General Milley agiu preventivamente contra qualquer 'loucura nuclear' de Trump

Alarmado com o estado mental de Donald Trump, o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley, tomou medidas excepcionais em sigilo em janeiro, pouco depois da invasão do Capitólio, para prevenir que atos de desatino do presidente perdedor pudessem resultar até mesmo em atos de guerra nuclear, de acordo com o novo livro do jornalista Bob Woodward, “Peril” [Perigo], escrito em parceria com Robert da Costa, sobre os dramáticos dias de janeiro.

É dele e de Costa a revelação de que foi a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, que acionou o general Milley, alertando-o para a gravidade da situação: “Está louco”.

Na terça-feira, o Washington Post, jornal a que os dois estão vinculados, divulgou trechos do livro, que mostram Milley organizando no Pentágono e nos serviços secretos norte-americanos a recusa a serem arrastados para alguma ação desesperada de Trump.

Woodward, conhecido mundialmente pelo seu papel no caso Watergate, que resultou na renúncia de Nixon, tem sido um constante cronista dos bastidores do poder em Washington.

A transcrição do telefonema: “Que precauções estão disponíveis para evitar que um presidente instável inicie hostilidades militares ou acesse códigos de lançamento e ordene um ataque nuclear?”, perguntou a presidente da Câmara.

“Se não puderam impedi-lo de invadir o Capitólio, quem sabe o que mais ele poderá fazer?”, acrescentou Pelosi. “Está louco, você sabe que sim, e o que ele fez ontem é mais uma prova da sua loucura”.

“Concordo com você em tudo”, disse o chefe do Estado-Maior Conjunto, depois de argumentar que o sistema tinha “muitos controles” para evitar um comportamento extremo de Trump.

O que foi seguido por uma reunião sigilosa no Pentágono, cuja principal determinação foi de que seus subordinados deveriam informar a Milley antes de cumprir qualquer ordem dada por Trump, ainda mais caso se tratasse de um ataque nuclear.

E, no dia 8, o chefe do Estado-Maior norte-americano falou pelo telefone vermelho com seu homólogo chinês, para afastar qualquer possibilidade de incidente temida por Pelosi e por ele próprio.

Na avaliação dos autores do livro, Milley agiu movido pelo temor de “uma guerra acidental com a China ou outros”, “uma ruptura histórica na ordem internacional”.

Naquela altura, não havia como ter certeza sobre nada diante um presidente que seguia se negando a admitir a derrota nas urnas, que dizia ter sido roubado na eleição e cujos seguidores haviam irrompido no Congresso, açulados por ele, aos berros de “enforquem Pence” – o vice, que recusara embarcar na aventura golpista.

E que até haviam improvisado uma forca nas imediações do Capitólio, além de reproduzirem um mote de uma série de terror, gritando, “Naaaancy [a setuagenária presidente democrata da Câmara], apareça para brincar”. E com as forças ligadas a Trump tendo impedido por horas que a Guarda Nacional fosse acionada para dar conta da baderna no Capitólio, enquanto senadores, deputados e até o próprio vice-presidente escapando por minutos de possivelmente serem transformados em reféns.