A advogada Stella Moris logo após seu casamento participa de ato pela libertação de Assange

O fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, se casou nesta quarta-feira (23) com Stella Moris, sua advogada e parceira de longa data, dentro da penitenciária de alta segurança de Belmarsh, em Londres, onde o jornalista está preso há quase três anos.

Apesar da repressão que só permitiu a presença de quatro pessoas na cerimônia, impedindo até fotógrafos, teve uma festa do lado de fora reunindo ativistas que clamaram por sua libertação, além de muita movimentação nas redes sociais.

Como criador e principal responsável pelo WikiLeaks, Assange encabeçou uma das mais importantes reportagens jornalísticas do início deste século, ao revelar centenas de milhares de arquivos do Pentágono descrevendo os crimes de guerra dos Estados Unidos e da sua aliança maligna, a Otan, no Afeganistão, no Iraque e no campo de concentração de Guantánamo.

Nesses documentos foram divulgados trocas de mensagens que levaram aos acontecimentos que tiveram lugar durante o governo W. Bush, que vão desde a violação da jurisprudência de Nuremberg e da Carta da ONU, até a legalização da tortura nos EUA e achincalhe dos direitos democráticos e da própria constituição norte-americana via os chamados ‘Atos Patrióticos’.

Por conta disso, Assange é acusado pelos EUA de “espionagem” e “pirataria digital”, sob ameaça de 175 anos em um cárcere da CIA, enquanto os criminosos de guerra de Washington e Londres denunciados por ele continuam sem nenhuma acusação, como é o caso dos dois pilotos de helicóptero Apache flagrados metralhando e matando civis em Bagdá, dois deles jornalistas da Reuters, registrados no vídeo vazado do Pentágono, o “Assassinato Colateral”, documento que sintetiza brutalmente os milhares e milhares de arquivos do Pentágono sobre a guerra.

Após o casamento, do lado de fora dos portões da prisão, Stella Moris disse: “Estou muito feliz e muito triste. Eu amo Julian com todo o meu coração e gostaria que ele estivesse aqui”.

O australiano está preso em Belmarsh desde 2019 e antes disso ficou abrigado na embaixada do Equador em Londres por sete anos.

Enquanto morava na embaixada, teve dois filhos com Stella, advogada que conheceu em 2011, quando ela começou a trabalhar em sua equipe jurídica. O relacionamento deles começou em 2015.

Para a ocasião, Moris usou um vestido de noiva de cetim lilás com um longo véu bordado com palavras como “valente”, “implacável” e “amor livre e duradouro”, criado pela famosa estilista britânica Vivienne Westwood, que fez campanha contra a extradição de Assange aos EUA.

Do lado de fora da cadeia, Moris cortou um bolo de casamento e fez um discurso para os apoiadores que lá se reuniram.

“Vocês sabem que o que estamos passando é cruel e desumano”, disse. “O amor que temos um pelo outro nos leva a esta situação e a qualquer outra que venha. Ele é a pessoa mais incrível do mundo. Ele é maravilhoso e deveria ser livre.”

O establishment norte-americano também odeia Assange por ter ajudado Edward Snowden, ex-técnico da CIA, responsável por ter divulgado a maior filtragem de documentos secretos da história da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), revelando que os EUA grampeavam o planeta inteiro e, ainda mais, que a CIA tinha uma ferramenta cibernética que a permitia cometer crimes e os atribuir a outros países.