A presidenta nacional do PCdoB, deputada federal Luciana Santos (PE) teve o seu projeto de inclusão do nome de Gregório Bezerra no livro de Heróis da Pátria, aprovado na Comissão de Cultura nesta quarta-feira (9). Luciana destacou a trajetória nacionalista e de defesa dos trabalhadores do homenageado, que descreveu como “grande político, humanista e incansável defensor dos direitos sociais e da democracia no país”.

Gregório Bezerra

Autodidata, ingressou no Exército e posteriormente filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro. Ao longo de sua vida esteve na vanguarda da luta dos trabalhadores e pelos direitos do povo. Sua militância política o tornou alvo da violência de duas ditaduras e o obrigou a viver na clandestinidade e no exílio por longos períodos de sua vida.

A despeito da dura repressão a que foi submetido, Gregório Bezerra não abriu mão de seus ideais de democracia e melhoria das condições de vida do povo brasileiro. Sua história está escrita na autobiografia Memórias, um emocionante relato de toda a sua trajetória.  “A vida de Gregório Bezerra, ‘uma saga sem medida’, como definiu o escritor Jorge Amado, é sem dúvida digna da homenagem que ora examinamos”, relatou Luciana.

“Assim, pelo exemplo de vida, pela fidelidade ao ideário humanista que sempre defendeu, pela coragem, pela brava resistência à ditadura, pelo empenho em combater as desigualdades arraigadas em nossa sociedade, somos favoráveis à eternização do nome de Gregório Bezerra como Herói da Pátria, no livro de aço depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves”, concluiu a parlamentar na apresentação do seu voto.

Leia o voto completo:

Analfabeto, operário da construção civil, o jovem Gregório Bezerra foi preso pela primeira vez em 1917, quando participava de uma passeata em Recife. Desde então sua vida foi um exemplo de superação e coragem. Entrou para o Exército brasileiro. Autodidata alfabetizou-se e preparou-se para cursar a Escola de Sargentos de Infantaria. Filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro em 1930.

Chegou no Recife em 1934. Como membro da Aliança Nacional Libertadora (ANL) – organização de massas orientada pelo PCB e que funcionava, naquele período, na clandestinidade, Gregório Bezerra foi encarregado de participar da preparação de uma insurreição militar. Quando eclodiu o levante em Natal, em 23 de novembro de 1935, Gregório recebeu ordens para desencadear a luta em Recife no dia seguinte. As autoridades militares, no entanto, descobriram o movimento e Gregório foi preso e submetido a severas torturas. Em 1937 foi condenado a 27 anos e meio de prisão. Em abril de 1945, foi anistiado.

Com a legalização do PCB, nesse mesmo ano de 1945, foi o principal candidato do partido, por Pernambuco, a Deputado da Assembleia Nacional Constituinte. Eleito em dezembro de 1945, permaneceu na Câmara até janeiro de 1948, quando os parlamentares eleitos pelo PCB tiveram seus mandatos cassados, em vista de o registro do partido ter sido cancelado pelo Superior Tribunal Eleitoral no ano anterior. Uma semana depois de ter deixado a Câmara, Gregório Bezerra foi novamente preso, dessa vez, sob a acusação de ter incendiado um quartel em João Pessoa. Absolvido por falta de provas, ainda assim viveu na clandestinidade durante nove anos.

Gregório Bezerra foi um dos primeiros brasileiros presos após o golpe militar de 31 de março de 1964 e foi, também, um dos primeiros a experimentar a violência da ditadura. Depois de capturado e levado ao quartel, foi amarrado por três cordas ao pescoço e arrastado pelas ruas do Recife.

Salvou-se graças ao clamor da população e à interferência de senhoras e religiosos, horrorizados com a agressão que testemunhavam. Aos 64 anos de idade, o homem idoso, de cabeça branca, vestido apenas com um calção teve essa agressão eternizada por filmes e fotografias em contundentes registros desse vergonhoso período da nossa história.

Em abril de 1964, Bezerra teve seus direitos políticos cassados por dez anos, com base no Ato Institucional nº 1. Em 1967, foi condenado a 19 anos de prisão. Em 1969, foi um dos presos políticos soltos em troca do embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por um grupo de oposição armada. Ficou cerca de dez anos exilado na União Soviética, depois de passar um curto período em Cuba.

Nesse período, como nos conta, mais uma vez, Anita Prestes, Gregório manteve seu pensamento permanentemente voltado para o Brasil.

Seu maior desejo era regressar e continuar lutando pelos ideais revolucionários a que dedicara toda a sua vida. Durante os anos de exílio, Gregório se engajou à luta pela anistia no Brasil. Viajou por diferentes países denunciando os crimes da ditadura militar. Com seu prestígio, mobilizou os mais diversos setores da opinião pública mundial em campanhas de solidariedade aos presos e perseguidos políticos no Brasil. Participou de congressos, conferências, seminários e entrevistas, sempre empenhado no combate pela democracia, contra o fascismo e por um futuro socialista para toda a humanidade, pois  acreditava que a luta do nosso povo não poderia jamais estar dissociada da luta dos trabalhadores do mundo inteiro.

Nos dez anos de exílio, Gregório dedicou-se, ainda, a escrever suas Memórias. Segundo Anita Prestes, “escreveu seu livro sozinho e à mão” e “(…) soube produzir um relato de sua vida, em linguagem simples e direta, sem qualquer afetação literária. Descreveu a vida de um camponês nordestino miserável, que se transformou em operário e soldado e, nesse processo, ingressou no Partido Comunista. Um militante que dedicou sua vida aos ideais comunistas, arcando com todas as consequências de tal escolha, sem jamais perder as características de grande figura humana”.

Em 1979, graças à anistia, pôde voltar ao Brasil. Foi um dos primeiros a regressar à terra natal, onde foi recebido com entusiasmo e carinho pelos trabalhadores, companheiros e amigos.

Nas eleições de 1982, candidatou-se à Câmara dos Deputados por Pernambuco, pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) sendo eleito como suplente. Morreu em São Paulo, no dia 21 de outubro de 1983.

A vida de Gregório Bezerra, “uma saga sem medida”, como definiu o escritor Jorge Amado, é sem dúvida digna da homenagem que ora examinamos.

O Livro dos Heróis da Pátria – instrumento de preservação da memória nacional – tem por missão distinguir os brasileiros que ofereceram a vida à Pátria e à defesa dos princípios e valores que sustentam esta Nação.

Gregório Bezerra teve sua “saga sem medida” oficialmente reconhecida pela Comissão Nacional da Verdade, em Recife. Sua coragem em defender a liberdade e a luta pelos direitos sociais e trabalhistas, bem como o fato de não ter delatado nenhum de seus companheiros, mesmo sob tortura, renderam o reconhecimento da grandeza de espírito do militante até mesmo por seu torturador, o coronel do Exército Darcy Ursmar Villocq Vianna que, em raro depoimento concedido à historiadora Eliane Moury Fernandes, em 1982, afirmou: “ (…)o Gregório Bezerra foi quem teve atitude. Foi preso, não denunciou ninguém. Disse que era comunista, nasceu comunista… De todos, Gregório é que foi homem.”

A homenagem atende, ainda, ao disposto na Lei nº 11.597, de 29 de novembro de 2007 (com a redação dada pela Lei nº 13.229, de 28 de dezembro de 2015), que dispõe sobre a inscrição de nomes no Livro dos Heróis da Pátria, a qual estabelece que é possível prestar a distinção desde que decorridos dez anos da morte ou da presunção de morte do homenageado.

Para encerrar este voto e sintetizar a grandeza da personagem que destacamos com tão justa homenagem, tomo emprestado o poema de Ferreira Gullar, citado pela Deputada Creuza Pereira em sua justificação:

Mas existe nesta terra

muito homem de valor

que é bravo sem matar gente

mas não teme matador,

que gosta de sua gente

e que luta a seu favor,

como Gregório Bezerra,

feito de ferro e de flor.

Assim, pelo exemplo de vida, pela fidelidade ao ideário humanista que sempre defendeu, pela coragem, pela brava resistência à ditadura, pelo empenho em combater as desigualdades arraigadas em nossa sociedade, somos favoráveis à eternização do nome de Gregório Bezerra como Herói da Pátria, no livro de aço depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.