Vinte governadores divulgaram uma carta, na segunda-feira (17), criticando as últimas declarações de Jair Bolsonaro, feitas na semana passada, sobre a morte do ex-PM Adriano da Nóbrega e sobre a política de preços dos combustíveis.
Para os executivos estaduais, está faltando equilíbrio ao presidente da República e os seus rompantes não estão contribuindo “para a evolução da democracia no Brasil”.
O miliciano morto no domingo (9), numa ação policial na Bahia, era chefe do Escritório do Crime no Rio, uma espécie de central de assassinatos por encomenda das milícias. O “escritório” de Adriano é acusado de participação no assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes.
O assassino profissional mantinha ligações estreitas com o gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro, o “zero um” do presidente. O Ministério Público do Rio investigava a participação de Adriano da Nóbrega no esquema de lavagem de dinheiro operado de dentro do gabinete do parlamentar por Fabrício Queiroz, braço direito de Flávio.
A mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, era contratada por Flávio Bolsonaro, assim como Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, ex-mulher do pistoleiro. Esta última foi nomeada em 2007 e a mãe do pistoleiro entrou na mamata do gabinete do deputado em 2016.
No entanto, nenhuma das duas frequentava a Assembléia Legislativa. Eram laranjas. Receberam cerca de R$ 1 milhão sem trabalhar e repassaram R$ 400 mil para o esquema do deputado. Ficaram com uma parte do dinheiro desviado da Alerj e o restante, segundo o MP, foi entregue a Adriano.
Como diz a nota dos governadores, a declaração de Bolsonaro “se antecipando às investigações policiais para atribuir fatos graves à conduta das polícias e de seus Governadores” é inaceitável.
As ligações do miliciano com a família do “mito”, as homenagens feitas ao ex-policial pelo então deputado Flávio, a mando de seu pai, Jair Bolsonaro, segundo o próprio presidente, e os desvios de recursos do gabinete em direção ao miliciano, como aponta o MP/RJ, não autorizam que os Bolsonaros se recusem a dar explicações ao país sobre os vínculos da família com os criminoso.
E, mais ainda, não autoriza que eles tentem jogar a culpa pela morte do chefe do Escritório do Crime nas costas de outras pessoas que nada têm a ver com isso.
Outro aspecto repudiado pelos governadores foi a tentativa de Bolsonaro de jogar para cima deles a culpa pela desastrosa política do governo federal que provocou altas frequentes nos preços dos combustíveis. O governo insiste em manter os preços da gasolina atrelados ao dólar.
Diante da elevação nos preços dos combustíveis, causada por esse atrelamento ao mercado internacional – já que a moeda americana vem subindo – Bolsonaro inventou que a culpa pela alta dos preços era do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), principal receita dos estados.
Os governadores, dos mais diversos partidos políticos, se uniram no manifesto para denunciar a demagogia do presidente. Eles disseram que Bolsonaro afronta os estados e o Pacto Federativo ao defender a redução de “impostos vitais para a sobrevivência dos Estados”.
Ainda mais que o ICMS, imposto destinado à Educação, à Saúde, etc, não tem nada a ver com os aumentos causados pela política de atrelamento ao dólar, que é de inteira responsabilidade do governo federal.