França expõe sua rejeição à política hostil dos EUA contra a China
“Os Estados Unidos querem enfrentar a China. A União Europeia quer envolver a China”, afirmou o ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, ao New York Times, durante a cúpula de ministros do G-20 em Washington de quarta-feira (13), levando o jornal nova-iorquino a registrar que é impossível “mascarar diferenças gritantes sobre a China e outras questões” entre os Estados Unidos e a França.
“Washington, acrescentou Le Maire, vê a China como uma ameaça e não “quer que a China se torne em alguns anos ou décadas a primeira superpotência do mundo”. Questionado se isso significava uma divergência entre a América e a Europa, o ministro francês achou oportuno responder que “pode ser, se não formos cautelosos”.
Le Maire acrescentou que a “questão-chave agora para a União Europeia” é ser “independente dos Estados Unidos, capaz de defender seus próprios interesses, sejam econômicos ou estratégicos”.
Tal independência, acrescentou, “significa ser capaz de construir mais capacidades de defesa, defender sua própria visão na luta contra as mudanças climáticas, defender seus próprios interesses econômicos, ter acesso a tecnologias-chave e não ser muito dependente das tecnologias dos Estados Unidos”.
Segundo Le Maire, para evitar um conflito EUA-UE, Washington deve concordar em “reconhecer a Europa como uma das três superpotências do mundo para o século 21”, juntamente com os Estados Unidos e a China. O jornal nova-iorquino também listou as demandas apresentadas por Paris a Washington por meio de Le Maire, entre elas, que o governo Biden acabe com as tarifas de aço e alumínio impostas por Trump.
Ainda segundo o NYT, a França quer “um maior compromisso americano com as ambições de defesa europeias independentes … bem como evidências do respeito americano pelas ambições estratégicas europeias na região Indo-Pacífico”.
Questões sobre as quais há poucas dúvidas sobre as intenções de Washington, mesmo após a substituição de Trump na Casa Branca por Joe Biden, como visto no Pacto Aukus, assinado pelas costas da França, e impondo a substituição do fornecimento de um estaleiro estatal francês à Austrália por estaleiros privados norte-americanos.
Outro terreno de disputa entre europeus e Washington foi o FMI, onde, esta semana, a diretora-gerente, a búlgara Kristalina Georgieva, foi confirmada no cargo, após manobra de Washington, que vinha rolando desde setembro, acusando-a de ter, em 2018, feito pressão por alterações, para “favorecer a China”, no relatório do Banco Mundial ‘Doing Business’.
O que foi negado peremptoriamente por Georgieva. Na terça-feira (12), o Conselho Executivo de 24 membros do FMI reiterou sua “confiança total” na diretora-gerente.
No ano passado, o FMI tornou-se ainda o foco de uma batalha entre Washington e a UE, que exigia do Fundo a liberação de Direitos Especiais de Saque para a África lidar com a pandemia, a que as autoridades norte-americanas se opunham. Com o apoio de Georgieva, a UE e os países africanos acabaram vencendo a oposição dos EUA.
Este mês, 15 estados africanos, incluindo Nigéria, Egito, Costa do Marfim, Senegal e a República Democrática do Congo, assinaram uma carta no jornal Jeune Afrique, com sede em Paris, endossando Georgieva contra Washington.
Chamando-a de “parceira inestimável”, eles escreveram que “Georgieva desempenhou um papel decisivo na emissão sem precedentes de Direitos Especiais de Saque (SDR) equivalentes a US$ 650 bilhões, fornecendo liquidez e reservas de caixa para muitos países em situação de necessidade. Ela lutou para promover o multilateralismo.”
Em paralelo à cúpula de ministros das Finanças do G-20, o presidente chinês Xi Jinping, em conferência virtual com Merkel, que está se despedindo depois de 16 anos como primeira-ministra alemã, agradeceu a ela por suas contribuições para promover as relações China-Alemanha e China-UE, acrescentando que a China não esquece velhos amigos e a porta sempre estará aberta para ela.
A China é o maior parceiro comercial da UE e a Alemanha é o maior exportador da UE para a China. Merkel também jogou um papel decisivo para a conclusão das negociações China-UE de um acordo de investimento.
A Merkel, o presidente Xi ponderou que a China e a Alemanha podem expandir a cooperação nas áreas de energia verde e economia digital, e instou as duas partes a verem as relações China-UE de uma perspectiva ampla, objetiva e abrangente e a lidarem com as diferenças de forma racional, pacífica e construtiva maneiras.
“Esperamos que a UE defenda a sua independência, proteja verdadeiramente os seus próprios interesses e a solidariedade da comunidade internacional e trabalhe com a China e outros países para resolver o ‘desafio do século’ – paz e desenvolvimento”, disse Xi.
Merkel disse que sempre acredita que a UE deve desenvolver suas relações com a China de forma independente e que os dois lados podem fortalecer o diálogo e o intercâmbio sobre questões sobre as quais têm diferenças. “Acredito que as relações UE-China continuarão a crescer, apesar de alguns fatores complicados”, sublinhou.