Após a Petrobras anunciar o aumento no gás de cozinha pela nova vez em 2020, o preço do produto, de primeira necessidade na vida da população, pode chegar a R$ 90 ou mais. Isso em algumas localidades do país, já que para muitos o botijão já estava sendo vendido a mais de R$ 100 há vários meses.

O aumento anunciado pela Petrobras foi 5% no preço médio, que ocorre em meio à pandemia, ao desemprego recorde, a maior alta na inflação dos últimos 17 anos e o aumento da cesta básica, que em outubro já comprometia mais da metade de um salário mínimo. No acumulado do ano, o reajuste chega a 16,1%

A Petrobras tenta jogar a responsabilidade da alta do preço para as distribuidoras, como afirmou em nota: “As distribuidoras são as responsáveis pelo envase em diferentes tipos de botijão e, junto com as revendas, são responsáveis pelos preços ao consumidor final”, diz a nota.

Mas os revendedores, que veem esses aumentos constantes com preocupação, se posicionaram na semana passada contra mais esse reajuste e cobram da Petrobras que busque mecanismos para baratear o preço do gás de cozinha por ser um produto de primeira necessidade.

Em alguns estados, os distribuidores até já pensam em promover paralisações contra os aumentos constantes anunciados pela Petrobras.

Para o diretor do Sindicato dos Revendedores de Gás do Estado da Bahia (SinRevGás), Robério Souza, “o reajuste das distribuidoras ocorre todo ano e já era esperado. Entretanto, a Petrobras tem reajustado os preços praticamente todo mês”.

Robério Souza explica que “a Petrobras se atenta a duas variáveis importantes: a cotação do barril de petróleo e a cotação do dólar. Com as oscilações, a empresa tem imputado reajustes atrás de reajustes. Os impostos incidem sobre o produto, mas o que mais impacta são os aumentos”.

Para as entidades, a população mais pobre é a que mais sofre com o alto preço do produto. Os sindicalistas explicam que as revendedoras absorveram 25% do reajuste para manter o valor do gás mais acessível. Porém, as empresas não podem mais arcar com os aumentos sucessivos e o botijão deve encarecer.

Segundo Rosana Mello, diretora do SinRevGás, que participou de uma manifestação contra o reajuste promovida por revendedores em Salvador, na sexta-feira (6), “a revenda fez o que podia para não aumentar, mas eu já vou ter que aplicar o reajuste do produto na segunda. A ideia do protesto foi chamar a atenção da população pois esta também é uma batalha dela. O consumidor final arca com isso”, afirmou.

Rosana afirma que para os revendedores tem sido difícil se manter no setor: “Se todos os revendedores desistirem do negócio, a população vai ficar sem o fornecimento de gás. O negócio está ficando inviável. Um dos problemas causados por isso é a compra de gás na mão de vendedores clandestinos, o que não é seguro”, diz.

Para Robério, o preço mais caro já está afugentando os clientes. “O movimento de compra ficou mais forte com o começo do pico da pandemia ao passo que mais consumidores ficaram em casa, mas a procura pelo produto caiu em até 5% em setembro”.

Essa queda na compra do gás de cozinha já acontece há algum tempo e deve se agravar. Conforme dados da Pnad Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de maio de 2019, o percentual de famílias que voltaram a utilizar lenha e carvão no preparo dos alimentos cresceu e, na época, um quinto das famílias brasileiras já viviam nessa situação, embora no mesmo período o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha afirmado que o preço do gás de cozinha iria cair à metade, “dentro do plano do governo de fazer um choque de energia barata”. Como se vê, mais uma balela do governo Bolsonaro.