"Poder encher a geladeira com dignidade", exige manifestante em Paris | Foto: Head Topics

“Macron, demissão”, exigiram perto do Palácio da Bolsa de Paris milhares de manifestantes do movimento “coletes amarelos”, que voltou às ruas da França, no sábado (12).

“Estamos aqui, estamos aqui”, gritavam outros. “A regressão social não se negocia, se combate”, dizia a faixa portada por manifestantes.

Os protestos começaram no fim de 2018 contra as reformas que causaram aumento no preço do combustível, aumento dos impostos para os aposentados e contra a condução da economia pelo governo de Emmanuel Macron. Os protestos, agora retomados, tinham dado uma pausa por conta da pandemia do coronavírus.

Um dos participantes pedia simplesmente “poder encher a geladeira dignamente”, outro tinha escrito em seu colete amarelo as palavras “solidariedade, igualdade e liberdade”.

“As vidas dos coletes amarelos importa”, lembrava à polícia o cartaz de uma manifestante, em referência à Black Lives Matter (A Vida dos Negros Importa), movimento nos Estados Unidos que pede para acabar com a violência policial da qual são vítimas, desproporcionadamente, os negros.

Além de Paris, várias capitais de províncias da França registraram protestos dos “coletes amarelos”. Jean-Luc Mélenchon e Fabien Roussel, lideranças progressistas do país, demonstraram apoio aos atos. Jérôme Rodrigues, militante na convocação dos protestos, pediu que as pessoas voltassem às ruas para denunciar as “injustiças sociais e fiscais” que não deixam de aumentar no país.

A aposentada Murielle, ativa participante, no sábado voltou a vestir seu colete amarelo para pedir um aumento das pensões. “Depois de 45 anos trabalhando, apenas recebo uma mixaria. Como pagar o aluguel e viver dignamente? Não é possível”, reclama, e desafia o presidente a viver um mês com o salário mínimo e pagar com isso todos os gastos.

O movimento teve início após o presidente Macron ter anunciado um “imposto ecológico” sobre o diesel, que todos usam. Um aumento de 23% em 12 meses. As exigências de corte nos impostos logo se estenderam à denúncia do congelamento nos salários e da redução nas aposentadorias. As centrais sindicais se somaram. A renúncia do presidente passou a ser exigência constante nas ruas da França.

Acuado com os protestos, Macron prometeu um pacote de medidas com o objetivo de cumprir algumas das exigências, como aumentar o salário mínimo e reduzir os impostos aos aposentados. Mas, as boas intensões ainda não resultaram em fatos para aliviar o arrocho sobre os franceses.

No sábado passado, aconteceram também manifestações em Bordeaux, Toulouse e Marselha, mesmo que em um contexto pouco favorável às concentrações pela forte circulação do coronavírus na França onde, no domingo (13), foram contabilizados mais de 400.000 casos desde o início da Covid-19 e 31.000 mortes, segundo a Universidade John Hopkins.

Na manifestação havia também novos ‘coletes amarelos’ como Matthieu, de 45 anos, que participou pela primeira vez em Paris, registrado na reportagem do jornal espanhol El Mundo. “Durante um ano e meio, como muitos que são favoráveis ao movimento, só fiquei olhando pela televisão, esperando que fossem conseguir algo, mas, de fato, se todos não atuarmos, não funciona”, explicou este funcionário da multinacional L’Oreal que agora está nas ruas para “destruir” Macron e sua “política neoliberal”.

Muitos dos manifestantes estavam com uma máscara amarela. Apesar da maioria das pessoas ter se manifestado pacificamente, alguns usaram roupas pretas e carregaram bandeiras de um movimento que se diz antifascista, com a presença de radicais chamados de “black blocks”, que cometeram alguns atos violentos. A polícia atirou gás lacrimogêneo e prendeu mais de 200 pessoas em Paris.

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