O futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, durante reunião com a Comissão Mista de Orçamento, na Câmara dos Deputados.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstrou mais uma vez que é incapaz de tirar o país da crise provocada pelo governo ao qual ele, reiteradamente, jura lealdade. Na coletiva de imprensa da última sexta-feira (23), Guedes respondeu aos jornalistas que o questionaram sobre a gravidade da inflação se esquivando da responsabilidade pelo aumento dos preços dos alimentos, combustíveis e energia elétrica.

O único compromisso expresso pelo ministro para conter a inflação – que chegou a dois dígitos e já é a maior desde o lançamento do Plano Real em 1994 – foi o de “pressionar” o Banco Central (BC) para que aumente os juros. Ou seja, arrochando e desestimulando ainda mais o consumo e a produção de uma economia que anda para trás em termos de crescimento.

“Toda vez que tiver aumento localizado, comida, material de construção, é temporário. Agora, se está virando generalizado, se está subindo tudo, todo mundo tem que olhar para o Banco Central. Quando saí para ir aos Estados Unidos, o fiscal estava super arrumado. Então, se a inflação está subindo, vamos correr atrás. Se o fiscal piorou um pouco, eu voltei de viagem e o fiscal piorou um pouco, então tem que correr um pouquinho mais com o juro também”, disse na coletiva.

No Brasil real, há filas de pessoas disputando ossos, restos e lixo – mas isso não faz parte do cenário de país das maravilhas pintado pelo governo. Segundo ele, a inflação é um problema global:

“Está subindo no mundo inteiro. Nos Estados Unidos era 0% foi para 5%, na Alemanha era 0% foi para 5%, no Brasil era 4% foi para 9%, era 5% foi para 10%”, ignorando que o Brasil está com o dobro da inflação dos EUA e Europa.

Segundo pesquisa da FGV, o Brasil deve fechar o ano com inflação maior do que em 83% dos países. Enquanto isso, nas economias que Guedes usa como referência, os juros reais praticados beiram zero. Enquanto aqui a Selic que ele pressiona para subir mais está em 6,25% ao ano e o Brasil com os juros reais (descontada a inflação) em 3,34%, ocupando o segundo lugar em juros reais entre 40 economias mais desenvolvidas do mundo, pesquisadas pelo site Moneyou, ficando atrás apenas da Turquia (4,96%). Nos países citados por Guedes, os juros reais estão negativos.

Num quadro de economia estagnada, a insistência no aperto monetário é mais uma burrice. O governo e o BC optam por elevar os juros como se a inflação do país fosse provocada por um excesso de demanda, quando a realidade dos brasileiros é de desemprego, trabalho precário e renda arrochada. Enquanto isso, a principal pressão da inflação vem da dolarização da economia e dos produtos e serviços administrados pelo governo.

Esse é o caso da disparada nos preços dos combustíveis, sobre os quais Bolsonaro disse, na mesma coletiva com Guedes, que não tem controle nenhum, mas, ao mesmo tempo, anunciou para breve mais um aumento.

“Estamos na iminência de mais um reajuste do combustível e quando vai pro diesel influencia diretamente na inflação”, anunciou Bolsonaro. “Aumentando o preço do petróleo lá fora com a variação do preço do dólar aqui dentro, o reajuste, poucos dias ou semanas, tem que ser cumprido na ponta da linha por parte da Petrobrás”, declarou, confirmando sua politica de atrelamento ao dólar. “Então se não reajustar, falta! Inflação é horrível? É péssimo! Mas pior é o desabastecimento”, defendeu.

Embora o Brasil seja autossuficiente em petróleo, além de insistir na prática de paridade com os preços internacionais, o governo continua investindo no desmonte da cadeia produtiva e de refino da Petrobrás. A gasolina aumentou quase 40% nos últimos 12 meses, chegando ao absurdo de R$ 7 o litro nas bombas dos postos de gasolina. No fantástico mundo de Guedes, o problema seria resolvido com a privatização da Petrobrás, ou seja, entregando os recursos que podem garantir a nossa autonomia.