Somando os rótulos classificados como “altamente tóxicos”, os produtos com grau elevado de toxicidade correspondem a 47% de todos os registros concedidos em 2019.

Somando os rótulos classificados como “altamente tóxicos”, os produtos com grau elevado de toxicidade correspondem a 47% de todos os registros concedidos em 2019
O Ministério da Agricultura aprovou, na segunda-feira (24), o registro de 42 agrotóxicos e substâncias químicas para uso em plantações no país. Desde o início do ano, o governo Bolsonaro já liberou 239 substâncias, o que representa em média um pouco mais de nove novos agrotóxicos por semana.
Segundo o Ministério da Agricultura, dirigido pela ruralista Teresa Cristina – que foi apelidada pelos seus pares como a “Musa do Veneno”. Nos primeiros dois meses do ano, foram 86 novos registros. Ao final de março, o total chegou a 121. Agora, ao atingir a marca de 239, o país atualiza o número total de agrotóxicos para 2.305, considerando os herbicidas em circulação no mercado.
Apenas um produto traz um ingrediente ativo novo. Os demais seriam produtos genéricos que já faziam parte da composição dos pesticidas disponíveis no mercado.
Entre as liberações atuais, apenas dois são produtos biológicos. 12 liberações são de produtos formulados, ou seja, novos produtos que vão ser vendidos nas lojas, e os outros 30 são produtos técnicos, utilizados na fabricação de produtos formulados.
Quanto à periculosidade ambiental, 23 são Altamente ou Muito Perigosos ao Meio Ambiente, e 18 são Extremamente ou Altamente Tóxicos para a saúde humana.
No geral, só entre janeiro e abril, foram aprovados 49 agrotóxicos classe I, a mais elevada na escala toxicológica estabelecida pela Anvisa.
Somando os rótulos classificados como “altamente tóxicos”, os produtos com grau elevado de toxicidade correspondem a 47% de todos os registros concedidos em 2019.
Entre os fabricantes estão as empresas Bayer, Dow Agrosciences, Syngenta, Nortox, Rainbow e Proventis Lifescience. O ato é de autoria da Coordenação-Geral de Agrotóxicos, do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas e da Secretaria de Defesa Agropecuária.
Segundo o portal “O Eco”, dos 42 novos registros, 17 têm como base princípios ativos cujo uso é proibido em todos os países da União Europeia. São eles os herbicidas Tebutiurom, Hexazinona, Atrazina e Ametrina, além dos inseticidas Tiodicarbe e Novalurom. A lista inclui ainda dois novos produtos à base de Glifosato, produto associado a casos de câncer nos Estados Unidos, e o dois novos produtos à base de 2,4-D, um herbicida muito usado nas lavouras de soja e que vem causando prejuízos aos vitivinicultores do Rio Grande do Sul.
LIBERA-GERAL
Para a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-candidata à Presidência, Marina Silva, as políticas do governo prezam pelo boicote dos produtos brasileiros e, além disso, com a liberação dos agrotóxicos, eles só garantem ainda mais prejuízos à população.
“O governo Bolsonaro liberou o uso de mais 42 novos agrotóxicos no Brasil, superando o seu próprio recorde. No total são 239 novos produtos desde janeiro, incluindo produtos proibidos em outros países. Tem agrotóxico introduzido no Brasil que não consta no cadastro da ANVISA”.
“Além da nocividade para a saúde humana e o meio ambiente, essa política do libera-geral agrava os boicotes internacionais aos produtos agrícolas brasileiros, que já começaram a acontecer na Europa. Nessa lógica do perde-perde, o governo acena para um grupo restrito com uma visão atrasada para ter ganhos financeiros imediatos, mas com enormes prejuízos para vida”, disse Marina.
Segundo o procurador da República e coordenador do Grupo de Trabalho Agroecologia do MPF, Marco Antônio Delfino, “é um absurdo que produtos com reconhecido dano ao meio ambiente e à saúde continuem a ser utilizados e, pior ainda, com isenção de impostos. É o caso, por exemplo, do Paraquate, que causa mal de Parkinson e mutações genéticas. Temos que ter uma tributação maior dos produtos tóxicos e isentar os biológicos, para incentivar uma produção mais sustentável”.