnerat, Coração Vermelho) surpreendeu a entrevistadora pela firmeza, modéstia e clareza de suas palavras. Foi, – contou-me Verônica, na ocasião – um depoimento franco, aberto e direto, como se Haroldo não fosse a vítima das torturas que narrava. Ele, disse a autora de Coração Vermelho, falava da tortura quase sempre no coletivo e poucas vezes no individual, valorizando sobretudo a ação dos demais, sem chamar as luzes para si.
Esta qualidade de Haroldo Lima, como militante e dirigente, confirmou para mim a pessoa que pude conhecer e admirar.
Junta-se a ela o empenho de grande estudioso do marxismo – destacando-se, além do conhecimento técnico em sua área (energia e petróleo) o estudo da história do Brasil e das lutas de nosso povo, da história do socialismo e da construção do socialismo com “feições chinesas”.
A luta de Haroldo Lima em defesa das reivindicações populares é teórica e também prática – mesmo tendo que enfrentar a repressão – como em 1981, quando participou dos protestos em Salvador (BA) contra o aumento no preço das passagens de ônibus, e foi preso, acusado pelo “quebra-quebra” de ônibus que então ocorreu.
Luta que também tem sua face institucional – completando o tripé típico da ação comunista: luta de massas, luta institucional e luta de ideias.
Nesse sentido, foi eleito deputado federal em 1982, pela legenda do PMDB, com grande votação em seu estado, a Bahia – e só em 1985 pode assumir sua filiação verdadeira, ao PCdoB. Em 1988 foi reeleito, agora como deputado federal constituinte – e sua atuação foi marcada pela defesa da soberania nacional e da democracia, pela denúncia da ação anticomunista de Gorbachov na União Soviética e pela oposição intransigente do neoliberalismo cuja hegemonia se impunha no mundo – e no Brasil.
Haroldo Lima continua, aos 80 anos, o mesmo lutador ardoroso e determinado que tem sido desde a juventude – e sua vida é um exemplo da confiança na história e no progresso social. Luta da qual é um importante elo desta corrente que aponta para o futuro.